terça-feira, 29 de junho de 2010

Marrakech, Marrocos

Cansados de sassaricar pelo velho continente, la fomos eu e o Léo respirar ares africanos no Marrocos. O pais, por ter uma politica que não me agrada e leis que obrigam as mulheres a se cobrirem da cabeça aos pés ao sair pelas ruas, não estava na minha lista de 'lugares que eu preciso conhecer antes de morer'. Mas a easyjet insiste em me desafiar, então la fomos nos para Marrakech - carregando os sogros nessa aventura!
 

A cidade começa a se modernizar para receber bem os turistas que procuram lugares exoticos para torrar os seus ricos dinheirinhos. Avenidas largas, restaurantes modernos e hotéis 5 estrelas com preços incriveis. Como não viajamos em uma época muito quente, abrimos mão dos resorts luxuosos para economizar uns trocados, que acabaram sendo gastos em compras. Mas a dica é aproveitar os preços baixos para se hospedar em um dos otimos hotéis da cidade.

O trânsito é meio louco. Não tem faixas de sinalização, pouquissimos semaforos e milhares de taxi muito, muito velhos. O mais novo que pegamos foi um Mercedes 89 que o dono exibia todo orgulhoso sem se importar com os buracos no estofado ou com a seta quebrada, um fofo. Seta alias, é invensão de gringo que ainda não chegou por la. O povo vira quando quer, entra quando der. Assusta, mas até que é divertido.
 

Nem pense em tentar usar transporte publico, é ainda pior. As corridas de taxi compensam porque são  baratas, e podem ficar ainda mais. Gaste toda a sua labia negociando com os motoristas, so aceite pagar caro na saida do aeroporto mesmo (uns 150 dirhans para 4 pessoas). Dentro da cidade chegamos a pagar apenas 20 dirhans por uma corrida, sendo que o preço inicial geralmente é de 150 dirhans (10 dirhans equivalem a 1 euro mais ou menos) 2€ para andar de taxi, minha gente, vê se pode!?


Não sei se todo brasileiro é muquirana como eu, mas os que forem vão adorar Marrakech! O lugar é perfeito para colocar em pratica todas as técnicas de barganha que você tentou usar a vida toda sem sucesso - ainda que você não fale uma so palavra de francês, inglês ou arabe. O preço final de uma compra pode ser dez vezes menor que o anunciado pelo vendedor. Va com tempo aos suqs (mercados de rua) porque tem muita coisa para ver e muito vendedor chato te forçando a comprar. Não tenha vergonha de dizer não bem alto, nem de fazer cara feia. Eh o unico jeito de não sair pobre dali.




Usei a minha tatica infalivel de assalariada para gastar pouco, em um lugar onde, acredite, pode se gastar muito! No primeiro dia saimos sem dinheiro, dai fiquei so babando nos lenços e artesanato local. No dia seguinte, mais acostumada com os produtos e menos empolgada, voltei para comprar o que realmente me agradou.



Para conhecer melhor como vivem os nativos e a parte antiga e mais tradicional da cidade, va para dentro da Medina. Sente-se na frente da Mesquita da Kutubia e observe por alguns minutos a vida das pessoas que passam por ali.






















Depois caminhe até a praça Jemaa el-Fna, a maior e mais movimentada da cidade. Fora o suq enorme, ainda tem encantadores de cobras, mulheres que fazem as tradicionais tatuagens de henna, musicos e muitos vendedores ambulantes. Todo mundo tentando ganhar dinheiro de alguma maneira. Saiba que até mesmo para olhar, é preciso pagar. Muitos têm, inclusive, uma postura bem agressiva contra os turistas desavisados que ficam fotografando sem deixar uns trocadinhos. A dica é andar sempre com notas pequenas, para essas eventualidades.



