terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Superstição de ano novo

Final de ano chegando e você faz o quê? Envia um monte de mensagens desejando um feliz natal e um otimo 2011 a todos os seus amigos, certo? Na França, não. Todas as mensagens que recebemos de franceses até agora foram para desejar um feliz natal e ponto. Ja comentei aqui no blog que eles não desejam "feliz ano novo" antes do novo ano realmente começar. Pura superstição. Nessas horas que eu vejo como nos brasileiros somos preguiçosos praticos. Dois coelhos e uma cajadada so: "Um feliz natal para você e para toda a sua familia e que 2011 seja um ano repleto de paz e prosperidade!". Assim nos livramos da trabalheira de felicitar cada um dos nossos queridos duas vezes no intervalo de uma semana. Mais logico, não?

Parece que não. Um amigo francês me ligou no natal e eu, sabendo que não o veria até o ano que vem, ja engatei um "feliz natal pra você também e um 2011 maravilhoso!", mas ele ficou p. da vida! "Ta de sacanagem né, Mirelle? Não se deseja bonne année antes do dia 1° de janeiro, da azar!". Ai, gente, eu ri. Na verdade eu ja sabia da paranoia deles em relação a isso porque o Léo tinha me contado que no escritorio onde ele trabalha é sempre a mesma coisa. O final do ano é um prato cheio para os franceses reclamarem dos costumes alheios. Os funcionarios das fabricas do Brasil e de Portugal mandam os desejos de boas festas e feliz ano novo em um so email e então os franceses bufam: "Onde ja se viu isso? Desejar feliz ano novo se o ano ainda nem acabou?!". Sério, eles bufam! Mas diz se não é automatico? O 'feliz ano novo' vem naturalmente colado ao 'feliz natal', como se fosse uma expressão so. Esse meu amigo disse que nem mesmo se você encontrar alguém às 20h do dia 31 de dezembro você deve desejar feliz ano novo, no maximo um "bom restinho de fim de ano", mas "bonne année" mesmo so a partir do dia 1°!

Se os desejos de meilleurs vœux (melhores votos) têm data para começar, também têm para acabar. Os franceses costumam cumprimentar os amigos até o final de janeiro. Se encontrar um colega la pelo dia 28, ele vai dizer: "Como ainda não nos vimos esse ano, gostaria de te desejar um feliz ano novo". No começo desse ano fiquei com cara de paisagem quando um retardatario gentil cavalheiro veio me desejar os meilleurs vœux pertinho do carnaval começar. Nessas horas os estrangeiros passam por sem educação porque eu, por exemplo, so me lembro de cumprimentar as pessoas até ali pelo dia 5, depois disso a vida segue e ja nem me dou conta de que o ano virou.

Mas ja que o blog não é feito para francês ler, fica aqui o meu desejo de um SUPER 2011 para todos vocês que me acompanharam em 2010!!! Feliz ano novo, bonne année!

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O que os franceses comem no natal?

Natal é natal. Aqui, ai, não importa. Existindo Papai Noel, é sempre a mesma coisa. Os franceses também decoram as suas casas, também montam a arvore e claro, também trocam presentes. Mas existem diferenças. Por essas bandas o povo não conhece, por exemplo, o tal do amigo secreto. Da um certo trabalho fazê-los entender a logica da coisa, mas, passado o susto, a maioria se interessa pela ideia. As tradições francesas também têm as suas peculiaridades, como o Père Fouettard, que graças a Deus nunca deu as caras no Brasil. Digo isso porque o dito cujo é uma versão meio satânica do Papai Noel, ele visita as crianças que não se comportam bem durante o ano. Se ja é dificil ser chantageado na base do "obedeça, senão o Papai Noel não traz presente", imagine o que passam as crianças francesas com o "se você continuar assim não é o Père Noël quem vem te visitar, mas sim o Père Fouettard", que traduzindo, seria algo como 'papai chicotadas'. Ui, medo! Pior que isso so o fato do tal homem do chicote ser negro, enquanto o bom velhinho é branco.


Mas falemos de comida. Se no Brasil a ceia é a parte mais importante da noite de natal, imagina aqui na França, onde comida = religião?! O principio é o mesmo: se reunir com as pessoas queridas para comer muito e, principalmente, comer bem. Com a diferença de que o jantar deles dura em média 4 ou 5 horas, enquanto no Brasil não ficamos sentados à mesa mais que 2 horas. Mas, o que comem afinal esses franceses? Eles abrem os trabalhos servindo huîtres (ostras), foie gras (figado gordo de ganso ou de pato) e escargot (caramujo) como entrada.


