domingo, 29 de agosto de 2010

Nem tão estranhos assim

Eles são assim mesmo: colecionam cupons de descontos, preferem tênis ao futebol, não gostam de muito sal na comida, comem queijos como sobremesa. Cheios de manias que me causam estranhamento (como ja listei aqui), mas também com alguns habitos interessantes, que facilitam a vida da gente. Alguns desses habitos ja estão totalmente inseridos no meu dia-a-dia:

1 - Carregar minha propria sacola para o supermercado. Tenho sempre um saco plastico dobrado dentro da bolsa e o Léo carrega uma sacola reciclavel maior no carro. Tudo isso porque as sacolas plasticas que estamos acostumados a receber aos montes nos supermercados no Brasil, são proibidas na França. Não é nada incomum ver pessoas saindo dos mercados com melões e pacotes de papel higiênico nas mãos porque esqueceram suas sacolinhas e não querem gastar 10 centavos para comprar uma nova. O pessoal aqui ja entendeu que o consumo deliberado das sacolinhas prejudica a natureza e por isso colabora, carregando cada um a sua propria sacola plastica, de pano ou carrinhos de feira para levar as compras para casa.

2 - Beber agua de torneira. A agua da pia aqui é potavel e todos os restaurantes colocam uma garrafa dessa agua na sua mesa assim que você se senta. No começo evitei, mas acabei cedendo e me acostumando com o gosto (sim, tem gosto!). Ja que não bebo alcool e os sucos naturais são rarissimos por aqui, o jeito é abusar da agua de torneira nas refeições. O bom é que, sendo de graça, a conta fica mais barata.

3 - Bricolage. Essa é uma mania nacional que começa muito cedo aqui na França. Os pais costumam presentear os filhos com jogos de ferramentas para construir coisas, na esperança de que quando adultos eles consigam trocar os fios elétricos de casa, pregar prateleiras, resolver os problemas de encanamento... Como mão-de-obra por aqui é muito cara, todo mundo se vira sozinho com os reparos de casa. O Léo e eu entramos nessa onda, somos nos que fazemos todo e qualquer tipo de serviço braçal aqui no nosso cafofo. Mentira, so o Léo.

4 -
Ler o tempo todo. Basta andar de metrô para ver que a leitura é o passatempo preferido dos franceses. No Brasil eu costumava curtir o ocio de uma maneira menos intelectual, mas por influência do meio acabei me acostumando a ter sempre um livro ou jornal por perto para me entreter. Nas estações de metrô, alguns jornais são distribuidos de graça pela manhã, e para encontrar livros bons e baratos basta entrar em um dos inumeros sebos da cidade.


5 - Olhar a previsão do tempo. Meteorologia esta para os franceses assim como o futebol esta para nos, brasileiros. Ninguém sai de casa sem dar uma espiada em algum site ou assistir à previsão na TV. Quando acordo faço como todos os franceses, olho logo para o termômetro para saber quantos graus faz la fora. Sério, estou viciada! Pelo menos o assunto nos encontros de padaria e elevador estão garantidos, ja que francês, quando não tem intimidade com alguém, so fala sobre o tempo. E não pense que é superficial, eles são capazes de elaborar teses complexas sobre o assunto. Eh como encontrar uma Rosana Jatoba em cada esquina.

6 - Tirar os sapatos ao entrar em casa. Na minha casa nunca teve isso. Os mesmos calçados que perambulavam contentes pelas ruas, transitavam imundos dentro de casa. Também não me lembro de ter que tirar os sapatos para entrar na casa de amigos no Brasil. Aqui é quase lei, ninguém anda de sapato dentro de casa. Hoje me parece tão mais logico e higiênico, que não sei como não fazia isso antes.

7 - Passar os domingos no parque. Morei mais de dez anos em São Paulo e so fui ao Parque do Ibirapuera uma unica vez. Na terra da garoa, domingão é dia sagrado de ir ao shopping. Aqui, o comérico todo fecha as portas e a melhor opção é se jogar na grama de um parque qualquer. Dificil é achar lugar para estender a toalha, ja que todo mundo tem a mesma ideia. Mas é uma delicia, muito mais agradavel que ficar olhando vitrines em corredores fechados enquanto o sol brilha la fora.

