terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ordem na casa

O clima esquentou tanto na minha ultima aula de ciências politicas, que decidi prolongar a discussão aqui no blog. Na verdade, não permitiram que eu voltasse para o nivel B2, então continuo me esforçando para sobreviver na turma mais avançada, do C1, e no meio daqueles experts todos, fico acanhada para esmiuçar as minhas teorias. Em português as ideias fluem melhor.

No ultimo dia 14, foi aprovada pelo senado francês uma lei que proibe a utilização de "qualquer traje que cubra o rosto em lugares publicos". Trocando em miudos: proibiram o uso da burca. As burcas são vestes como essas ai ao lado, que cobrem o rosto e todo o corpo das mulheres islâmicas, deixando apenas os olhos de fora. Pois bem, eu me recuso a falar sobre religião. Não que isso não se discuta, se discute, é claro. So que não comigo. Eu tenho o meu Deus e pouco me interesso pelo Deus dos outros, pois acho que essa relação tem que ser egoista mesmo, eu com o meu e você com o seu. Mas para quem não esta muito por dentro do assunto, vou resumir o que pensam os dois lados da moeda (contra e a favor).

O governo francês diz que a proibição do véu integral é uma questão de segurança publica, ja que não se pode ter certeza se quem esta debaixo do véu é uma mulher religiosa ou um terrorista armado. Os liberais temem pela democracia, alegando que a proibição da burca é um passo muito grande em direção à limitação da liberdade individual. As feministas condenam o uso do véu integral, pois acreditam ser um atraso machista de uma religião que insiste em manter as mulheres submissas. Os maridos islâmicos se defendem, dizem que suas mulheres não podem se exibir por ai para não colocar em tentação os marmanjos que, ao verem um rosto bonito descoberto, podem sentir vontade de estuprar a moça, pobrezinhos. As mulheres que se cobrem da cabeça aos pés, bom... muitas delas o fazem por pressão dos maridos, mas existem também as que usam o véu por convicção mesmo e não queriam deixar de ter esse direito.

Posto tudo isso, assumo que sou integralmente a favor da proibição do uso da burca em solo francês. Democracia é um argumento perigoso, com muitas nuances que podem ser usadas como desculpa para justificar ações que sequer cabem no conceito geral da coisa. A França é um pais democratico e maravilhoso, com varios defeitos, é verdade, mas maravilhoso - e muito tolerante, vale dizer. Não sei em quantos outros lugares do mundo, pessoas tão diferentes podem habitar no mesmo prédio, estudar na mesma escola ou frequentar os mesmos parques com tanta naturalidade quanto aqui.

Vejam bem, eu não disse que as pessoas convivem umas com as outras, mas francês sabe (ou finge saber muito bem) onde termina o seu espaço e começa o do outro, por isso é mais tolerante aos habitos e pessoas que não se encaixam nos seus "padrões". Por outro lado, ha quem diga que francês é xenofobo (que tem preconceito contra estrangeiros) e esse é um assunto que renderia muitos posts. Por agora, me limito a dizer que no dia a dia eles são respeituosos, embora a maioria prefira não se misturar.

Acontece que ninguém colocou uma arma na minha cabeça me obrigando a morar aqui, vim porque eu quis, assim como vieram todos os não-franceses que aqui estão ou estiveram. Se eu não me acostumo com a falta de sal na comida, o problema é meu. Impossivel é forçar todos os françolas a comerem arroz com feijão nas refeições so porque o paladar deles é atrapalhado. Eles estão na casa deles, quem vem de fora é visita! Até onde minha mãe me ensinou, visita não define as regras da casa, apenas se submete à elas. Visita não tem direito de mudar a posição de um vaso, nem a cor do sofa. Ela pode ir embora se estiver incomodada, mas se escolher ficar, precisa de adaptar aos habitos que os donos da casa estabeleceram, por isso eu vivo experimentando novos pratos por ai. E essa historia de obrigar as mulheres a se cobrirem integralmente, fere diretamente os principios de igualdade, liberdade e fraternidade da republica francesa.