As personagens principais da ceia francesa geralmente são as aves, como a dinde (peru) ou o chapon (galo castrado para ficar mais gordo) recheados com marron (uma espécie chique de castanha) e acompanhados de batatas. O problema é a dificuldade de encontrar uma ave que não esteja praticamente viva. Meus amigos franceses dizem que nos brasileiros é que não sabemos comer bem porque preferimos produtos industrializados. Errados eles não estão, mas a Sadia me deixou tão mal acostumada, que eu prefiro  mesmo praticidade a comprar um peru que vem com cabeça e pena e ter que limpa-lo.


Além dos animais de criação, os franceses também comem os gibiers (animais selvagens que eles caçam para consumo proprio ou para vender), como o chevreuil (veado), o perdrix (perdiz) e o sanglier (javali). Essas são carnes exoticas, caras e, por isso, servidas apenas em eventos especiais, como o Natal.


Para encerrar a orgia gastronômica, os franceses comem muitos queijos e depois, as sobremesas. Cada familia tem uma torta preferida, mas a Büche de Noël é, sem duvidas, o doce mais tradicional. Além dos vinhos, eles também bebem muito champagne. Aquela variedade enorme de frutas que servimos na noite de Natal esta longe de existir por aqui.

Aqui em casa a ceia vai ser à brasileira, com uma pitadinha de tradição francesa. Não abro mão do nosso arroz especial, do salpicão nem da farofa, mas também não dispenso a büche e o Léo adora o foie gras. Adapta daqui, mistura de la e, pronto, acaba dando certo. Não é assim com tudo na vida? 

Joyeux Noël para todos vocês, leitores queridos, que trouxeram tantas alegrias para o meu ano de 2010! Muita paz e divirtam-se com os seus!

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Retrospectiva 2010

E dai que eu gosto de retrospectivas. Sério, era o meu programa preferido no pacotão de fim de ano da Globo. E para provar o meu amor pela edição de historias longas, copiei a ideia genial da Glenda de fazer uma retrospectiva fotografica e listei os fatos mais especiais da minha vida em 2010.

Janeiro: Sabe aquelas pessoas que diante de um evento inédito se comportam como idiotas? Voilà, fiquei assim no dia 4, quando vi a neve pela primeira vez.


Fevereiro: Viajamos até Barcelona para assistir a um jogo no Camp Nou, o maior estadio de futebol da Europa. Essa foto foi parar até em um livro sobre mulheres apaixonadas por futebol. Tem como não ser, quando o Messi esta em campo e o Léo fora dele?


Março: Nos jogamos na aventura de descobrir os cantinhos de Marrakech, no Marrocos. A viagem foi bacana, mas me incomoda o excesso de atenção dada ao meu beijinho no camêlo, quando engraçado mesmo é o Léo achando que o bicho é carro. 


Abril: O casamento com o primeiro namorado, 14 anos depois... em Paris! 


Maio: O Metallica pôs fim à pasmaceira que reina absoluta em Lyon aos domingos, fazendo delirar os fãs idosos de plantão. Nosso primeiro grande show de 2010.


Junho: Meus ultimos dias com as crianças francesas que fizeram da minha vida um inferno. Com eles eu brinquei, me sujei, pratiquei o meu francês e desenvolvi a minha paciência. Mas a maior lição que eles me ensinaram é que, as vezes, o inferno é mais divertido que o céu.


Julho: Férias no Brasil! Aproveitei as 3 semanas na terrinha para rever os amigos, curtir minha mãe e meu sobrinho e, principalmente, para engordar 4kg comendo todas as porcarias coisas gostosas que não existem na França, como o pastel de pedreiro da feira do Pacaembu.


Agosto: Na verdade o Lucca chegou em julho, antes da hora. Como estavamos no Brasil, so pudemos conhecer nosso afilhadinho no começo de agosto. O petit Lucca ja esta grandão, lindo e os pais garantem que mesmo sendo francês, ele toma banho todos os dias.


Setembro: Ai, sei la. Lembra da historia do fato inédito + gente idiota? Pois é, de novo. So que agora, no dia mais importante da minha vida.