  


Viajamos acompanhados do pai do Léo e da esposa dele, a Lindalva. Os dois fizeram um passeio que muita gente procura quando chega em Marrakech, andar de camêlo. Eu não estava passando muito bem e fiquei no hotel com o Léo. Demos foi sorte! Quando vi meu sogro andando esquisito e cheio de dores, logo saquei que montar no lombo de um camêlo não é la uma das ideias mais agradaveis. Eles até curtiram o passeio, mas juram que não fariam de novo. Se você quiser se arriscar, é so procurar uma das muitas agencias de turismo espalhadas pela cidade, alguns hotéis também fazem passeios ou indicam agências de confiança. Existe também a opção de fazer passeios de balão ou ir até o Deserto do Saara, não fizemos porque somos espertos por falta de tempo mesmo. Mas pô!, ja que eu estava na Africa, não queria ir embora sem tirar algumas fotos tipicas em cima dos bichinhos, então pegamos um taxi em direção ao aeroporto (onde ficam varios camêlos mulambentos) e fizemos as fotos. Foi coisa rapida, subimos, o rapaz tirou a foto e ja descemos, porque eu morro de pena desses animais.


A comida marroquina é bastante diferente da nossa. Apesar da futura estudante de gastronomia aqui de casa ser eu, quem experimenta de tudo nas viagens é o Léo. Ele adorou as comidas tipicas, os doces, o cha de hortelã e também o tajine (ensopado de carne feito em uma panela de barro com bastante cuminho). Quem prefere não arriscar, pode procurar um dos restaurantes do lado de fora da Medina. Comemos pratos bem gostosos com preços -advinhe?- muito baixos em dois restaurantes da Av. Mohamed V, no Bairro Gueliz, parte moderna com muitos restaurantes internacionais. Fiquei impressionada com a quantidade de pés de laranjas espalhados pela cidade toda. Um copo de suco custa apenas 3 dirhans, ou seja 30 centavos de euro. Nunca tomei tanto suco na minha vida.






O Marrocos foi colônia francesa até a metade do século XX, por isso existem muitos vôos diretos e baratos saindo aqui da França. Pagamos menos de 60€ pela passagem. Se você nunca esteve em um destino exotico como esse, pode aproveitar uma viagem a Paris ou a Lyon para dar um pulinho la. Eh diferente, acrescenta muita coisa, mas não é, digamos, o lugar mais legal do mundo. Depois que fui para Israel, Marrakech perdeu metade da graça, mas quem nunca esteve em lugares assim pode viver otimas experiências em Marrakech - é so não inventar de ficar 4h no lombo de um camêlo.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Fim de semana à la française

Entre os meus inumeros defeitos, o que mais atrasa a minha vida talvez seja a preguiça. Levantar da cama é um drama tão grande quanto sair do sofa nos fins de semana. Me convencer de que la fora existe algo mais interessante que ficar de pijama no sofa com o maridão é dificil. Cansada de ouvir minha mãe falar que eu sou muito nova e preciso aproveitar melhor a vida, decidi me jogar em aventuras inéditas - pelo menos em solo francês.

La fomos eu e o Léo aproveitar o calor tropical de 30°C do fim de semana. Na falta de praia, fomos para a beira do rio. Os franceses adoram juntar a familia para fazer esse tipo de farofada, seja em parques, em campings ou em lugares como esse que conhecemos hoje. Tirando as pedrinhas e as algas, me senti no Brasil.



Outra grande aventura foi aceitar o convite para um churrasco na casa de campo de um amigo francês. Fomos avisados que a propriedade ficava bem longe de Lyon e que a casa estava em reformas, portanto, bagunçada e suja. Além disso, ela não tinha banheiro (o que ilustra a informação que eu dei aqui sobre a falta de banheiros nas antigas residências francesas). Para quem não gosta muito de carne nem de bebida, como eu, churrasco por si so ja é uma furada, sem privada então...

Mas o passeio delicioso pela propriedade antiga não so rendeu uma tarde gostosa de risadas, como me apresentou às esquisitices que podem pintar em um churrasco francês. Claro que ele é diferente do nosso, ora bolas, estamos na França! Portanto, se você for convidado para comer uma carninha assada na casa de um francês, saiba que "assada" para eles tem outro significado. A começar pelos temperos. Nosso anfitrião deixou de lado o sal grosso para colocar ervas colhidas no proprio jardim sobre os bifes, linguiças e peixes.