Então amigo, se você conseguir vir morar nesse pais (digo conseguir, porque esta cada dia mais dificil), você tera os mesmos direitos dispensados aos franceses e recebera todas as ajudas financeiras que um francês da gema pode receber do governo, mas tera também que se adaptar às leis que eles, os donos da casa, julgam ser as mais corretas para manter a ordem desse pais, entre elas, mostrar o seu rosto quando se relacionar com as outras pessoas. Nada mais igual e fraterno, certo?

domingo, 26 de setembro de 2010

Carros compartilhados

O transporte publico em Lyon funciona tão bem que quase ninguém precisa ter um carro na garagem. A maioria dos amigos não tem. Nos temos porque o Léo trabalha fora da cidade e para chegar até a empresa ele precisa do carro. Não fosse por isso, também não teriamos. Eu detesto andar de carro em Lyon. Primeiro, porque a carta de motorista por aqui é vitalicia - os velhinhos dirigem até os 100 anos e eu acho isso um pouco assustador. Segundo, porque francês, de qualquer idade, dirige mal mesmo, então é preciso muita paciência para rodar 5 poucos quilômetros sem xingar ninguém.

Mas quem é que nunca desejou um carro so para ir ao supermercado fazer a compra do mês? Ou para visitar um amigo que mora longe? Pensando em agradar justamente esse publico (que não tem necessidade de comprar um automovel, mas que vez ou outra precisa de um), o pessoal inventou um jeito novo de alugar carros: são os carros compartilhados. "Se não é preciso comprar uma vaca para poder tomar um copo de leite, então para locomover-se nas grande cidades não é preciso necessariamente comprar um carro". Eh mais ou menos assim que pensam os que defendem a ideia.

O serviço, que ja existe ha anos, ainda é novidade para muita gente, mas ja se espalhou por muitos paises da Europa, nos EUA e chegou inclusive no Brasil. A proposta pretende estimular também os motoristas a deixarem seus carros parados na garagem, produzindo assim, menos poluição para o meio ambiente e diminuindo o trânsito - ja que um unico carro compartilhado pode atender até 13 pessoas por dia. Aqui na França, o serviço ja é oferecido em muitas cidades, como Paris e Lyon, onde para usar os carros é preciso ir até o escritorio da empresa se inscrever (em horarios restritos e não pode ser pela internet), pagar 40€ pela inscrição + 150€ de deposito de garantia e deixar um cheque caução de 500€. A partir dai, o cliente ja pode começar a usar o serviço. A reserva dos carros é feita pela internet ou por telefone, depois o usuario vai até o ponto de retirada mais proximo, pega o carro e o devolve no mesmo lugar apos o uso.

Em São Paulo o processo é bem mais pratico. Basta se cadastrar pela internet e enviar os documentos pelo correio. Em 7 dias o cliente recebe um cartão magnético em casa, que serve para desbloquear as portas do carro que foi alugado - as chaves estarão no porta-luvas. A cobrança é feita por hora + quilômetros rodados e os valores são realmente muito mais baixos que os de uma diaria em uma locadora comum. Talvez seja vantajoso para as pessoas que precisam alugar carros por periodos curtos, tipo duas ou três horas. E também para aqueles que usam com uma certa frequência, para valer os custos com as mensalidades e taxas de adesão. Fazendo as contas, acho que não vale a pena. Não para mim que, apesar de ter achado a ideia incrivel, ainda prefiro alugar uma bicicleta.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Tudo a seu tempo

Finalmente minhas aulas de francês recomeçaram. Chegando la, advinha? Meu nome estava em uma lista na qual ele não deveria estar. Então fui correndo até a secretaria avisar que eles haviam cometido um erro. "Não madame, os professores se reuniram e acharam que o seu francês evoluiu muito em pouco tempo e que você conseguira acompanhar tranquilamente as aulas do C1". Oi? De onde foi que brotou esse francês todo que esse povo enxerga e eu não?