Outubro: Fomos até Roma para ver o show do U2. Roma é uma cidade muito especial pra gente, ja que foi na Fontana di Trevi que o Léo me pediu em casamento. O show foi incrivel, mas marcante mesmo foi a Ponte Milvio,onde trancamos o nosso amor.


Novembro: Nos conhecemos em setembro e foi amor à primeira vista. Mas foi a partir do começo de novembro que nos tornamos realmente inseparaveis. Eu e eles, os meus amigos estrangeiros do curso de francês.


Dezembro: O ano ainda não acabou e sei que tem muita coisa boa vindo por ai, mas até aqui, a  minha primeira Fête des Lumières foi o evento mais marcante do mês. Tudo tão lindo e especial que não podia ser diferente.


E se você não consegue listar pelo menos um fato incrivel de cada mês do ano que passou, é porque esta fazendo algo de errado com a sua vida.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Como decorar a mesa para o natal

Eita blogueira chegada em uma fotinha, hein? Mas a época pede. Como prometido, vim mostrar a decoração da minha mesa para a ceia de natal. Você ja sabe como vai montar a sua? Ainda da tempo de fuçar nas coisas guardadas ou correr para comprar o que falta. Allez, courage! A comida fica até mais gostosa quando servida em uma mesa bonita, não?
 




sábado, 11 de dezembro de 2010

Fête des Lumières

A Festa das Luzes é a festa mais famosa de Lyon, é quando a cidade - que ja é linda - fica ainda mais especial. Eu sou suspeita para falar de Lyon, faz mais de um ano que moro aqui e ainda me surpreendo com a beleza das ruas, prédios, parques e pontes por onde passo. Quando penso que é na primavera que a cidade fica mais bonita, vem o outono com suas cores envelhecidas para me mostrar que eu estava errada. E, depois, o inverno, cobrindo de branco todos os meus lugares preferidos. Porém, nenhuma noite é tão colorida e iluminada quanto as noites festivas da Fête des Lumières.


Conta a historia que na idade média, quando uma peste se espalhou pelo sul da França, os catolicos lioneses rezaram para que Nossa Senhora protegesse Lyon da epidemia. Milagrosamente ou não, Lyon foi poupada e pouca gente morreu. Então, todos os anos os religiosos faziam uma peregrinação até a Basilica Notre-Dame de Fourvière no dia 8 de setembro, dia do nascimento de Maria, para agradecer a Santa. No dia 8 de setembro de 1852 seria inaugurada uma nova estatua em homenagem à Virgem, mas choveu tanto naquele dia que a cidade ficou inundada e a festa de inauguração foi adiada para o dia 8 de dezembro, dia de Nossa Senhora Imaculada Conceição. Começava ai, a tradição de acender pequenas velas e coloca-las nas janelas no dia 8 de dezembro.
 

Hoje em dia são vendidos em Lyon cerca de 8 milhões de lumignons (vidrinhos recheados de velas coloridas) para serem acesos no dia 8, o melhor dia da festa. Eh lindo andar pela cidade e ver as varandas e sacadas iluminadas.























Espetaculos de luz feitos em cenarios tradicionais (como igrejas e prédios publicos) ou inusitados (como fontes e arvores) arrancam aplausos e suspiros de todos que assistem às apresentações. As noites são bem divertidas mesmo, vê-se de tudo: muitas cores, muita musica, muita gente. E quando eu digo muita gente, quero dizer muita mesmo, pra valer! São mais de 3 milhões de pessoas que passam por aqui durante os quatro dias de festa. Os hotéis ficam lotados, de tal maneira que para conseguir encontrar um quarto é preciso se programar com certa antecedência.
 

O vinho quente e as luzes coloridas são os responsaveis por tirar os franceses de casa nas noites geladas de dezembro. Os visitantes dão de ombros para as temperaturas negativas e saem caminhando pela cidade para contemplar os espaços publicos decorados por varios artistas.
 

Dizem que a nossa primeira Festa das Luzes é inesquecivel, pois tenho que reconhecer que a lenda é veridica. Fiquei emocionada com tudo o que vi e especialmente encantada com o Théâtre des Célestins. A projeção nos fazia acreditar que o prédio estava se quebrando, se contorcendo. Nunca imaginei que seria possivel dar tanto movimento a um teatro. O video que o Léo fez da apresentação esta incrivel!
 