8 - Separar o lixo. A pratica, ainda pouco habitual no Brasil, é super comum por aqui. A cidade é toda preparada e os moradores são muito conscientes sobre esse dever de cidadão. Na nossa cozinha temos dois lixos, um para os restos de comida e outro para os reciclaveis: papel, latas, garrafas plasticas. Nos prédios também existem lugares especificos para os lixos, depois passam os caminhões preparados para esse tipo de coleta. A tal historia do "se cada um fizer a sua parte" nesse caso funciona bem.

9 - Comer menos, mais vezes ao dia. Abundância de comida é uma coisa que não se encontra nos pratos franceses, fato. Eles estão acostumados às pequenas porções, que somadas à entrada + sobremesa até que enche a barriga por algumas horas. Depois, comem uma fruta ou tomam um iogurte para esperar a proxima refeição. O jeito certo é esse, dizem os especialistas. Comer menos quantidade, mais vezes ao dia. Por isso o povo aqui é magro e saudavel. E como eu sonho em ser como eles, estou tentando deixar de lado a montanha de arroz e feijão que sempre esteve presente nos meus pratos.

10 - Deixar as ligações cairem na secretaria. O povo aqui não se apavora para atender telefone não, deixa cair na caixa postal. A ligação para ouvir os recados é gratuita, então por que atender aquele chato que esta ligando na hora errada? Não lembro de ser tão desencanada assim com telefone no Brasil. Se eu esquecia o aparelho em casa, voltava correndo para buscar. Aqui as pessoas têm o habito de chegar em casa e colocar a secretaria para tocar. O mesmo vale para celulares, é muito natural as pessoas não atenderem porque estão ocupadas ou sem vontade mesmo. Quem liga deixa recado e depois a outra pessoa retorna, sem precisar inventar desculpas por não ter atendido mais cedo.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Mão de vaca

Desperdicio é uma palavra que não combina com o estilo de vida francês, tô pra ver povo mais mão fechada! Eles reaproveitam tudo o que da para reaproveitar. Bebem agua da torneira, reciclam moveis, roupas, lixo. Lição que tenho tentado praticar aqui em casa sempre que da. Uma das vertentes desse consumo consciente são os descontos. Quando vamos ao supermercado por exemplo, recebemos um cupom que da um desconto proporcional para a proxima compra. O Léo guarda o papelzinho como se fosse ouro. No Brasil provavelmente eu jogaria fora, ja que não costumava dar muito valor aos poucos centavos oferecidos para garantir o retorno do cliente. Aqui, as moedas pequenas são tão valiosas quanto as notas grandes. Nunca vi um caixa devolver 3 centavos em bala, como acontece muito na terrinha.

Outro dia vi na TV uma propaganda de uma bolacha que devolvia integralmente o valor da compra se o consumidor mandasse pelo correio a embalagem com o codigo de barras e fiquei intrigada com o funcionamento do esquema. Claro que as empresas francesas não são tão caridosas assim, é so uma estratégia de marketing para atrair novos clientes. O famoso plantar para colher depois, sabe? Aqui na França, os consumidores sempre procuram por grandes ofertas nas prateleiras e ainda que tenham suas marcas favoritas, não pensam duas vezes antes de levar o produto concorrente se ele oferecer um desconto que o tradicional não da. Não é raro ver familias humildes saindo dos supermercados com os carrinhos cheios, graças à esse tipo de promoção - que da trabalho, mas compensa.

Também existem sites como este aqui, que divulgam promoções imperdiveis de varios tipos de produtos: impressora, iogurte, cereal, sabão em po, entre outros. São varias maneiras de consumir gastando pouco ou até mesmo, nadica de nada. Além das marcas que reembolsam 100% o valor (como no caso da bolacha), ha as que oferecem cupons para levar o mesmo produto de graça na proxima compra, as que garantem a satisfação do cliente ou o dinheiro de volta (basta escrever dizendo que não gostou) e aquelas que oferecem o produto totalmente gratis, so para você experimentar. No Brasil, o mais comum são os famosos "leve 2, pague 1" que alivia, mas não diminui tanto assim a conta no final do mês.