C1 é a penultima etapa do nivel mais avançado no aprendizado da lingua francesa. O basico é o A, dividido em A1 e A2, depois vem o nivel intermediario B, com o B1 e B2 e por fim, o nivel avançado C, C1 e C2. Semestre passado eu cursei o B1, ou seja, pulei o B2. Quer dizer, me pularam, né? Porque eu continuo falando bulhufas de francês. Ok que eu tirei notas altas no semestre passado, que me esforcei para fugir dos textos basicos nas provas e que gastei todas as 50 palavras do meu vocabulario no teste oral, mas, meus amigos, o meu francês não é fluente.

Engraçado é que nem ruim o meu curso é. Pelo contrario, é um dos mais puxados e reputados de Lyon, um centro de estudos da lingua francesa que fica dentro de uma universidade linda e super tradicional. Por isso, contente com tantos elogios, corri para pegar a primeira aula na turma dos avançadinhos. A alegria durou pouco porque, chegando la, não vi nenhum dos meus amigos chineses do semestre passado. No lugar deles encontrei um argentino, duas mexicanas, uma venezuelana, quatro japoneses, uma egipcia, uma americana, uma chilena, uma peruana, uma russa e um cara da Arabia Saudita chamado Sultão!

A grade do curso me assustou um pouco: ciências politicas, economia, historia da arte e literatura moderna se misturam às aulas de compreensão oral e expressão escrita. Oras, estou gastando o meu rico dinheirinho para aprender a lingua francesa e não sobre a literatura ou economia desse povo. Se eu quisesse estudar esse tipo de matéria, não teria me inscrito em um curso de francês, né? Claro que são assuntos que me interessam, mas antes eu quero aprender a conjugar os verbos usando forma e tempo corretos, a formar frases bem articuladas e a escrever esse tipo de texto que escrevo em português, em francês. Não quero ser mestre em ciências politicas. Pelo menos não nesse momento.

Por isso ja decidi, vou pedir para me juntar novamente aos meus camaradas chineses. Tenho certeza que as lições intermediarias do nivel B2 serão mais uteis na minha vida pratica do que as aulas requintadas do C1 - pelo menos nesse momento. De que me adianta saber tudo sobre os movimentos literarios do século XIX, se eu mal consigo conjugar o verbo 'querer' no subjuntivo? Tem horas que é preciso voltar um pouco para avançar ainda mais depois ."Reculer pour mieux sauter", como dizem por aqui.

domingo, 19 de setembro de 2010

22 anos depois...

Preciso começar a sonhar novos sonhos, porque dos que eu tinha não falta realizar mais nenhum. Não que eu seja uma pessoa que se contente com pouco, longe disso. Sou apenas alguém que faz questão de tirar do papel e realizar. Acho que sempre fui assim. Me lembro bem do dia em que, a caminho de um shopping com a minha mãe, passei em frente à TV Globoe falei: "Ainda vou trabalhar aqui!". Dona Mirlene sorriu e disse que sabia que sim. Pouco tempo depois, cumpri o prometido.

No primeiro dia de trabalho, chorei feito criança e quando coloquei os pés la dentro, descobri que a sensação de realizar sonhos é a melhor que existe. Não tem satisfação maior que a de conseguir algo que se deseja por muito tempo. O frio na barriga, o coração disparado, o alivio de saber que deu certo... é incrivel! Desde então, faço o que posso para sentir tudo isso de novo. Sabe aquelas coisas que você precisa fazer antes de morrer? Pois então, ao invés de fazer a minha listinha crescer, me dediquei a realizar os itens que se acumulavam por la.

E não eram itens simples não! Desejei trabalhar com os melhores jornalistas esportivos da TV, me casar com o primeiro namorado - em Paris!, apresentar programas na televisão, viajar pelo mundo... e realizei tudo isso. Mas faltava uma coisa, a mais importante talvez. Faltava vê-lo de perto. Faltava olhar para os seus olhos (que se fecham nos agudos mais altos), faltava ver se os pêlos dos seus braços eram tão loiros quanto nas fotos, se o cabelo era tão liso e o nariz, tão arrebitado. Faltava estar no mesmo lugar que ele, para ouvi-lo cantar para mim.



