quarta-feira, 31 de março de 2010

Sobre bolos, bombons e alianças

A professora chegou na sala de aula com uma caixa de bombons para os alunos, era aniversario dela. Me lembrei do ultimo aniversario do Léo, quando ele esqueceu de comprar um mimo para seus colegas de trabalho e saiu de ultima hora em busca de tortas. Estranhei, ele faz aniversario e quem ganha são os outros? Parece que levar doces aos amigos (ou alunos) em ocasiões especiais como o proprio aniversario ou o nascimento de um filho é uma tradição, muitas vezes, quase que obrigatoria na França. No caso do Léo ainda entendo a trabalheira, todo mundo no escritorio faz bolos gostosos para dividir e ele é sempre o primeiro a surrupiar o doce alheio, portanto, ficaria muito feio ele não levar nada. Mas a minha professora? Por quê? Se ela não chegasse contente distribuindo aqueles chocolates, ninguém saberia que era aniversario dela. Duvido que bacana como é, ela precise das felicitações dos alunos estrangeiros que, coitados, mal sabemos dar os parabéns do jeito certo. 

Ainda sobre costumes diferentes, essa semana aprendi algumas coisas sobre o casamento e suas tradições por aqui. Apenas 50% dos casais optam por se casar na igreja, a outra metade acredita que so o casamento civil ja esta passando de bom. Como tantas mulheres podem não querer passar pelo ritual completo de subir ao altar? Até tenho uma amiga ou outra que pensa assim, mas metade da população? A verdade é que o casamento na França não tem o mesmo peso que no Brasil, aqui a celebração acontece mais tarde, perto dos 30 anos. Os jovens preferem morar com seus companheiros antes para ver o que vai dar. Isso faz parte de uma cultura que não existe no Brasil, a de deixar a casa dos pais muito cedo. O francês vai morar sozinho com 18 anos em média e não é nada comum ver pessoas maiores de idade desfrutando de mordomias como a comidinha da mamãe e a roupa lavada (para eles isso é meio cafona inclusive). Enquanto no Brasil, as meninas costumam sair da casa dos pais direto para a do marido. Quanta coisa deixamos de experimentar no meio do caminho, não?

O tempo de validade de um casamento aqui também é menor, 4 anos em média e um terço deles não dura 'até que a morte nos separe'. Em 35% dos casos, a decisão de se divorciar parte da mulher. Enquanto o casamento vai perdendo forças, o PACS conquista espaço na vida dos franceses. O Pacte Civil de Solidarité foi criado em 1999 para facilitar a vida dos casais que ja moravam juntos mas, que por um motivo ou outro, não queriam se casar. Principalmente os homossexuais, que não podiam. Ainda não podem, ja que o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo não é permitido na França, mas o PACS assegura que as duas partes tenham quase todos os mesmos direitos que duas pessoas casadas: direito à herança em caso de morte, de ficar em solo francês (se um deles for estrangeiro) e ao seguro de saude do companheiro, por exemplo. O programa é um sucesso porque é pratico. O casal assina um termo (um contrato mesmo) dizendo que vive junto e em caso de separação, é so anular o documento. Rapido e simples, ao contrario dos divorcios caros e demorados.

 

















O bolo tradicional do casamento francês se chama 'pièce montée' e é bem diferente do nosso. Não é exatamente um bolo, mas sim uma porção de bolinhos recheados tipo as "carolinas" das padarias brasileiras. Cada convidado pega uma. 

segunda-feira, 29 de março de 2010

Vélo'v

Morar longe de casa é como andar todos os dias de montanha-russa, os sentimentos ficam bagunçados. Tem dias que da vontade de jogar tudo para o alto e voltar correndo. Em outros, a ideia de cruzar definitivamente o oceano parece suicidio. Uma confusão so. Quando penso em arrumar as malas, lembro como a vida aqui é mais tranquila e vou ficando.

Não estou falando so de saude e educação gratuitas, de segurança, nem da vida cultural agitada que Lyon oferece. Falo de pequenas coisas, que no dia a dia facilitam muito a vida da gente. Por exemplo, as Vélo'vs, bicicletas que transportam os franceses de um lado para o outro. O nome é uma mistura de bicicleta em francês (vélo) com amor em inglês (love) e o resultado não poderia ser melhor: redução do numero de automoveis, indices menores de poluição e até melhoria na saude da população.