Francês não tem vergonha de juntar moedas de um centavo, de usar cupons de desconto nem de procurar por lojas com ofertas interessantes na internet, tudo isso é muito normal aqui. Nessa busca por preços baixos, encontrei um outro tipo de serviço. Este site propõe diariamente ofertas imperdiveis para seus cadastrados, os descontos chegam a 90%. Se a oferta do dia interessar, é so fazer a compra e aguardar para ver se a promoção sera validada. Para ser validada, é preciso que um numero x de pessoas também compre a mesma oferta. Se o numero for insuficiente, a oferta é cancelada e a cobrança no cartão não é feita. São sites de compras coletivas que oferecem tudo quanto é tipo de coisa: pacotes de massagens, jantares, entradas mais baratas para cinema, shows, teatro, etc. Esse tipo de compra pode ser feita no mundo todo, inclusive no Brasil, basta procurar o dominio de cada pais.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Passeios em Lyon - Muros pintados

Uma caracteristica bem marcante de Lyon são os muros pintados. Eles são parte integrante da paisagem urbana e tão reais que a gente custa a perceber que, na verdade, são pinturas. Existem mais de cem espalhados por todos os cantos da cidade. Muita gente vem pra ca sem saber que eles existem e acaba não dando atenção a essas obras de arte tão tipicas daqui.

Ja que tudo em excesso cansa (inclusive a belissima arquitetura classica francesa), a prefeitura - nada boba, decidiu colorir a cidade para aumentar o turismo. Acha que é facil competir com Paris? Um murozinho aqui, outro acola, até que o Mur des Canuts foi pintado em 1987. São 1200 m² de pura arte a céu aberto representando a vida dos canuts (operarios que teciam a seda no século XIX). Esse é o muro mais interessante, na minha opinião, porque além de ser o maior da Europa, da para se imaginar dentro da pintura - pelo menos nas fotos.

Antes e depois:













Outra pintura muito importante para a cidade é La fresque des Lyonnais, onde estão representadas 30 personalidades nascidas em Lyon que entraram para a historia. Entre as mais conhecidas, estão os irmãos Auguste e Louis Lumière (inventores do cinema), o escritor Saint-Exupéry (autor do livro "O Pequeno Principe") e o melhor chef cuisinier do mundo, o Paul Bocuse. Quanto mais alto o andar, mais antigos os personagens, por isso o sr.Bocuse, ainda vivo, esta no térreo.
























Para ver os endereços desses e de outros muros, com explicações e mapas, clique aqui.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A minha terrível sexta-feira 13

Essa é para os homens: O que você faria se sua mulher te ligasse da rua, chorando, para contar que acabara de ser agredida por um homem que ela nunca viu na vida? O Léo passou por isso ha pouco mais de um mês.

A França esta em plena campanha para encorajar as denuncias de agressões contra as mulheres. O governo se mobilizou e declarou que esse tipo de violência seria a Grande Causa Nacional de 2010. Aqui na França*, 2 milhões de mulheres são agredidas por ano pelos seus maridos e 400 morrem apanhando, ou seja, mais de uma por dia. São pelo menos 75 mil casos de estupro todos os anos, 205 por dia! A meu ver, o mesmo homem que estupra ou agride dentro de casa, é aquele que distribui murros no trânsito. Foi assim que eu entrei para as estatisticas.

Andando de bicicleta pela cidade, passei por um homem de uns 40 anos que ficou furioso e assustado quando tentou cruzar uma avenida, sem olhar para a direção de onde eu vinha. Buzinou e foi atras de mim. Jogou o carro contra a minha bicicleta, quase me fazendo cair no chão. Desceu, gritou, e ao me ver calada em estado de choque, me deu um murro forte nas costas. Eu, sei la como, consegui improvisar um francês para dizer que no meu pais homem não pode bater em mulher, e depois dei-lhe umas bolsadas para me defender. A confusão foi muito além, ele ainda me perseguiu e ao me encontrar uma segunda vez, me ameaçou.

Chorando e muito desesperada, esperei o Léo sentada na calçada para irmos à delegacia. Foram mais de seis horas entre depoimento e hospital, para fazer o exame de corpo de delito. "Contusão nas costas, torção no punho e estado de choque" dizia o relatorio médico. Incapacidade total de trabalho: 4 dias. Para ter valor penal, precisa ser de pelo menos oito. Ou seja, perante as leis francesas eu não fui agredida o suficiente para processar o cara, ja que não tive o nariz quebrado, nem fiquei com o olho roxo.