O ponto das carnes por aqui também é bem peculiar: queimado por fora e cru por dentro. Considerando a larga experiência do nosso cozinheiro, que quase colocou fogo na casa, até que ficou bem gostoso.


Nada de arroz, feijão tropeiro, batata frita, mandioca cozida, maionese ou pão com vinagrete como acompanhamento. Comemos picles, salame e pão artesanal e, claro, queijos. De sobremesa, iogurte natural, morangos com limão e uma torta bem leve que eu amo, chamada Tropezienne. Mas a maior diferença talvez seja mesmo a bebida, churrasco sem cerveja não parece meio esquisito para você? Pois o Léo gostou.






segunda-feira, 21 de junho de 2010

Eu só preciso de uma

Quando cheguei aqui, não entendia muito bem porque os apartamentos possuem, quase todos, duas cubas nas pias das cozinhas. O Léo, que ja esta em Lyon ha sete anos, ficou surpreso com a explicação que encontrei no livro Os Franceses, de Ricardo Corrêa Coelho: "Em um lar francês onde não exista uma maquina de lavar louças, os copos, pratos e panelas são lavados conforme o tradicional sistema de bacias, lavar em agua corrente seria um desperdicio inadmissivel". Da mesma maneira que fazem as mulheres do nosso nordeste em época de seca, não por consciência ecologica, mas por necessidade mesmo.

"As duas cubas servem como bacias, em uma mergulha-se a louça suja numa mistura de agua com detergente e na outra, enxagua-se a louça suja em agua pura até que essa agua do enxague comece a ficar suja, momento onde se acrescenta detergente a essa agua e passa-se a mergulhar a louça suja, esvaziando-se a outra cuba e enchendo-a de agua limpa, a qual a partir de então fara as vezes da bacia de enxague. A operação é repetida até que toda a louça tenha sido lavada".

O plongeur* aqui de casa é o Léo, ja que não temos maquina de lavar louças. Durante um raro momento de insanidade do meu marido, ele me propôs o irrecusavel: se eu fizesse as unhas todas as semanas, ele se ocuparia da louça suja. Ir ao salão aqui é tipo missão impossivel, além de caro, as manicures não tiram as cuticulas, então fica uma merda, com o perdão da palavra. Eu levo quase duas horas para deixar as minhas unhas impecaveis, dai vem o calcario da agua e descasca tudo em uma unica lavada.

O Léo então, com pena de ver a minha dificil relação com alicates e afins não dar muitos resultados, optou pelo bem estar da sua esposa. Pois é, gente, meu marido é tipo assim... um sonho! Enquanto uns influenciam suas mulheres a andarem desleixadas por ai, ele faz questão de me ver sempre impecavel - embora eu nunca o esteja de fato. E ja que ele é o responsavel pela limpeza dos pratos aqui em casa, sugeri que experimentasse o sistema francês descrito acima. Mas de cara feia, ele recusou.

Se não conseguimos abrir mão das duas duchas diarias nem de lavar a louça em agua corrente (so para o enxague, enquanto ele ensaboa a torneira fica fechada, isso reduz em 70% o consumo de agua), com a limpeza da casa foi o contrario, tivemos que entrar no esquema francês. Acontece que aqui não existem ralos no chão, por isso não se usa agua para lavar banheiros nem cozinhas. Um pano umido com desinfetante é o modo mais comum de limpar essas partes das residências francesas. Nos quartos e sala, o aspirador é quem faz o serviço, depois passamos um produto de limpeza para dar brilho e voilà!


*Plongeur - O cara que lava os pratos nos restaurantes.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

A beleza dos sentimentos feios

Eu não conseguiria descrever tão bem a derrota deliciosa dos Bleus na noite de ontem. Ernani o fez com maestria:

"No começo era um mundo justo e bonito. Os homens eram iguais e respeitavam-se mutuamente. Só havia amor, paz, harmonia e tolerância. A vida correu tranquila no planeta por quase dois milênios. Até que, de 1998 a 2009, a França matou o Brasil em duas Copas e roubou da Irlanda a chance de participar de outra. Tanta violência alegrou o diabo e ele finalmente criou a RAIVA, o ÓDIO e o RANCOR. Veio o ano de 2010 e o México, sob coordenação do próprio capeta, nos apresentou à saborosa VINGANÇA. E a França tomou no %¨$&$¨#!