Lyon trouxe a idéia super bacana para a França. São quatro mil bicicletas à disposição daqueles que, como eu, precisam usar o transporte publico para se locomover. Pois é, assim como ônibus e metrô, a vélo'v é um transporte publico. Eu uso, tu usas, ele usa, nos usamos, vos usais, eles usam.

Existem mais de 340 pontos como o da foto acima espalhados pela cidade. Para usar uma das bicicletas, basta fazer uma carteirinha e deixar um "cheque-calção" de 150€, que sera descontado apenas se as bicicletas não forem devolvidas. A primeira hora é gratis, depois disso o condutor paga pelo uso. Mas quando eu e o Léo pegamos as bicicletas para passear nos finais de semana, usamos um truque para não gastar um centavo: trocamos as bicicletas em alguma estação antes de completar a primeira hora. Assim, podemos andar mais 1h antes de fazer uma nova troca. Eh também o que faz a maioria da população, que esvazia os pontos de retirada nos horarios de pico. Eh muito comum ver um cara engravatado com sua pasta na cestinha da bicicleta indo trabalhar às 8h da manhã. Os turistas não precisam fazer a carteirinha e podem retirar as bicicletas se tiverem um cartão de crédito internacional. Parece complicado, mas é super simples.

O esquema é levado tão a sério que todas as avenidas movimentadas da cidade possuem faixas exclusivas para as bicicletas. Existem até codigos de conduta e leis que deixam a pratica mais segura: Não é permitido carregar outra pessoa nem falar ao telefone com a bicicleta em movimento, é proibido ultrapassar pela direita ou andar em sentido contrario aos carros, não pode andar sob as linhas do tramway (um outro tipo de transporte publico europeu). Eh proibido conduzir com uma taxa de alcool igual ou superior a 0,5 gramas por litro de sangue e aquele que não respeitar as placas de sinalização ou farois, pode ser multado.

Não pense que a ideia deu certo por aqui so porque europeu tem consciência de que as bicicletas são bens que pertencem à população, isso também. Mas os 150€ debitados da conta de quem não as devolve, ajuda a inibir o vandalismo e os furtos. Pudera eu andar pelas ruas de São Paulo em cima de uma bicicleta do governo, sem medo de freiar em cada esquina. Sera que um dia eu consigo tirar a mesma foto com o rio Tietê ao fundo?


quinta-feira, 25 de março de 2010

Nota alta é coisa de gente careta

A-ha! Maldita gramatica, eu não disse que te venceria na nossa batalha? Chupa Molière! Depois de uma semana chata de provas, eis que surgem os resultados. Na minha cabeça, a certeza de que os chinesinhos iam ocupar os lugares mais altos do podio. Nos brasileiras, brigariamos por medalhas de latão com a americana e a polonesa do curso de francês. Coisa mais logica os aplicadissimos alunos de olhos rasgados tirarem notas maximas, ja que raramente os vejo cometendo erros em sala de aula. Mas descobri que a coisa não funciona bem assim.

Bastou um papo com o resto da turma para perceber o quão facil é para nos latinos, aprendermos linguas como o francês. Veio tudo do mesmo balaio, as regras são praticamente as mesmas para tempos verbais, conjugações, radicais, significados. Sem falar na malandragem brasileira (que em mim grita até o ultimo fio de cabelo) de usar com maestria a arte do embromation. Nem sempre funciona, mas em todo caso vale a pena so para ver a cara de espanto dos françolas: "o que diabos essa garota esta falando?", hilario.

Mas as semelhanças entre a lingua francesa e a portuguesa podem facilitar a tendência à vadiagem, principalmente a minha. Se eu sei que não preciso estudar muito para entender como a banda toca, vou gastar meu tempo fazendo outras coisas. Levei as primeiras semanas de curso nas coxas e quando chegou a semana de provas, bateu o desespero. Estudei bastante, tirei o atraso e fui.