Dado empurrou Luana
e ganhou o direito de passar quase 3 anos dormindo na prisão. Um exemplo para mostrar que no Brasil, a Lei Maria da Penha não nasceu para ficar no papel.

A minha indignação infelizmente não para por ai. Recebi uma convocação para comparecer à delegacia hoje, achamos que eles queriam mais informações e fomos tranquilos. Chegando la, um policial muito grosso e agressivo me encaminhou para uma sala sem permitir que o Léo fosse junto, mesmo sabendo que eu não falava francês muito bem. Na sala, dei de cara com o homem que me agrediu. Em nenhum momento soubemos que esse homem estaria la, portanto, eu não estava preparada para fazer essa confrontação. Depois descobrimos na internet que eu poderia ter me negado a entrar, mas em momento algum recebi essa informação na delegacia.

Fui coagida pelo policial o tempo todo. Ele passou os primeiros 30 minutos fazendo perguntas so para mim, falando rapido e tentando me colocar contra a parede, para cair em contradição, enquanto eu chorava copiosamente. Ao homem, ele não dizia nada. Fui constrangida e tratada como se fosse a culpada. Até eu ja estava me convencendo de que a errada fui eu por ter incomodado o andamento do "sistema" com uma denuncia assim, tão banal. Afinal, agressão que não quebra osso algum, não é bem uma agressão agressão, certo?

- Você subiu na bicicleta falando ao telefone depois que o senhor saiu com o carro?
- Sim, eu liguei para o meu marido e ele foi me guiando para dizer aonde eu deveria ir.
- Você sabia que é proibido falar ao telefone em cima de uma bicicleta?

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- Você gritou e agrediu o senhor com a sua bolsa?
- Sim, mas so depois que ele me deu um murro nas costas! Gritei por socorro.
- Por que você não saiu do local e ligou para a policia então?

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- Por que você queria tanto que o senhor esperasse o seu marido no local?
- Por que eu não falo francês fluentemente.
- Esse foi o unico motivo ou você esperava que o seu marido resolvesse o problema de outra forma?

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- Você disse ao senhor que se no pais dele é permitido bater em mulher, no seu não é?
- Não, eu disse que eu não sei se aqui no pais dele é permitido bater em mulher, mas que no meu não é.
- Você sabia que isso é racismo e você pode ter problemas?
- Eu não sou racista.
- Mas foi, porque o senhor é de origem arabe.
- Como é que eu vou saber de onde ele vem? Eu quis dizer que se aqui na França os homens batem em mulher, no Brasil, não batem.
- Ainda assim, comentario racista.

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- Você sempre chora facil como agora?
- Não, so quando alguém me agride na rua.
(Depois perguntou para o Léo se eu era muito emotiva ou tinha sofrido algum trauma no Brasil porque choro "à toa")

Não parece, mas EU fui agredida, EU prestei queixa, EU sou a vitima. Que tal perguntar para o senhor por que ele veio de carro atras de mim, ou por que ele jogou o carro em cima da minha bicicleta, ou mesmo por que ele desceu do carro e me deu um murro sem que eu falasse nada, na frente da esposa e do filho pequeno???? Mas não, nenhuma dessas perguntas foram feitas ao agressor, que saiu impune dali. Eu sai revoltada.

Revoltada por não ter sido atendida por uma policial mulher, por ouvir que na França não é permitido bater em criança nem em mulher, mas que vejam so, eles batem - "acontece". Que um simples murro nas costas não caracteriza agressão, que agora é preciso aguardar a decisão do juiz e que provavelmente "não vai dar em nada, no maximo uma multa por você ter jogado a bicicleta publica no chão e falado ao celular enquanto pedalava".

Ainda perplexa com a situação, me desculpo pelo texto enorme e por compartilhar uma historia tão chata com os leitores que passam por aqui em busca de dicas e diversão. Mas tudo na vida tem seu lado ruim, inclusive o primeiro mundo. Acho fundamental que os interessados pela França saibam que aqui não é esse paraiso que eu sonhava ser e que a violência não é "privilégio" dos brasileiros.