Eu não sei bem como explicar essa relação doentia que eu tenho com esse homem. Juro, não sei. Tentei pôr fim a todos esses mistérios em 2001, quando ele esteve no Rock in Rio. Peguei um busão, fui até la, cheguei 40 horas antes do que devia. Então dormi na fila, me desidratei com o calor de 40°C e quando, enfim, estariamos frente a frente, desmaiei. Devo ser a unica pessoa que viajou centenas de quilômetros para ver um show e não viu.


Nove anos se passaram, ele saiu de cena, fez mistério. Demorou 14 anos para lançar um novo album e cair na estrada, mas nenhuma dessas estradas passavam por aqui. Então fui atras dele, na Suiça. Na ultima quinta-feira, quando as luzes se apagaram e soaram os primeiros acordes da guitarra, achei que eu fosse cair dura no chão, de novo. Meu coração disparou, as pernas fraquejaram, os olhos se encheram de lagrimas. E ai, ele entrou...



Lindo como sempre, mais gordo do que nunca e com um cavanhaque super fora de moda. Mas, e dai? Eu também envelheci. Ja não sou mais a menina que enchia as paredes do quarto com posters gigantes dele, ja não lembro todas as letras (principalmente porque o maldito francês tomou o lugar do inglês no meu cérebro) e nem tenho a pele tão boa quanto tinha aos oito anos, quando comecei a ama-lo pra valer. Ainda assim, foi o momento mais especial da minha vida, e eu pude sentir novamente as emoções do meu primeiro dia de trabalho.


Alguns passam a vida tentando descobrir o segredo da felicidade, quando a resposta é muito simples: felicidade é transformar sonhos em realidade.Você ja parou para pensar se você gasta o seu tempo aumentando ou diminuindo a sua lista? Quando foi a ultima vez que você realizou um sonho antigo? As pessoas mais felizes que eu conheço priorizam a realização dos seus sonhos e não o cumprimento de metas e objetivos. Claro que isso também é importante e deve existir, eu mesma ainda tenho muitos planos para realizar. Mas os meus sonhos? Transformei todos em realidade.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Restaurantes em Lyon: Brasserie L'Est

Estou começando a fazer as pazes com a cozinha francesa. Não que ja sejamos intimas - estamos longe disso! Mas os progressos são nitidos (embora o processo seja lento). Descobri que para um prato ser bom, ele precisa ser extremamente bem feito. E não venha me dizer que isso é obvio, não é! Existem misturas tão gostosas que mesmo mal feitas fazem sucesso. Meu arroz com feijão é prova disso. Mas as comidas francesas são estranhas e se não forem preparadas pelos mestres da culinaria, não descem.

Infelizmente, pratos elaborados por grandes chefs e servidos em restaurantes renomados são caros. Então não tem escapatoria minha gente, para comer bem na França é preciso abrir a carteira! Como eu não tenho verba para encher a pança todas as semanas nos restaurantes estrelados, continuo não gostando de muitos pratos que experimento por aqui. Mas Papai do céu olha por mim, então vira e mexe pinta uma oportunidade de comer muito bem, pagando pouco.

Semana passada o destino sorriu para nos quando conseguimos duas vagas no Restaurante Experimental do Centro de Pesquisa do Instituto Paul Bocuse. Ja falei aqui sobre este restaurante, onde os alunos colocam em pratica o que aprendem em sala de aula para o deleite de alguns poucos sortudos. Aperitivo + entrada + prato principal + sobremesa + vinho + agua + café por 20€, uma pechincha! Desculpa não fotografar dessa vez, estavamos com o chefe do Léo e fiquei com vergonha de sacar a câmera da bolsa, mas juro que vi meu marido comer pé e orelha de porco lambendo os beiços (embora com uma pontinha de pena do bicho). Foi então que descobri que realmente é possivel saborear qualquer tipo de comida, desde que ela seja preparada com alimentos frescos e com as técnicas apropriadas.