Não sei o que me surpreendeu mais, se as notas baixas de todos os chineses ou a minha na matéria que eu mais gosto, o francês familiar. Não teve imperativo que me deixasse apreensiva, nem tempos futuros ou passados que me fizessem medo. Coloquei o maldito subjuntivo no chinelo e a média 8 em gramatica me deixou toda satisfeita. Por outro lado, não consegui aprender direito o vocabulario desencanado que os franceses usam para falar. Sim, para falar. Porque não tem essa de 'vou aprender francês.' O certo é 'vou aprender as linguas francesas', no plural. Existe a maneira correta de falar com os amigos e uma outra para falar com desconhecidos e escrever cartas oficiais. Uma frescura so.

Seria natural alguém com um português cheio de girias e provérbios como o meu, tirar de letra o tal francês familiar, mas a nota 6 destacada em letras garrafais na minha prova deixou claro que preciso estudar mais. Me diz, como é que se estuda isso? Como é que eu aprendo vocabularios alternativos se ainda me faltam amigos franceses para praticar? Mais desesperador é saber que aqui eu falo certinho demais, tipo gente careta no Brasil: "Tu me amastes Alfredo?". Aff, isso sim me apavora. Qualé mané, ta tirando a favela?

Alguém aperta a tecla SAP e envia o texto para o meu professor por favor? Ele precisa saber que a rainha da linguagem coloquial é brasileira.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Restaurantes em Lyon: Au Vilain Petit Canard

Ha alguns dias, escrevi sobre a dificuldade que tenho tido para me adaptar à culinaria francesa. Ha quem jure de pés juntos que a danada é realmente gostosa. Então, decidi aproveitar a vida na capital gastronômica da França e ja comecei a me jogar rumo ao desconhecido. Dei um tempo para o meu paladar gordo de quem ama sal e açucar para tentar encontrar bons pratos e restaurantes charmosos em Lyon. Comecei bem: experimentando carne de pato. Fui corajosa e não me arrependi.

O pequeno restaurante, descoberto durante uma caminhada despretensiosa, logo me chamou a atenção pelos preços convidativos: 13€ pelo prato principal+sobremesa no almoço e 20€ pela entrada+prato+sobremesa no jantar. Quem preferir, pode pedir so o prato principal, custa em média 12€. Na França, isso é uma pechincha! O modo de anunciar as opções também é interessante, nada de cardapios. Os pratos são descritos em lousas que circulam de mesa em mesa cada vez que um novo cliente chega.


"Au Vilain Petit Canard" é o restaurante mais bacana que encontrei até agora em Lyon. Longe da bagunça dos pontos turisticos, é pequeno e aconchegante. Ja fui duas vezes, para o almoço e para o jantar. A noite, as velas acesas em cima das (poucas) mesas, dão um ar todo especial para o lugar. Simples e discreto.

 
A especialidade é a carne de pato, presente em todos os pratos oferecidos. Existe também um "mini-mercado" no proprio restaurante, com varios produtos para os clientes levarem para casa: conservas, patês e congelados - tudo de pato, claro! Na foto acima, da para ver a prateleira com os potes à venda. O restaurante é da familia do Benjamin, que tem também uma fazenda onde os bichinhos são criados. Tudo que é servido no "Au Vilain Petit Canard" vem de la. A carne é super macia, os acompanhamentos são deliciosos e as sobremesas também. Quem nunca comeu carne de pato pode experimentar sem medo, o sabor é parecido com os que estamos acostumados no Brasil, nada muito exotico. Destaque para o Cuisse de canard confite, DI-VI-NO!

Entradas:

Salade de 3 magrets
(alface, tomates secos marinados e lascas de peito de pato perfumadas aos sabores de laranja e mel, anis e ameixa)


Assiette de foie gras
(alface, tomates secos e foie gras com compota de figo)


Pratos:
Cuisse de canard confite
(coxa de pato ao molho agridoce com fondue de alho poro, tomates provençais, batata ao forno e creme de queijo fresco)

Brochette de magret de canard
(espetinho de peito de pato com os mesmos acompanhamentos do prato acima)

Sobremesas:

Fondant au chocolat
(bolinho de chocolate com creme inglês)

Tarte au citron meringée
(torta de limão com merengue e calda de framboesa)

Quem pintar por la, pode dizer que pegou a dica aqui. O Benjamin vai ficar contente de saber que as receitas eram realmente para o blog e não uma desculpa minha para roubar os segredos deliciosos da familia!