Por agora, deixo dois telefones que podem ser muito uteis para nos mulheres, é bom anotar pois, mesmo que seu marido seja um fofo como o Léo, existe muita gente doida nas ruas. Para quem esta na França, o disque-denuncia é o 3919, no Brasil ligue para o 180 ou procure uma Delegacia da Mulher.




*Fontes: www.violencesfaitesauxfemmes.com
www.gouvernement.fr/gouvernement/la-loi-sur-les-violences-faites-aux-femmes

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O que vestir no verão francês

Estou em plena crise dos 30 e para esquecer dela, fui às compras. Quase nunca entro em lojas pequenas aqui na França, meu francês capenga me deixa mais à vontade fuçando araras de lojas grandes como Zara ou H&M. Mas nesse dia eu entrei, é que a bata linda da vitrine insistia em chamar pelo meu nome, dai ja viu né?

A vendedora até que era simpatica (no limite do que uma vendedora francesa consegue ser) e ia me atendendo bem até eu sair do provador usando a tal bata como vestido. "Mas isso ai é uma blusa e não um vestido", disse a moça, aparentemente chocada. Ora bolas, se o cumprimento vai até o meu joelho, então é vestido! Quando ela soube que eu vinha do Brasil, a coisa piorou: "Ahhhh ta, la vocês usam roupas bem curtas né? Mas aqui na França não é assim não".

Tadinha, passou umas três vezes na fila da mentira a pobre moça. No verão, as francesas usam roupas muuuito mais curtas do que as nossas. As minhas mini-saias passam vergonha quando cruzam suas colegas mini-saias-francesas pelas ruas. Mas elas podem. Aquelas pernas enormes e finas ficam ainda mais lindas de mini. Sem falar que nos outros oito meses do ano, elas ficam escondidas embaixo de meias grossas e calças escuras por causa do frio, então estão certas de abusar. E olha como abusam:

Fotos: Mirelle, em momento paparazzi pelas ruas

Mas não pense que so porque os shorts são curtos, que a pouca vergonha é liberada não! Para desfilar com um dos nossos biquinis brasileiros por aqui, tem que ter muita coragem! Apesar do topless ser comum nas praias, praças e parques (pois é gente, basta o sol aparecer e elas vão logo desamarrando a parte de cima dos biquinis em qualquer canto, sem pudor algum), a parte de baixo é grande - enorme alias. Tipo cirola de vó! E o nosso fio dental ainda não é visto com bons olhos por aqui.

Outra caracteristica do verão brasileiro que as francesas não adotam de jeito nenhum é a barriga de fora. Nada de blusinhas curtas com shorts de cintura baixa, tipo piriguete. As roupas daqui tem um corte maior e chegam, quase sempre, até o umbigo. Barriguinhass acanhadas, vejam so:

Fotos: Blog da Julia Petit

Anotem as dicas meninas e quando forem arrumar as malas para aproveitar o verão francês, não esqueçam as roupas bem curtinhas - aquelas que no Brasil a gente so tem coragem de usar para ir à praia.



*Para aumentar, clique nas fotos.

domingo, 8 de agosto de 2010

Hotéis e transporte em Lyon

A Gisela, leitora de Campinas, esta vindo passar 3 dias em Lyon e me escreveu pedindo dicas de hotéis na cidade. Achei que a duvida poderia ajudar também outras pessoas e, por isso, virou post. Na verdade não tenho como indicar um hotel especifico, pois nunca dormi fora de casa, então vou sugerir as que são, na minha opinião, as melhores regiões para se hospedar em Lyon, ok?

Presqu'île. Eh la que você quer ficar, acredite. A região é central e fica perto dos pontos turisticos mais visitados, além de ser mais antiga que os bairros afastados, então da aquela impressão de estar em uma cidade francesa logo que você coloca os pés para fora do hotel. Se hospedando la, você não vai precisar de transporte para quase nada. A cidade é dividida em 9 distritos (arrondissements), procure por hotéis nas regiões do 1°, 2° e Vieux Lyon.

