sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Piquenique à francesa

Dizem que estamos no outono. Dizem, não acredito. Ja é quase novembro e as folhas insistem em continuar presas aos galhos das arvores, verdinhas que so vendo! Nessa mesma época do ano passado, o vento brincava mais intensamente com as folhas ressecadas que se juntavam aos montes pelo chão. Dessa vez o inverno passou a perna no outono e chegou antes, deixando os dias mais gelados e amenizando as cores amareladas e envelhecidas da minha estação preferida. Não tem jeito, é preciso se conformar. E a melhor maneira de se despedir do sol é permitir que ele te toque enquanto ainda tem forças. Por isso eu reuni os amigos no parque para um piquenique - o ultimo do ano com toda certeza.

O piquenique é uma atividade super importante dentro da cultura francesa. Alias, os franceses passam muito tempo fora de casa. Em cidades grandes como Lyon e Paris é mais facil perceber isso. Como os apartamentos são muito pequenos, qualquer motivo é desculpa para descer as escadas e mudar de ambiente. Francês adora ler na biblioteca, tomar café no café da esquina, praticar esportes nas areas construidas pela prefeitura. Os espaços publicos são uma extensão de suas residências, principalmente para os parisienses. Quando você estiver passeando por Paris, entre em um café e repare na quantidade de pessoas lendo tranquilamente ou navegando na internet, sem pressa alguma de se levantar.

Uma amiga francesa vai à biblioteca todas as tardes para estudar ou simplesmente para ler um livro, principalmente no inverno. Não so pelo ambiente propicio à leitura, mas também para evitar gastos com os aquecedores na casa dela - ja que essa é uma despesa bastante alta por aqui. Não sei se por ser brasileira ou por ser preguiçosa mesmo, eu acabo ficando em casa quando não tenho nada para fazer na rua. Ainda não tenho coragem de me vestir e enfrentar a neve so para roubar aquecimento alheio. Mas o habito de aproveitar os parques durante o verão, eu ja adquiri!

No começo da primavera, quando o frio começa a ir embora, os parques ficam lotados. Digo, sem exagero, que é dificil encontrar espaço para estender uma tolha, deitar e ler um livro. Em todos os bairros de Lyon existem pequenos parques, onde os pais levam as crianças para brincar. Não é nada comum por aqui que os prédios tenham areas de lazer como temos no Brasil (com piscinas, quadras, salões de festas, academias, brinquedoteca...), por isso os parques são como os jardins dos franceses. A melhor maneira de curti-los, é fazendo piquenique.

Dizem que a pratica começou depois da Revolução Francesa, quando os parques e florestas que cercavam os castelos reais foram abertos ao publico. Hoje ela é tão comum, que inventaram até o verbo piquiniquer. Franceses ricos piquinicam, franceses de classe média piquinicam, e claro, os pobres também. Bastam pequenas porções de comida para dividir com os amigos, queijos, vinhos, pães, uma grande toalha e disposição para ficar horas sentado no chão.


Quadro "Le Déjeuner sur l'herbe" (Almoço sobre a relva), de Claud Monet, que mostra um piquenique tipico burguês do século XIX.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

13 anos depois... é Outros500!

O Canal Multishow convidou 500 das pessoas mais conectadas da internet brasileira para participar de um projeto que pretende descobrir uma nova forma de interação entre TV e internet. E a partir de hoje, o "13 anos depois..." também é Outros500!

Nossa tarefa é selecionar e compartilhar o que ha de mais legal e novo nas midias. Divididos em 5 categorias: Musica, Viagens, Sexo, Humor e Cotidiano (da qual o bloguinho faz parte), eu e outros 499 blogueiros/twitteiros vamos tentar construir uma nova maneira de comunicação, que faz a sua propria programação, que cria, transforma e compartilha através do Twitter. São noticias, dicas, informações e curiosidades de todos os cantos do mundo, reunidos em um so lugar.

Você pode acompanhar a experiência através do www.outros500.tv e também pelo @13anosdepois. Não é o maximo?

domingo, 17 de outubro de 2010

A melodia das diferenças

Eu sempre soube que a minha verdade não é, necessariamente, a verdade absoluta sobre os fatos. Não é porque eu acho os franceses azedos, que eles realmente o são. Eu vejo assim, mas é so o meu jeito de ver as coisas. Os 30 anos de vida que carrego nas costas, as pessoas que ja conheci, os lugares em que vivi, as comidas que experimentei me fazem pensar assim. A minha bagagem é unica, assim como é a sua também. Por isso, temos olhares diferentes sobre as coisas. As vezes concordamos, mas claro (e ainda bem!) que nem sempre.