Au Vilain Petit Canard
41 rue Franklin-Lyon (Linha A do metrô, estação Ampère Victor Hugo)
Tel: 04 78 62 34 77 


Para conhecer outros restaurantes em Lyon, clique aqui

quarta-feira, 17 de março de 2010

Alguém pára o tempo por favor?

13°C la fora e eu brava porque passei um calorão durante a caminhada da escola para casa. O sol brilhou, o vento gelado não deu as caras e juro que vi até alguns franceses sorrindo pelas ruas. Mas justo eu que sou tupiniquim, não gostei da gota de suor escorrendo pela minha testa.

Foi a primeira vez, desde que o inverno mais inconveniente das ultimas décadas começou, que fez uma tarde tão bonita. Outro dia, o sol arriscou uma passeada pelos céus de Lyon, mas estava tão gelado que era como se ele nem nos fizesse compania. Coisa mais sem graça precisar olhar para cima para saber se o sol realmente esta la. Bom mesmo é senti-lo, certo? Errado. Hoje descobri que o sol foi feito apenas para ser admirado, assim como tudo o que reina de uma maneira ou outra no universo.

Quando eu era criança, minha mãe tinha o habito de intelectualizar sobre eventos de extrema importância para a continuação da especie humana, coisa de pesquisador maluco que Einstein adoraria escutar. Entre as teorias da dona Mirlene, a que fala sobre o tempo era a unica que não fazia muito sentido para mim: "Calor so é bom para quem tem dinheiro". Oras, se eu nunca fui rica, então por que me dava bem com o verão?

Agora entendi que a boa relação existia graças aos banhos nas piscinas dos vizinhos, aos sucos de frutas gelados que mães e tias serviam o tempo todo, à poder andar descalça sem ser chamada de louca, aos shortinhos e camisetas de malhas fresquinhas que não retinham o calor do corpo (se você tem mais de 25 anos, olha uma foto sua da década de 80 que você vai entender do que estou falando).

O verão ainda nem chegou, mas os dois digitos positivos no termômetro ja me tiraram do sério! Não sei se foi o meu corpo que se adaptou aos graus negativos ou se o meu cérebro é que absorveu informações demais sobre as ondas de calor insanas que visitaram vocês no Brasil, mas os 13°C de hoje à tarde pareciam 30°C. Devo ser a unica brasileira na Europa a reclamar do calor com tanta antecedência, mas é que por aqui não existem vizinhos legais com piscinas nos jardins, muito menos sucos de frutas.

Pois é, não existe suco natural na França. Em Lyon, apenas um quiosque no shopping descobriu que espremer laranjas e bater abacaxi com agua pode dar lucro. Quando como alguma coisa fora de casa bebo agua ou refrigerante, talvez este seja outro motivo para eu desejar tanto que o frio não va embora. Como usar roupas curtas como as que eu usava quando criança se 4 meses de Coca-cola fizeram muito bem aos furinhos na minha coxa?

Minha mãe é quem tem razão, enfrentar as altas temperaturas so com ar-condicionado no carro, casa na praia, helicoptero para não pegar trânsito na serra e mordomo para trazer muitos sucos. Como eu não tenho verba para nada disso, fiz as pazes com o inverno e deixei de lado o apreço pelo verão. Além do mais, casaco preto é chique meu bem!

sexta-feira, 5 de março de 2010

Blasfêmia contra a cozinha francesa

Vou parecer maluca, mas la vai: eu não gosto das comidas da França. Confessei. Vai dizer que você também não tem seu segredo oculto? Não coloca o dedo no nariz quando esta sozinho? Não odeia aquela colega de trabalho que todo mundo acha uma simpatia? Então pronto, falei!

O conceito de sabor do lado de ca do oceano é muito diferente do meu. Francês não come brigadeiro porque acha doce demais, o arroz é empapado e a carne, muito crua. Sem falar que SAL é um tempero que eles desconhecem. Cozinha saudavel uma ou duas vezes por semana até vai, mas todo dia não ha santo que aguente.