Não recomendo o 7°, o 8° nem o 9° arrondissement por não serem regiões turisticas e algumas, inclusive, um pouco perigosas. São também muito afastadas. A Croix Rousse, que fica no 4ème, é super interessante mas fica no alto da colina. Tem metrô, mas para quem prefere caminhar ou andar de bicicleta, é meio cansativo. O 6ème tem o Parc de la Tête D'or (o mais lindo da cidade, merece uma visita), mas ficar la é meio fora de mão.

Para quem vem de avião com apenas um dia para conhecer a cidade, talvez seja mais pratico ficar proximo ao aeroporto Saint-Exupéry mesmo, dai não tem a trabalheira de carregar malas. Depois, é so pegar o tramway e passar o dia na cidade. Mas quem chegar em Lyon de trem, pode se hospedar na região da Part-Dieu, onde se encontra a maior estação de trem da cidade.

Como escolher o hotel então? Eu uso e confio muito em dois sites, o venere.com e o booking.com. Neles, você tem a opção de fazer a reserva sem pagamento antecipado na maioria dos hotéis, podendo, se for necessario, cancelar até 24 horas antes das datas escolhidas sem custo algum. Para pesquisar, é so digitar o nome da cidade e a data da viagem, depois você pode filtrar a busca colocando mais detalhes como o numero de estrelas do hotel, preço das diarias ou bairros. Os dois sites oferecem, além da descrição do hotel, de fotos e de distâncias especificas dos pontos turisticos, os comentarios de quem ja se hospedou nos hotéis. Isso é super importante! Se as criticas não forem muito boas, decida-se por outro.

Outra boa dica é pegar o endereço do hotel e jogar no Google maps para ver se ele fica proximo à alguma estação de metrô. Lyon é uma cidade onde os transportes publicos funcionam muito bem e não é dificil utiliza-los. As estações possuem mapas com desenhos faceis* de ler e todos os pontos de ônibus têm os horarios de chegada, além do percurso que eles fazem. O bilhete unitario custa 1,60€, mas você so pode utiliza-lo por uma hora e em sentido unico. Por isso sugiro o bilhete liberté 1 jour, que vale para o dia todo e custa 4,70€. Com ele você pode andar de metrô, ônibus e nos tramways que circulam dentro da cidade quantas vezes quiser até a meia-noite. Uma outra opção para os turistas é alugar uma vélo'v e conhecer a cidade pedalando (ja falei sobre as bicicletas de aluguel nesse artigo aqui). Mas, sinceramente? Lyon é uma cidade para ser descoberta caminhando.

Do aeroporto Saint-Exupéry, existem duas maneiras de chegar em Lyon: de taxi ou de tramway. Uma corrida de taxi até o centro custa aproximadamente 50 euros durante o dia, ja o bilhete do tramway sai por 13 euros a ida ou 23 euros, ida e volta. O bilhete é vendido na plataforma do tramway, que fica na estação de trem, anexa ao aeroporto (mas não existe trem nem metrô para Lyon). O trajeto dura 30 minutos e vai até a estação Part-Dieu (para conhecer os horarios clique aqui), de la é so pegar um metrô até seu hotel ou mesmo um taxi, pagando bem menos pela corrida.



*Quer imprimir o mapa do metrô de Lyon? Clique aqui.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Francês é um povo estranho, ponto.

Eles têm as esquisitices deles, nos temos as nossas. Geralmente da para fazer uma mistura de tudo e levar a vidinha numa boa, mas algumas coisas ainda me causam estranhamento:

1 - Não tem numeros nos apartamentos. Pois é, eles ainda não se tocaram que trocar os sobrenomes por numeros nas caixas dos correios dos apartamentos é mais pratico. Como não existem portarias nem porteiros por aqui, o pobre do moço do correio é quem fica com o trabalho de distribuir as correspondências nas caixas dos moradores.

2 - Apéro - O happy hour do francês pode ser meio estranho se, ao sair do trabalho, seu colega te convidar para ir à casa dele fazer um apéro (tomar alguma coisa antes do jantar). Um encontro que não dura mais do que 2 horas e que pode terminar com o seu anfitrião te convidando para ir embora porque ele vai jantar com a familia. Indelicadeza? Para eles é super normal.