Não é lindo??

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Do narrador irlandês, logo após o segundo gol do México:

"Vou ter que botar mais uma caixa de cerveja pra gelar."

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Nunca foi tão bom ver o sofrimento alheio..."

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Rue Mercière e Café Milano

Não faz muito tempo que criei coragem para sair pela cidade disposta a aproveitar as comidas estranhas que fazem por aqui. Nesse pouco tempo, mais gostei do que desgostei dos pratos que experimentei. Venho tentando variar, não so por mim, mas por vocês. Muita gente me escreve pedindo dicas de Lyon e agora fico ainda mais contente por poder ajudar também no circuito gastronômico de cada um, indicando os lugares que descubro.

Sempre evitei os restaurantes "turisticos", aqueles que ficam bem de frente aos pontos mais visitados de qualquer cidade. Geralmente é furada. Comida fria, garçons impacientes, gente demais. Tenho para mim que são os mais escondidos que realmente se preocupam com a qualidade dos alimentos e do atendimento, ja que eles precisam ser realmente bons para os clientes voltarem. Por tudo isso, deixava de comer na rue Mercière.

A rua esta localizada em um ponto estratégico da Presqu'île, o centro de Lyon que fica entre os dois rios que cortam a cidade (Rhône e Saône), por isso chamada de "quase ilha". Nessa região estão alguns dos pontos mais visitados da cidade, como a Place Bellecour e a Place des Terreaux. Entre as duas praças, muitas ruas cheias de lojas e turistas. Uma delas é a rue Mercière, que por ficar bem na rota do consumo, é super movimentada.


La, encontramos restaurantes para todos os paladares: creperias, japonês, mexicano, bares, lanchonetes, sorveterias, buchons. O Caique estava certo, impossivel falar dos restaurantes de Lyon sem indicar pelo menos um nessa rua, que inevitavelmente estara no caminho de quem vier passear aqui. A parte mais dificil é decidir em qual entrar. Todos os restaurantes são coladinhos uns nos outros e super bem decorados. Na frente deles, o menu fica a disposição para que os clientes possam olhar pratos e preços, depois decidirem sozinhos se ficam ou não. Isso é bacana.

O Café Milano é um restaurante italiano que me deixou bastante contente, do começo ao fim. As saladas são gostosas e fogem um pouco da mistura de alface sem graça que a maioria dos restaurantes serve por aqui. Pedi uma carne (que surpreendentemente não veio nem crua, nem queimada) e o Léo escolheu uma massa. Além das carnes, massas e saladas, o cardapio oferece diversos sabores de pizza. Os pratos custam entre 12€ e 16€ cada, mas acho que vale mais a pena optar por um dos menus combinados. A formula entrada + prato + sobremesa custa 24€ e prato + sobremesa ou entrada + prato sai por 18€, foi essa que escolhemos.

Entradas:

Caprèse aux 2 tomates et mozzarella
(tomates com molho pesto, alface, tomate seco e mussarela de bufala)



Salade sud: mesclun, jambon cru, tomates confites, copeaux de parmesan
(salada de alfaces, presunto cru, tomate seco, pedaços de parmesão e molho pesto)


Pratos:

Escalope de veau milanaise avec pommes sautées aux herbes et salade
(filé de carne à milanesa com batatas assadas e salada)


Penne à la Primavera
(penne com tomates, azeitonas, muzzarela e molho pesto)


Léo se divertindo com o treco de espirrar azeite no macarrão



Café Milano

44, rue Mercière (linha A do metrô, estação Cordeliers)

tel: 04 72 41 74 63


Para conhecer outros restaurantes em Lyon, clique aqui.   

terça-feira, 15 de junho de 2010

O que vale são os 3 pontos...