Como os alunos do meu amigo Paul so servem a clientela duas vezes por ano, o jeito é correr para uma das brasseries do mestre para encontrar comida de qualidade com preços interessantes. Foi o que fizemos com o Vânio, um colega de empresa do Léo que mora no Brasil e estava em Lyon à trabalho. Ja contei para vocês que em Lyon existem cinco brasseries do sr. Bocuse e que cada uma tem cardapio e conceito diferentes. Minha experiência na Brasserie Nord não foi das melhores, mas na Brasserie L'Est foi diferente. O ambiente é bem mais descontraido e o cardapio tem mais a ver com o meu paladar. No Est a especialidade é a cozinha de viagens, ou seja, sabores menos regionais e mais internacionais.

O restaurante fica no 6° arrondissement (o distrito mais chique da cidade) e foi construido em uma antiga estação de trem, a Gare des Brotteaux - que virou monumento historico graças a sua arquitetura incrivel! Os preços são altos, mas o 'menu do dia' é super acessivel: entrada + prato ou prato + sobremesa por 19,90€ e entrada + prato + sobremesa por 22,90€. Escolhemos o menu com 3 opções e pude degustar mais uma vez a minha sobremesa preferida.

Entradas:

Confits de légumes Niçois: courgettes, aubergines et poivrons avec fines tranches de jambon cru et grissini
(conserva de legumes de Nice: abobrinha, beringela e pimentão com fatias finas de presunto cru e biscoito)

Terrine de jambon persillée tradition, avec salade vert et condiments
(patê de presunto com salsinha, salada e condimentos)

Pratos:

Filet de saumon de Norvège à l'oseille avec epinards frais en branches et pommes vapeur
(filé de salmão com espinafres frescos em ramos e batatas ao vapor)

Cochon fermier rôti à la broche "taillé dans le carré" avec pommes purée maison et jus ménagère
(leitão assado no espeto com purê de batatas e molho caseiro)

Sobremesas:

Gaufres grand-mére chantilly et chocolat
(waffer da vovó com chantilly e chocolate)


Meringues légères, glace vanille et chantilly
(suspiros com sorvete de creme, calda de chocolate e chantilly)



Brasserie L'Est
14, Place Jules Ferry
(Linha B do metrô - estação Brotteaux)
tel: 04 37 24 25 26



Para conhecer outros restaurantes em Lyon, clique aqui.  

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Feliz Ano Novo!

Não, eu não estou antecipando os fatos, o ano realmente acabou de começar para os franceses. Claro que eles brindam a noite de 31 de dezembro, mas o Ano Novo deles começa mesmo é em setembro. Quando um francês diz que no ano que vem vai começar a frequentar uma academia ou que a partir do proximo ano vai parar de fumar, ele esta falando de setembro e não de janeiro, como nos, brasileiros. É mais ou menos assim em toda a Europa. A Glenda comentou no blog dela que foi comprar uma agenda e ficou surpresa quando viu que também na Espanha as agendas e calendarios começam por setembro e não pelo primeiro dia de janeiro.

Ontem fui à reunião de boas vindas do meu curso de francês e a senhora que apresentou o programa veio me elogiar pelas otimas notas que recebi no ano passado. Ano passado eu ainda estava no Brasil, minha senhora! Demorou alguns segundos para entender que, na verdade, ela se referia ao semestre passado. Ainda me enrolo quando vejo uma noticia ou escuto alguém falar de algo que aconteceu no "ano passado". Nunca sei se foi realmente no ano de 2009 ou no primeiro semestre de 2010.

Também tenho dificuldades para me fazer entender quando preciso situar o tempo. Semana passada fomos almoçar no Insituto Paul Bocuse e, conversando com um cara que trabalha la, eu disse que no ano que vem  também vou estudar naquela escola. "Então você ja começa nas proximas semanas?", perguntou o rapaz. "Não querido, no ano quem vem - começo de 2011". Como me referir ao ano que vem se não posso chama-lo de "ano que vem"? Ainda não me acostumei com essa coisa de primeiro semestre de 2011, segundo semestre de 2010...