3 - Assoar o nariz sem cerimônia. Aqui é assim: deu vontade, assoa o nariz. No cinema, no restaurante, no ônibus, em programas ao vivo de televisão. Tão comum quanto respirar, é ter um lenço para assoar o nariz no meio da rua. Tentei explicar para um amigo francês, que esta de viagem marcada para o Brasil, que no meu pais ele não deve fazer isso em publico, senão todos vão olhar com um certo nojinho. Mas ele não entendeu muito bem. Assoar o nariz é tão natural por aqui que até o Léo faz e nem percebe.

*Atualizando em Julho/2011: Um ano e meio que estou na França e confesso que eu também ja adquiri o habito de assoar o nariz em qualquer lugar. 

4 - Comprar frios por fatias. Eles são vendidos nos supermercados por fatias, em pacotes com duas, quatro ou oito. E elas são mais grossas que as que encontramos nas padarias do Brasil. Eu, que sempe comprei frios pelo peso, estou tendo que me acostumar com a matematica das fatias.

5 - Não ceder lugar para os idosos. Tudo bem que os velhinhos franceses são muito mais atléticos e saudaveis que os nossos. Até acho bacana a população tratar a terceira idade de igual para igual, incentivando-os a se manterem ativos até quase o fim da vida. Mas não me conformo de ver os jovens franceses não cederem lugar para os idosos nos ônibus ou nas filas. Acho que nunca fiz uma viagem inteira sentada, porque quando entra um velhinho eu dou o meu lugar. E como o que mais tem na França é velho...

6 - Preferir abajur à luminaria. Se você ja esteve na França ou ja viu algum filme francês, com certeza reparou que as luzes nas casas e apartamentos não são claras como as nossas. Eles preferem luz fraca e amarelada, que da um clima mais intimista. Ja eu, prefiro luzes brancas e fortes, senão fico com dor de cabeça. Nossa sala é enorme, com espaço para 3 ambientes e tem um unico ponto de luz no teto. Na casa da mãe das crianças que eu cuidava é ainda pior, simplesmente não ha nenhum buraco no teto, nem fiação nos quartos e na sala. Apenas um abajur em cada cômodo para iluminar. Da para imaginar uma casa sem lâmpadas no teto?

7 - Passar as férias sempre nos mesmos lugares. A França é realmente especial e o que não falta é cidade bonita para visitar. Da para esquiar no inverno, ir para a praia no verão, para as montanhas no outono e para o campo na primavera. Mas passar todas as férias na mesma casa de praia da familia ou as festas de fim de ano na casa de campo do avô, eu não entendo. Francês é o povo europeu que menos viaja para fora do pais. Isso porque tem vizinhos como a Espanha, a Alemanha e a Italia. Sem falar que é possivel viajar pela Europa toda de avião pagando menos de 15€ pela passagem.

8 - Desejar 'feliz ano novo' até o fim de janeiro. Francês se sente na obrigação de desejar votos de um bom ano novo a todos que conhece. E não so na noite do dia 31. Se você encontrar um amigo la pelo dia 20 de janeiro, ele vai lembrar de te dar os 'melhores votos' para o ano que ja começou. Acho super estranho falar com alguém ao telefone no final do mês e receber esse tipo de cumprimento. Mas atenção: so vale para janeiro, fevereiro ja é um pouco forçado demais.

9 - Festas com horario para começar e para terminar. Tai outra coisa que eu nunca tinha visto no Brasil: horario para a festança acabar. Por aqui é muito comum receber um convite especificando o horario de duração de uma comemoração, seja ela um aniversario de criança ou uma noitada na casa de um amigo. Para mim, festa so termina quando o mais bêbado da turma pega no sono, mas os franceses costumam deixar bem claro os horarios do inicio e do fim da festança.