... a menos na balança. Foi tão ruim que da até preguiça de escrever. Kaka e compania não brilharam o suficiente para ocupar espaço nesse blog, mas meu esforço merece destaque - sim o MEU. Por semanas, fiz um regime forçado para caber na unica camisa da seleção que trouxe na mala comigo. Tão antiga que não comportava meus 4 quilos a mais, ganhos à custa de muitos croissants. Também tive coragem de pintar as unhas de verde e amarelo antes de pegar o metrô e andar pelas ruas do centro da cidade. Assim, sai orgulhosa, com camisa, bandeira, unhas coloridas e marido uniformizado a tiracolo, escancarando para todo o mundo que nas minhas veias corre sangue de mulato estrangeiro. So de 4 em 4 anos é que realmente sinto orgulho disso.

A festa oficial dos brasileiros era aqui do lado de casa. "Telão, rodada de truco, caipirinhas" avisava o convite. Atravessei a cidade para fugir dele. Nunca assisti um jogo de Copa do Mundo fora do Brasil, não teria muito sentido me juntar aos compatriotas para vivenciar o mesmo ambiente dos meus outros sete mundiais né? Queria mesmo era ver de perto as reações dos franceses quando a melhor seleção do mundo entrasse em campo.

E não deu outra. Vaias, piadinhas e muitas palmas para Yun Nam, que diminuiu para a Coreia do Norte. Até eu aplaudi, o gol foi bonito mesmo. Sem falar que ao marcar contra a unica seleção cinco vezes campeã, os jogadores garantiram uma volta segura para casa. Agora podem perder por goleadas historicas que o ditador maluco que manda por la não vai nem se aborrecer.

Sai do bar com o coração apertado por causa dos escolhidos do Dunga, mas com a consciência tranquila, é como se os proprios franceses tivessem me dado carta branca para torcer contra eles. A seleção brasileira esta para os franceses assim como a Argentina esta para nos brasileiros. Odio trocado não doi.

Domingo tem mais, a droga do nosso time versus o time do Drogba, como bem disse o Leandro.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Questão de lealdade

Pois é, começou. E com o pé esquerdo, fazendo cair por terra o pensamento de que é com o direito que começam as boas coisas da vida. Tshabalala (com sua canhota magica) lançou um chute perfeito no ângulo do goleiro mexicano. Os anfitriões foram os primeiros a balançarem as redes. Muito justo.

Justo porque esse povo merece receber o Mundial. Não so pela pobreza que grita por ajuda, não so pelas dificuldades da sua gente, mas porque aqueles que espalham alegria gratuitamente merecem ganhar sorrisos largos e atenção na mesma medida. A Africa, que ja nos deu tanto, precisa que olhemos mais para ela.

A abertura foi emocionante, com apresentações simples mas cheias de energia. No estadio, a torcida fazia o seu espetaculo à parte. Muitas vuvuzelas, caras pintadas e cores, onde o verde e o amarelo predominavam. Felizmente, temos a sorte de dividir com os anfitriões a combinação gritante de cores que estapam as camisas das nossas seleções. As semelhanças não param ai. Não fossem os narradores dizendo que ali era a Africa, eu poderia jurar que as imagens vinham do Brasil, de Salvador talvez. Nossos negros, nossa festa, os batuques e um pouco da miséria no fundo confundem mesmo. Estamos em casa.

Para ser justa, não somos os unicos parecidos com eles, também vejo um pouco da França no pais que recebe esse Mundial - não pelo carisma, claro. A intolerância racial de la também existe aqui, no primeiro mundo. A diferença é que na Africa do Sul esse problema é notoriamente conhecido, amplamente divulgado e, talvez por isso, esta caminhando para se resolver. A solução veio ha 16 anos com Mandela e o fim do Apartheid, mas convenhamos que esses poucos anos ainda não são suficientes para apagar dores e conflitos de pessoas que viviam sem liberdade, respeito ou tolerância. O tempo faz milagres e, nesse caso, o tempo vai precisar de um pouco mais de calma.

Enquanto os africanos parecem estar buscando uma convivência melhor entre brancos e negros, a França segue em caminho oposto, fechando os olhos para o mesmo problema (que não se limita à cor da pele, mas também às origens das pessoas) e rebola para manter firme a aparência de ser um pais onde liberdade, igualdade e fraternidade têm o mesmo peso para todo tipo de gente. Desculpa, Rousseau, mas não tem. Quem sabe quando pintar por aqui um Mandela com coragem de tocar na ferida e discutir os tabus?