Esta é a festa mais importante da cidade e uma das mais bonitas da França. Uma escapada certeira para quem estiver em Paris nesta época do ano.



quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A greve da musica

Que francês é reclamão, todo mundo ja sabe. Ha quem critique tanta rabugice, mas ha também quem admire o jeito inconformado de ser desse povo. Graças a tanto bate-boca e à cara feia (que so eles sabem fazer) é que a população consegue ter direito a tantos beneficios. O jeito tradicional de mostrar descontentamento com algo, você ja sabe, é fazendo greve. Francês faz greve dia sim e no outro também. Faz parte do nosso dia a dia mudar o trajeto ou algum plano porque os motoristas de ônibus e condutores de trem estão em greve. Ou os carteiros, ou os professores, ou os cabeleireiros. Perai, cabeleireiros? Sim, eles também fazem greve.

Logo de manhã li a noticia no jornal: "Cabeleireiros farão hoje a 'greve do som' para protestar contra o aumento da taxa paga pelo direito de escutar musicas". Achei tão inusitado, que custei a acreditar. No caminho de volta para casa, entrei em dois salões com a desculpa de estar interessada nos preços. Queria mesmo era ver se estava rolando uma grevezinha basica por ali. E não é que estava? Nada de som ambiente, o silêncio so era interrompido pelo barulho dos secadores. A convocação parece ter sido levada a sério, estima-se que quase todos os 60 mil salões que existem na França abraçaram a causa, deixando desligados os radios que alegram a vida das madames que se emperequetam por ali.

O motivo de tanta revolta é um reajuste na taxa de direitos autorais que os salões são obrigados a pagar pelas musicas que eles tocam para os seus clientes, seja de radio ou de CD. O aumento pode chegar a 200% em alguns casos. Um salão que tenha 5 funcionarios por exemplo, pagou em 2009, 24€ à SACEM (empresa que recolhe os direitos de autor na França e redistribui aos criadores - franceses ou estrangeiros). Em 2010 pagou 60€ e em 2011 devera pagar mais de 160€! Mas não são so os salões de cabeleireiro que são obrigados a pagar a tal taxa, qualquer estabelecimento comercial onde exista musica também precisa contribuir. Isso vale para as salas de espera de dentistas, lojas, academias, boates, etc.

A fiscalização é um espetaculo a parte! Academias com até 80 inscritos pagam 99€ por ano. Se tiver até 160, a taxa é de 199€ e acima disso, paga-se 399€ por ano. Trezentos e noventa e nove euros por ano para encher a paciência dos alunos com aquelas musicas ruins? Fala sério! Sou da politica de que cada um deve malhar ouvindo o que gosta, aproveitando bem do seu proprio Ipod, pois se tem uma coisa que os franceses não dominam é arte de montar uma boa playlist. Mas deixemos de lado o mau gosto musical dos franceses e concentremo-nos na fiscalização. Existem uns tiozinhos que vão, por exemplo, em um baile e gravam trechos de cada musica tocada para poder identifica-las mais tarde. Que trabalhinho do cão! Todo mundo la, se divertindo, e o infeliz preocupado com as pilhas que podem acabar antes da hora.

Por essas e outras é que eu gosto tanto de morar na França, onde mais a 'greve da musica' dos cabeleireiros ganharia tanto destaque nas capas dos jornais?

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Natal - decoração da arvore

Eu adoro o natal! Acho que é a segunda vez na vida que falo assim, de boca tão cheia, que eu A-DO-RO o natal! Talvez quando eu era muito criança também gostasse, não me lembro. Até aonde vai a minha memoria, sempre tive preguiça das musicas irritantes, da familia que vinha, dos presentes toscos que eu ganhava deles e do arroz com passas que minha mãe me obrigava a comer. Concluindo, a noite de 24 de dezembro não era apenas uma noite como todas as outras, era pior. Mas, ironicamente, a melhor lembrança que tenho da minha familia existe justamente por causa do natal.

Naquela época não era muito comum comprar arvores de plastico e as naturais custavam os olhos da cara. Como nunca tinhamos dinheiro, improvisavamos. Meu irmão, meus pais e eu entravamos mato adentro em busca da arvore perfeita. Não, claro que não cortavamos pinheiros alheios para levar para casa. Procuravamos por arvores mortas, com galhos fortes o suficiente para segurar todas as bolinhas de natal. Chegando em casa, pintavamos os galhos com spray prateado e depois envolviamos parte deles com algodão. A cereja do bolo eram as bolinhas coloridas que sobravam do natal anterior. (Sim jovens, ja houve um tempo onde as bolinhas não eram feitas de plastico e por isso, se quebravam).