10 - Não tirar o esmalte das unhas. A maior diferença entre uma mulher francesa e uma brasileira (esteticamente falando) é o cuidado com as unhas. No Brasil damos muito mais importância ao assunto. Além de não tirarem as cuticulas e de preferirem o formado mais arredondado, as francesas simplesmente ignoram a existência do removedor de esmaltes. Depois que reparei isso, fiquei viciada em observar as unhas da mulherada e é sempre a mesma coisa: compridas nos pés, descascando nas mãos ou esmalte velho até a metade dos 20 dedos.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Os melhores são os meus

Minha viagem para o Brasil, como todos ja sabem, era extremamente esperada porque eu passo fome na França. Não vou dizer que estava morrendo de saudade das pessoas, pois estive la em dezembro passado e minha mãe esteve aqui ha poucos meses - eu preciso de pelo menos um ano longe para sentir saudade de gente (o mesmo não acontece com as coxinhas, um mês sem elas e ja penso em suicidio).

Pois bem, comi tudo o que deu para comer, engordei mais de 4 quilos em 3 semanas e para a minha surpresa, fiquei mais feliz ao rever os amigos do que ao comer meus pratos favoritos. Coisas mudam sem que a gente perceba. A verdade é que a parte mais sem graça da França nem é a falta de sal ou açucar nos pratos, é a falta de tempero no povo. E eu precisava mesmo era de abraços fortes e sorrisos sinceros, não de pastel frito ou pamonha assada. Minha vida por aqui seria muito mais facil se houvesse mais gente como vocês:










































Eu até achava que não, mas o melhor do Brasil realmente é o brasileiro.

domingo, 1 de agosto de 2010

Bebê a bordo!

Quando alguém decide deixar o seu país, escolhe também deixar o clima, os habitos e as pessoas que por um longo tempo fizeram parte da vida segura que fica para tras. Não é facil chegar em um lugar estranho, onde quase tudo também é novo: os cenarios, os cheiros, os sabores e até os abraços. Abraço, que é artigo de luxo para os estrangeiros que acabam de chegar na França. Leva um certo tempo para eles começarem a aparecer.

O primeiro abraço que eu dei nesse casal foi ha uns 7 meses, em uma pizzaria, assim que nos conhecemos. Mal sabiamos que estavamos criando ali laços fortes que seguirão atados pela vida inteira. Eh que a matematica sentimental de quem lida com a saudade de casa é muito simples: solidão + afinidades = união. Fica-se amigo muito mais rapidamente quando se é um estranho em terras distantes, e aqui na França, os estranhos somos nos - seres que abraçam assim que se conhecem. Não importa em que lugar do mundo você decida morar, uma coisa é certa: vai ter brasileiro na area! Como as pragas que se alastram mundo afora, estamos em todos os lugares habitaveis deste planeta. Olhando pelo lado bom, pelo menos os abraços estão garantidos, né?

Mas, atenção: se você é do tipo azarado, vale lembrar que brasileiro é brasileiro ai ou aqui, e ser brasileiro é muitas vezes, bem... ser brasileiro. A cabecinha, a malandragem, a lei da vantagem... Sabe? Por isso, evito os grandes encontros marcados por redes sociais na internet. Mesmo sabendo que tem gente bacana no meio da bagunça, também sei que alguns outros acreditam que so porque viemos do mesmo buraco somos intimos. Logo logo, esse meu mais-novo-amigo-de-infância-tupiniquim aparecera sem avisar para passar uma temporada de 2 meses no sofa da minha casa. Então, evito.

Como eu e o Léo somos seres iluminados, tivemos a sorte de cruzar nossos caminhos com os da Natasha e do Gustavo, o casal fofo da foto ai em cima, que vive dando pinta aqui no blog. Juntamos a nossa solidão com a deles e no meio de muitas afinidades, ganhamos um presentão: o Lucca, como afilhado. Se estivessemos todos no Brasil, talvez os pais escolhessem amigos de longa data para apadrinhar o pequeno, mas como eu vinha dizendo, as relações de quem mora fora são sempre tão mais intensas, que imediatamente aceitamos o convite.

O primeiro contato com nosso afilhado que, coitado, é botafoguense


Apertando o dedo do Léo, que fofo!

O Lucca é o mais novo personagem desse blog e tenho certeza que vai protagonizar boas historias. So preciso tomar mais cuidado na hora de alfinetar os franceses, ja que meu afilhadinho também é um deles. Seja bem-vindo a esse mundo doido, menino! Eu e o dindinho Léo vamos te ensinar todos os palavrões da lingua portuguesa e até, quem sabe, o hino do meu Coringão - que é muito mais bonito que o do time do seu pai, viu?

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