A culpa é do sol, tudo gira em torno dele. Não da para estudar nem trabalhar nos dois meses mais quentes do ano. Como o sol não da muito as caras por aqui, quando ele aparece é preciso aproveita-lo intensamente. Por isso, os meses de julho e agosto são, definitivamente, os mais esperados e amados pelos franceses. O ano escolar termina no final de junho e so recomeça em setembro. Afinal, que graça teria se as férias aqui fossem em dezembro/janeiro como no Brasil? Para onde viajar no inverno rigoroso, com temperaturas tão negativas? Passear como, se as ruas ficam cobertas de neve? No Brasil estamos acostumados a ter sol o ano todo, então não fazemos dele um personagem tão importante, como fazem os europeus. Achei super engraçado uma amiga escrever que depois das férias de verão, estava preparada para a rentrée.

Rentrée é como eles chamam esse comecinho de setembro, quando a festa acaba e a vida entra nos eixos novamente. A expressão, que significa retorno/recomeço, é usada quase sempre em tom melancolico: "E ai, pronto para a rentrée?". Traduzindo: pronto para as aulas chatas, depois de 60 dias curtindo o sol? Pronto para encarar o trabalho estressante, depois de viagens tão legais? Pronto para tirar os casacos do armario, depois de ir ao parque todo domingo fazer picnic? Os franceses estão cobertos de razão, depois de bronzear a pele e lavar a alma no mar, fica bem mais facil começar tudo de novo.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

As leis mais estranhas do mundo

Estava fuçando o mundão vasto da internet para entender melhor como funcionam as leis francesas, mas não tem jeito, por mais que eu tente levar minhas pesquisas a sério, acabo sempre encontrando futilidades mais interessantes. Você sabia que na França é proibido morrer, a menos que você ja tenha comprado um lote no cemitério? Que batizar um porco com o nome de Napoleão, da cadeia e que é ilegal tirar fotos de policiais ou de carros de policia, mesmo se eles aparecerem apenas no fundo? Aposto que não sabia! Dai vem passar as férias em Paris e empolgado para fotografar tudo o que vê pela frente, acaba clicando o guardinha e pronto, vai preso sem nem saber porque!

Pensando em você, querido leitor que vive sassaricando pelo mundo, fiz um apanhado das leis mais estranhas do planeta. Por mais absurdas que possam ser as brasileiras, exitem outras piores por ai, olha so:

1 - No Libano, os homens podem ter relações sexuais com animais, mas apenas do sexo feminino. Transou com macho, é pena de morte.

2 - Em Israel, é proibido enfiar o dedo no nariz aos sabados.

3 - Em Londres, Inglaterra, é terminantemente proibido morrer no Parlamento. Quem o fizer, sera preso.

4 - Também em Londres, uma mulher gravida tem o direito de se aliviar em publico, seja aonde for. Inclusive, se ela pedir, no capacete de um policial.

5 - Ja em Liverpool, é permitido vendedoras fazerem topless, desde que a loja venda peixes tropicais.

6 - Na Indonésia, a pena para a masturbação é a decaptação.

7 - Em Cali, Colômbia, uma mulher so pode ter a primeira relação sexual com o seu marido, se a sua mãe estiver presente para testemunhar o fato.

8 - Em Romboch, na Virginia, é proibido transar com as luzes acesas. Também vem de la a lei que inspira o Brasil: a corrupção é ilegal, menos para os politicos, que podem ser tão corruptos quanto quiserem.

9 - Em Vermont, as mulheres casadas precisam de uma autorização dos maridos, por escrito, para usar dentes falsos.

10 - Ja em Hong Kong, as mulheres são mais poderosas. Uma que tenha sido traida, pode legalmente matar o seu marido adultero, desde que seja com as mãos.