Tudo isso ficou ainda mais evidente nas ultimas semanas, quando a minha turma do curso de francês começou a se relacionar mais intensamente. Entre os longos almoços na cafeteria, as tardes na beira do rio e as varias festinhas que ja fizemos, pude conhecer melhor as bobagens que passam pela cabeça de cada um. Claro que as minhas ideias são bem diferentes das do Sultão, o cara que vem da Arabia Saudita. Julia, uma inglesa de 23 anos, também não tem la muitas afinidades com a egipcia, de 32. Assim como não têm a chinesa e o argentino, ja que ela não entende muito bem os ideais guevaristas defendidos por ele.

A japonesa também acha que na França os vendedores são grossos, porque la no Japão o cliente tem sempre razão e é super paparicado quando entra em uma loja. Ja a sueca discorda, acha os franceses super educados e atenciosos. Segundo ela, o frio da Suécia contribui para que as pessoas sejam muito distantes umas das outras. A chinesa acha muito fofo que os franceses falem sempre 'obrigado' e 'por favor', enquanto a chilena acha isso meio hipocrita.

O arabe adora a comida daqui! Conta que no pais dele o clima é tão quente, que não da nem para ter criações de animais ou plantações de frutas e verduras, por isso a comida de la é bem simples. Quando conto como é no Brasil, ele fica de olhos arregalados, me fazendo perceber o quanto somos desatenciosos com as riquezas naturais do nosso pais. Depois desse papo, ele decidiu organizar na casa dele uma festinha culinaria e cada um levou um prato tipico do seu pais.












Eu tenho uma certa adoração por esse cara, o Sultão, porque ele vai contra o esteriotipo ruim que os franceses nos influenciam a ter em relação aos arabes. Cada almoço é um interrogatorio, quase não deixo o pobre do rapaz engolir em paz. São mundos tão diferentes, que me encanta mesmo. Achei engraçadissimo ele contar que quando chegou na França, se assustou com as pessoas loiras e branquinhas. Ele sabia que elas existiam, mas nunca tinha visto uma assim, de perto. Então ele ficava encarando, um pouco com medo, um pouco curioso, até as pessoas se incomodarem. Ele também não se acostuma de jeito nenhum a fazer xixi em pé como os homens daqui, ja que por causa da sua religião os homens do seu pais fazem xixi sentados.

Tantas diferenças fazem com que as conversas da turma sejam ainda mais bacanas. De repente, o mundo que eu observava de longe pipocou para fora da televisão e bateu à minha porta - ou talvez, eu tenha batido na porta do mundo, teimando em fazer parte dele mais intensamente. Até então, o meu mundo, que se resumia basicamente ao Brasil e à França, cresceu, me fazendo crescer na mesma velocidade e descobrir que a banda toca sinfonias bem diferentes em cada canto do planeta. Longe de mim querer eleger a mais bonita, estou apenas descobrindo que é essa a dança que faz o mundo girar.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Roma: incrivel, incrivel!

Não que seja preciso uma desculpa para dar um pulinho em Roma, afinal, a cidade é logo ali e a passagem é uma pechincha. Mas ja que o tal do Bono Vox ia estar de bobeira com seus três melhores amigos por la, por que não passar e conferir, né? Então, fomos.


Como eu disse no Twitter (@13anosdepois), não da para negar que Paris é a cidade mais linda do mundo, mas Roma, meu amigo, é a mais incrivel! Não sei se so para mim isso faz sentido, mas é isso: Paris é linda, Roma é incrivel!


Estivemos la no ano passado, quando o Léo decidiu que estava na hora de se ajoelhar na frente de todo mundo e me pedir em casamento. O fez na Fontana di Trevi (eu sei, eu sei, o meu marido é genial!). Naquela época escrevi este post com dicas sobre a cidade, por isso não vou me estender muito dessa vez. Mas não posso deixar de falar sobre o show.