Para manter a velha arvore em pé, a enfiavamos em um latão vazio de tinta embrulhado com papel de presente. A falta de luxo era justamente o que obrigava minha mãe a ser criativa. Ela precisava inventar uma maneira de, com pouco dinheiro, tornar magico o natal dos seus filhos. Procurar e montar a arvore era de longe a parte mais legal do natal la de casa. Era com a mão toda prateada que eu esquecia que nos outros 364 dias do ano a minha familia era como outra qualquer, cheia de problemas.

Mesmo sem mato ou mãe por perto, a parte da arvore continua sendo a minha favorita, por isso fiz questão de caprichar esse ano! Deixamos de lado aquela historia de comprar pinheiros reciclaveis e investimos em algo mais duradouro, de plastico mesmo. Também parei de controlar o meu vicio em bolinhas e sai comprando varias por ai. Juntei tudo e pronto, achei lindo! Ainda não sei como vou decorar a mesa da ceia, mas assim que decidir, eu mostro para vocês. No ano passado eramos so quatro e fiz assim. Mão na massa pessoal, inspirem-se! Essa desculpa de não gostar de natal porque é uma data comercial demais so serve para quem não tem nada de gostoso a oferecer. Se minha mãe, por acreditar nisso ou por não ter muito dinheiro, desistisse de criar o que não existe, eu não estaria tão feliz como estou agora, olhando para a arvore mais linda que eu ja tive na vida.















































terça-feira, 30 de novembro de 2010

Oi e tchau


Eu ja tinha contado que nesse ano o inverno passou a perna no outono, né? Pois então era de se esperar que a neve também desse as caras assim, fora de hora mesmo. Desde 1946 não se registram na França temperaturas tão baixas no mês de novembro. Em 1925 os termômetros marcaram -9,4C° em Lyon, recorde que deve ser quebrado ainda essa semana, se a meteorologia acertar os -10°C previstos para sexta-feira. Até contei no twitter (segue ai! @13anosdepois) que nevou na semana passada, quase meio de novembro! Mas eram floquinhos acanhados, que derretiam assim que chegavam ao chão. Hoje foi diferente. Cheguei no curso toda empacotada (com luvas, bota, cachecol, meu casaco mais quentinho e um tesão enorme para ter aulas de ciências politicas) quando a neve estava começando a cair. 2h depois, quando terminou a aula, ja estava tudo branquinho!

Ja ja começam a aparecer os problemas tipicos dessa época do ano: escolas e estradas fechadas, vôos cancelados, ônibus parados, gente morrendo por causa do frio... A grossa camada de neve que ja se vê pelas ruas anuncia que não vem coisa boa por ai. As previsões nos jornais não são nada otimistas e o encantamento da população ja começa a ceder lugar à preocupação. Pessoalmente, fico mais preocupada quando o Léo começa a chegar tarde por causa do trânsito caotico e dos caminhões que rodam lentamente nas estradas jogando sal para derreter o gelo. Meu marido insiste em não colocar pneus de neve no carro e eu fico aqui, de mãos atadas torcendo para ele chegar inteiro em casa - em condições de me preparar o jantar, claro.

Mas nem tudo são espinhos. Os primeiros dias de neve são sempre muito esperados e comemorados, as pessoas na rua ficam mais felizes. Brincam com a neve, fazem guerrinhas, tentam abocanhar os floquinhos com a ponta da lingua... Juro que até francês rindo à toa eu cheguei a ver hoje à tarde! Da mesma maneira que ria a sueca, quando saimos da sala e demos de cara com o patio da universidade coberto de gelo. Perguntei se ela ainda se alegrava com a chegada da neve mesmo depois de tantos invernos gelados na Europa (sabendo que na terra dela 'gelado' tem um significado muito mais sofrido que na França, a pergunta me pareceu pertinente). "Claro que sim!", disse ela, "mas so nos primeiros dois dias". Pelo visto, esse pensamento é dominante por aqui. Em se tratando de neve, a alegria dura para os europeus o mesmo tempo que o ditado diz durar para os pobres: pouco.