Mas falemos de futebol, que alias, quase não deu as caras nos 90 minutos do jogo entre França e Uruguai. Melhor assim, zero a zero foi o placar ideal para mim, que jamais poderia torcer para nenhum dos dois times. Pelo Uruguai por causa de 50, quando os malditos levantaram a taça no nosso Maracanã depois de vencer o Brasil. A maior tragédia da historia do nosso futebol, diria o meu avô. Pela França por causa de 86, 98, 2006 e da mão malandra do Henry que deixou a Irlanda do Thiago e do Ernani fora do Mundial.

Tudo isso pode parecer estupidez aos olhos dos que não se rendem ao futebol. Aqui mesmo na França, pouca importância se da para o (meu) esporte. O torneio de Roland Garros, que dominou os noticiarios nas ultimas semanas, é a prova de que aqui os esportes individuais fazem mais sucesso que os coletivos - tipico deles né? Tai outro motivo para torcer contra os Bleus, isso e as pizzas gratis que meus amigos vão comer na Irlanda. Como eu disse, questão de lealdade.



PS: Se você gosta de futebol e de textos muito bem escritos, clique nos nomes dos meninos ali em cima, vale a pena!

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Eu escolho você

Você seria capaz de dizer qual foi o momento exato em que a sua vida tomou o rumo que ela tem hoje? Seria possivel saber qual foi a decisão fundamental, aquela ultima, que te colocou exatamente onde você esta agora? Se você não tivesse ido àquela festa, se não tivesse atravessado aquela rua, se não tivesse cumprimentado aquela garota, sua vida seria diferente do que é nesse momento? Eu acredito que tudo pode mudar em um segundo, apesar de acreditar também que desde a largada nosso destino ja esta quase todo traçado. Então, quando foi que eu mudei o meu destino?

Quando decidi colocar no MSN uma frase sobre o show do Kiss em São Paulo, talvez? Não, para estar em São Paulo no dia do show eu precisei tirar licença médica do meu trabalho em Minas. Para tirar a licença,eu precisei ficar doente, muito doente. Para ficar doente eu precisei do trânsito louco de São Paulo, da profissão conturbada e dos amores fracassados. Então, quando foi que eu entrei nesse caminho? Desde quando as energias se juntaram para me colocar exatamente onde estou hoje?

Tudo parece tão perfeitamente amarrado, que fica dificil eleger aquele momento que muda tudo. Mas ele existe. Todos os dias nos fazemos as nossas escolhas. Decidir desviar da rua em obras pode mudar completamente a sua vida, ou trocar a festa da Gabi pela da Julia - o pai dos seus filhos pode ter feito a mesma escolha que você. Os 5 minutos a mais que você fica na cama podem te salvar de um acidente grave, mas podem também impedir que você conquiste um bom emprego. Acredite, nada é por acaso.

As minhas linhas tortas são tão certas que meus 5 minutos sempre me deixaram no lucro. Sem a frase no MSN o Léo talvez não teria achado uma boa desculpa para puxar papo comigo, 13 anos depois. Sem a conversa virtual eu não teria viajado até Paris para reencontra-lo. Sem Paris eu não estaria em Lyon agora. Sem Lyon, este blog não existiria e você não estaria lendo este texto. Sem o texto, você poderia estar caminhando no parque e tropeçar no cachorro do amor da sua vida, quem sabe?

Todas as hipoteses so têm fim quando você toma as rédeas da sua vida. O resto, são apenas fatos tentando indicar o caminho certo. Sendo assim, elejo o dia 9 de junho de 2009 como o dia que mudou a minha vida. Apesar de todas as forças do universo ja estarem conspirando ha algum tempo em favor das coisas boas que me acontecem hoje, foi ha um ano que eu, sozinha, decidi que aquele seria o ultimo aniversario do Léo que ele passaria longe de mim. Virtual hoje, so esse texto de parabéns para você, os beijos eu dou pessoalmente -  assim que você passar pela porta da sala.

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