Tenho paladar de mineiro, gosto de torresminho, couve na manteiga, galinhada, queijo minas. De que me servem todos os queijos franceses se o mais gostoso eles não fazem? Os crepes são bons? Sim, mas você aguenta comer crepe todo dia? Os croissants são os melhores? Claro, mas não tem pão francês. E dai que salmão aqui é barato? Tenta comer peixe a semana inteira para ver o que te acontece. As sobremesas de encher os olhos têm gosto de vento. Muita fruta, muito creme e so. Meu paladar de formiguinha não aprova. Não ha macarron que me faça esquecer o nosso bem-casado.

Natural o brasileiro que viaja de férias para a França achar tudo muito gostoso e diferente. Afinal, a gastronomia francesa faz parte do patrimônio nacional, mas chega uma hora que eu quero jantar fora e voltar de barriga cheia, sem precisar abrir um pacote de bolachas quando chegar em casa. Sinto falta da variedade dos restaurantes por quilo, de misturar e comer tudo junto, numa garfada so. A formula aperitivo+entrada+prato principal não me agrada nem um pouco. Em prato de mineiro a alface é misturada ao arroz com feijão, sem frescuras. Peixe sempre acompanhado de um bom purê+arroz+fritas. Abundância, meu amigo!

Sei que parece estranho uma pessoa que vem estudar culinaria na França falar mal sobre os pratos daqui. Seria como ir ao Brasil aprender a jogar futebol falando que brasileiro não sabe jogar bola - uma blasfêmia! Mas meu paladar, desenvolvido a partir do tutu de feijão, quiabo e feijoada, insiste em não criar apreço pela mostarda dijon, pelo figado de ganso e muito menos pelo polvo com nata, maldito!

Claro que a errada sou eu, so faltava querer convencer alguém de que nos brasileiros é que comemos corretamente. Muito açucar, muito oleo, muito sal, de deixar qualquer francês estarrecido. Talvez por isso, as mulheres daqui são tão magras e os idosos vivem quase um século, eles não comem! Mas fazer o que se eu prefiro morrer cedo com a barriga cheia de coxinha? Casa de ferreiro, espeto de pau.

quarta-feira, 3 de março de 2010

O dia que a gramática me fez chorar

Tudo doi. Doi a ausência dos amigos, doi a saudade do pão de queijo, doi ler o jornal e não entender tudo. Doi ir ao restaurante e não poder escolher entre galinhada e feijoada, doi não ter farofa nem banana frita. Doi não encontrar verde e amarelo nas ruas em ano de Copa, até a falta do cheiro do amaciante de casa doi.

Morar fora é abrir a cabeça e deixar crescer o coração, malditos os que não avisam que esse crescimento doi tanto. Dor fisica mesmo, de fazer chorar em sala de aula. Quando vi São Paulo pela ultima vez, da janela pequena de um airbus A330, pensei que quando eu chorasse seria de saudade, não imaginava que o culpado seria o subjuntivo de um verbo. Não que meu francês seja horrivel, mas é que para pensamentos rapidos não servem palavras contadas. Hoje meu vocabulario é pobre, cinza. Desde quando o basico serviu para mim?

Aqui eu ainda não encontrei a minha identidade, é como nascer mais uma vez. Bom por um lado, mas não por todos. Sinto falta da pessoa que eu era antes. Demorei tanto para me transformar em algo bom e quando consegui, deixei de lado. Maldita inquietude! Essa nova pessoa ainda não sabe o que gosta de comer nem como se vestir, também não sabe o nome de todas as ruas e não tem programas preferidos na TV, ela faz o que os outros fazem. Justo eu, que antes (achava que) sabia tudo.

Não imagino como sera a nova Mirelle, mas sei que ela vai falar francês! Depois, atrevida como é, vai brincar de ser gente grande e diplomada como uma excelente chef de cuisine, vai voltar aqui e se lembrar do dia que a gramatica venceu a batalha, depois Mirelle vai rir - quando se der conta de que quem venceu a guerra foi ela.

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