A vista da minha janela



Uma atividade simples, como pegar o carro para voltar para casa, pode se tornar extremamente complicada quando neva, da uma olhada:

sábado, 27 de novembro de 2010

Ri♥

Acontece sempre a mesma coisa, basta falar que sou brasileira para ver um sorriso se abrir no rosto do meu interlocutor. "Que legal, você dança samba? Me faz uma caipirinha? No meu pais tem um jogador brasileiro que faz muito sucesso! Pelé! Ianomâmis! Oscar Niemeyer! Aleijadinho! Garota de Ipanema!". De maneiras muito diferentes (e até surpreendentes), todos fazem questão de mostrar que conhecem um pedacinho do meu pais.

O Rio de Janeiro é unanimidade. Quem nunca foi, tem vontade de ir. Quem ja esteve por la, não esquece as coisas boas que viveu. Uma vez, em um restaurante aqui em Lyon, um homem que jantava com a sua filha na mesa ao lado escutou o nosso sotaque e perguntou de onde éramos. Dissemos que do Brasil e a reação foi imediata: "Mas o que vocês fazem na França? O pais de vocês é o pais do futuro! Eu faria de tudo para morar la. Olha minha filha, você precisa conhecer o Brasil, viu? O Rio de Janeiro é a cidade mais incrivel do mundo!". Como negar?
Ontem fui jantar na casa de uns amigos, ao me perceberem mais calada que o normal, perguntaram o que tinha acontecido. Narrei, com lagrimas nos olhos, os ultimos episodios do Rio. Seus olhos se arregalavam à medida que eu ia falando sobre metralhadoras, mortes, carros queimados, invasões, BOPE... até que um deles falou: "Ahhh você não esta falando sério, ta brincando com a gente! Eu ja vi tudo isso em um filme brasileiro!". Quisera eu, meu amigo, que tudo não passasse da minha mente criando um novo roteiro para o 'Tropa de elite 3'.

Como explicar para franceses, chineses, arabes ou ingleses que a cidade que vai receber as Olimpiadas e a Copa do Mundo em alguns anos é assim, tão bagunçada? Como explicar que o povo mais bacana do mundo vive com medo, acuado em suas casas? Como explicar que toda essa merda existe não so por causa do governo podre que o eleitor brasileiro, comprado e ignorante, coloca no poder, mas também por causa de gente (como muitos dos que estavam ali me ouvindo) que sustenta o trafico com o baseadinho do fim de semana? Eu não sei. Tentei encontrar palavras no meu vocabulario francês que explicassem tudo isso, até perceber que elas não existem. Não existem em francês, não existem em inglês e também não existem em português. Em lingua nenhuma é possivel justificar ou fazer entender aquilo que simplesmente não tem explicação. Esqueçam as palavras, precisamos é de um ponto final.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

O estilo francês de festejar

Eu devo ser a pessoa mais caseira que eu conheço. Troco qualquer balada pesada por um encontro tranquilo com os amigos na minha casa. Sempre fui assim, talvez por isso me identifique tanto com o jeito calmo de festejar dos franceses. Sim, porque dizer que francês entende de festa é forçar um pouco a amizade. Em uma soirée com pessoas de diferentes nacionalidades, não é dificil saber quem é francês - basta procurar o mais quieto do grupo. Não tendo olhos puxados e segurando uma taça de vinho na mão, bingo: é francês!

Soirée = festa, e existem diferentes tipos de soirées na França. Durante o inverno é mais comum que a bagunça seja feita na casa de alguém. Jovens universitarios costumam abrir seus apartamentos para desconhecidos, que vão trazer garrafas de vinho para acompanhar as batatinhas oferecidas pelos anfitriões. Tudo tão simples quanto animado. Musica alta, luz baixa, gente bêbada dormindo no sofa - uma diversão so. Existe também o tipo de soirée que se faz na minha casa, onde o cenario é outro: MPB ao fundo, luzes fortes o suficiente para enxergar o que se come, mesa farta, taças no lugar dos copos plasticos... aquela frescura toda de gente velha e chata que ja passou da idade de se divertir apostando quem vai vomitar primeiro no chão.




















Essas festinhas estudantis começam cedo, por volta das 20h, ja que à meia-noite o metrô para. Os mais fortes que decidem ficar, ou vão embora de vélo'v ou ficam até às 5h, quando o metrô volta a funcionar. Também é por volta da meia-noite que começam as reclamações dos vizinhos, principalmente se você não for elegante o suficiente para deixar um mot d'excuse no elevador. Francês é tão chique que tem esse habito de se desculpar com antecedência pelas festas que, provavelmente, vão incomodar quem mora ao lado. Um jeitinho simpatico de fazer a politica da boa vizinhança. Eu acho o maximo essa cara de pau de se indispor com os vizinhos assim, dias antes da bagunça começar. Dessa forma, sobra tempo para o cidadão decidir se arruma um lugar tranquilo para passar a noite ou se prefere se juntar à festança, ja que a boa educação sugere também que todos do prédio sejam convidados: "Vou dar uma festa na minha casa no proximo sabado à noite, peço desculpas antecipadamente pelo barulho. Você é bem-vindo para tomar uma com a gente. Assinado: fulano de tal, do apartamento X".