Depois, não diz que eu não avisei.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O atendimento (ou a falta dele) na França

Quem me acompanha no Twitter (segue ai! @13anosdepois) ja esta por dentro da minha irritação com a falta de praticidade dos franceses. Dia desses tentamos comprar um fogão que estava em uma promoção interessante, não conseguimos porque o produto não estava disponivel no estoque e o prazo para entrega seria de três semanas. Até la, a promoção teria acabado e mesmo efetuando a compra no periodo vigente da promoção, perderiamos as vantagens. Saimos da loja sem entender o raciocinio deles. Juro, tô boiando até agora. Coisas assim, sem sentido algum, são comuns por aqui.

Raro é encontrar alguma empresa que pague hora extra ou comissão aos seus funcionarios. Isso faz com que o atendimento em lojas, supermercados e restaurantes seja completamente diferente do que estamos acostumados a receber no Brasil. Vendedor francês dificilmente é simpatico e solicito, ja que não ganha comissão em cima das vendas que pratica. Se o camarada não ganha um centavo a mais pelas suas vendas, ele não vai perder tempo sorrindo para você. Para ele, tanto faz se você comprar a loja inteira ou sair de mãos abanando. Portanto, quem adora aquela paparicação brasileira quando sai para gastar, pode desistir de fazer compras na França.

Foi comprando as nossas alianças em uma joalheria daqui que notei como são grandes as diferenças em relação ao Brasil. A vendedora mal nos olhava, parecia que eu estava mendigando um pedaço de pão, quando na verdade estava comprando ouro. Ela tirou uma aliança da vitrine e fez cara feia quando pedi para olhar a segunda. Poxa, minha aliança de casamento tem que ficar bem no meu dedo, não da para escolher so olhando pela vitrine! Ela foi tão antipatica, mas tão antipatica que acabamos comprando em outra loja, atendidos por uma moça menos esnobe. De la pra ca, venho colecionando historias parecidas para contar. Sera que se não existisse comissão no Brasil, os vendedores também seriam assim, tão desinteressados?

O caso mais recente aconteceu ontem a noite quando saimos para jantar. Experimentamos um restaurante novo, mas eu queria a sobremesa do italiano que frequentamos quase todas as semanas. Como eram proximos, jantamos em um e caminhamos até o outro para saborear o tiramisu. Chegando la, o garçom se recusou a aceitar o nosso pedido. O lugar estava vazio, sobravam mesas e nem assim ele topou servir a sobremesa ao casal que come sempre ali. Se não for entrada + prato + sobremesa, nada feito! Deixou de ganhar alguns euros + gorgeta para se manter fiel ao sistema. Faz sentido?

Também estou me adaptando à questão dos horarios de fechamento. Se uma loja ou supermercado diz que fecha às 20h, significa que às 20h as luzes ja estarão apagadas, os caixas fechados e os funcionarios do lado de fora, e não que você pode chegar até às 19h55 para ser atendido, como acontece na terrinha. As 19h40 os seguranças passam encaminhando os clientes para o caixa (com aquela gentileza tipica daqui) e ninguém mais consegue entrar. Quem estiver vindo para a França tem que saber que se precisar de um absorvente às 20 para as oito da noite, não adianta correr até a farmacia mais proxima achando que vai dar tempo, não vai. A minha academia por exemplo, fecha às 21h, mas às 20h30 eles desligam o ar-condicionado, o radio e apagam metade das luzes.

Existem varios outros exemplos para ilustrar a falta de praticidade por aqui: nos bancos não se pode por exemplo, pagar contas pela internet - so indo na agência ou enviando um cheque pelo correio (isso mesmo, enviar cheques pelo correio é um habito comum entre os franceses). O voto eletrônico esta em fase de testes, enquanto no Brasil, ja usamos a urna eletrônica desde 1996. Em varios orgãos publicos, os funcionarios ainda usam aqueles livros enormes e antigos para anotar os dados, depois sofrem para encontrar o numero de um protocolo escrito à mão. Além de praticidade, falta raciocinio logico na vida desse povo, que muitas vezes, parece ter parado no tempo.

Leia também:

Related Posts with Thumbnails