No Brasil eu não tinha esse habito de fazer festinhas na minha casa, so em aniversarios ou para jantar com alguns poucos amigos de cada vez. Percebo que aqui na França os jovens valorizam mais o tempo que se passa entre amigos do que o tempo que se passa sozinho na balada, à procura de conhecer gente nova. Não que francês não goste de balada, gosta, mas em geral, eles preferem aproveitar as noites com pessoas que eles ja conhecem, inclusive nas boates. Talvez por isso se note facilmente que os homens franceses são mais "tranquilos" que os brasileiros. Nunca tive problemas ao sair sem o Léo. Quando saio so com as meninas, ninguém nos agarra pelo braço nem se senta na nossa mesa sem ser convidado. Os homens franceses não costumam nem mesmo puxar papo com desconhecidas. Claro que isso não é de todo bom, minhas amigas solteiras se incomodam um pouco com essa "lerdeza" dos franceses. Mas para mim, que sou casada, é delicioso não ter esse tipo de inconveniente quando deixo o maridão de molho em casa.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Queijos franceses - Mont d'Or

Diz a lenda que francês tem 365 tipos de queijos, um para cada dia do ano. Ou seja, não faltam opções para substituir o meu preferido: o queijo minas, que eles não fazem. No café da manhã, o Léo come fatias de camembert com pão, enquanto eu prefiro o tradicional queijo quente com mozzarella mesmo. Nas saladas usamos o emmenthal e nas sobremesas, o saint marcellin. Toda vez que rola uma soirée em casa, o Léo corre para o supermercado e enche a mesa de comté, tomme de Savoie e de buche de chèvre, ideais para serem servidos como aperitivo.

Cada região da França produz tipos especificos de queijos: o brie de Melun é feito na região parisiense, na Corsega se produz o niolo e o roquefort vem do Massivo Central, por exemplo. São dezenas de queijos de vaca, de ovelha e de cabra para agradar todo tipo de paladar. Dificil é escolher entre eles, dai acabamos comprando sempre os mesmos aqui pra casa. Mas dia desses, a Dé também falou sobre queijos no blog dela e comentou sobre o mont d'or, um queijo fabricado no Jura (uma região que faz divisa com a Suiça e a Alemanha), que ela achou delicioso. Fiquei curiosa e prometi experimentar. Convidei nossos compadres para se aventurarem no test-drive com a gente e fiz como a Dé ensinou: levei a caixinha ao forno e, ja derretido, comemos o queijo a colheradas com batatas e charcuteries (frios como salames, presuntos, etc.). Foi uma surpresa agradavel, porque ele é realmente muito gostoso. O unico problema é que ele fede na geladeira. Tipo, muito!



Dizem, alias, que casa de francês fede não por falta de limpeza, mas por causa dos queijos que ficam na geladeira. Eh bem possivel. O mont d'or ficou 3 dias na minha e deixou a casa toda com cheiro de comida estragada. Ele pertence ao grupo dos queijos moles de crosta dura, que são os mais fortes (no gosto e no cheiro) e os preferidos dos franceses. No começo eu estranhava quando algum amigo abria a geladeira e o cheiro forte tomava conta do ambiente. Se tiver oportunidade, faça o teste! Abra a geladeira de um francês e veja se você não vai encontrar um tipo de queijo la dentro, no minimo! A paixão é tamanha que eles so se sentem vivos se tiver (além de pão e agua) queijos servidos em todas as suas refeições - do mais informal piquenique ao mais requintado jantar, como bem escreveu Ricardo Corrêa Coelho no livro "Os Franceses", que o blog esta sorteando.





Atualizando: Quem ganhou o livro "Os franceses", de Ricardo Corrêa Coelho, foi a Raissa Ribeiro, de Natal - RN. Parabéns Raissa! O livro é uma delicia, tenho certeza que você vai gostar. A todos os outros que participaram do sorteio, obrigada!

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