Ai gente, doeu o coração. Doeu porque é esse o sentimento que toma conta da gente quando percebemos que a idade chegou. Voilà, estou velha. Os publicos dos shows que tenho ido me mostram isso. Todos de cabelos brancos, danças contidas e aqueles malditos sapatênis nos pés! Mas, ah, como sou grata por ter nascido nos anos 80! Por ter tido a oportunidade de paquerar ao som do U2, por ter visto ao vivo, o gigantismo desse show, dessa banda, da voz do Bono. Foi incrivel, como tudo o que acontece em Roma.


Incrivel também é o passeio pela Ponte Milvio, acho que a mais antiga da cidade. Além de todo o peso historico que ela carrega, ha também o peso real, de milhares de cadeados presos ali por casais apaixonados. Não sei bem como surgiu a tradição, mas nessa ponte eles trocam juras de amor eterno, escrevem seus nomes em um cadeado, fecham e jogam a chave no rio, na esperança de que o amor dure para sempre. Romântico que so ele, o Léo me levou até la para garantir que o nosso nunca acabe (como se isso fosse possivel).




Rapidinhas:

O metrô de Roma é um caos! O mais sujo e feio que eu ja vi na Europa. Ainda pior são os usuarios, sem um pingo de educação. Jogam lixo no chão e não esperam os passageiros descerem, antes de subir.








Impossivel enganar o chefe com a desculpa de estar atrasado, por todo o centro da cidade existem centenas de relogios como o da foto. Embaixo deles, publicidade.














Por falar em publicidade, na cidade de Deus, o diabo também faz a festa! E ambos parecem saber dividir tranquilamente o mesmo espaço.















Não sei se é frescura ou precaução, mas todas as motos em Roma possuem essa proteção na frente. Coisa que eu nunca vi em nenhum outro lugar do mundo. Alguém sabe para que servem?








Os italianos são muito parecidos com os brasileiros. Espaçosos, falam alto e fazem amizade com todo mundo. Conhecemos nossos novos amigos no tramway. Um casal simpatico que mora em Nice (na França) ha mais de 30 anos. Trocamos endereços e ja combinamos de passar as proximas férias na casa de praia deles.


segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Como sobreviver em um restaurante francês

Embora restaurante seja restaurante em todo lugar do mundo, as condutas podem variar de acordo com a sua posição no mapa. Sair para jantar fora na França pode se revelar uma grande aventura, mas estas dicas podem ajudar:

1 - Pão e agua: Dois itens que não são cobrados nunca, por isso não se desespere quando o garçom colocar a cestinha de pães na sua mesa - ele não vai cobrar couvert. Mas a agua gratis é a da torneira, super consumida por aqui. Eu ja me acostumei e so tomo dela aonde quer que eu va. Se você preferir a agua mineral, precisa pagar. Para a agua da bica, peça une carafe d'eau e para a agua mineral, une bouteille d'eau.

2 - Personalizar o prato: Um habito que eu sempre mantive no Brasil foi o de pedir para tirar a salsinha do peixe ou para mandar fritas no lugar do purê, mas aqui na França eles não gostam disso. O prato é aquele que esta descrito no cardapio e você podera, no maximo, escolher o ponto da carne. Em restaurantes mais refinados até da para conseguir alterar um acompanhamento, mas é raro.

3 - Menu do dia: Nos cardapios você vai encontrar preços separados para entradas, pratos e sobremesas, mas todos os restaurantes oferecem também o 'menu do dia' (menu du jour) - uma opção bem mais barata. São dois ou três combinados diferentes por dia (entrada + prato + sobremesa, por exemplo). Vale muito a pena optar pelos menus, são eles que me permitem comer em restaurantes chiques sem gastar muito. E tem também o prato do dia (plat du jour), que é mais barato e servido mais rapidamente porque é preparado em grande quantidade. Pedir o plat du jour é uma das dicas mais valiosas que eu posso te dar.

4 - Bebidas: A bebida preferida dos franceses é o vinho. Eles almoçam e jantam tomando pelo menos uma taça. A maioria dos restaurantes possuem o vinho da casa (vin-maison), que é bem mais barato que os outros. Nem todos oferecem cerveja, e suco natural é dificilimo de encontrar. O que eles têm são garrafas de sucos industrializados, por isso me acostumei a beber so agua durante as refeições (da torneira, claro). Fique à vontade para pedir coca-cola, mas não estranhe se o garçom bufar.

5 - Entrada + prato + sobremesa: No Brasil não estamos acostumados a comer por etapas, como eles fazem aqui. Você não é obrigado a comer além do que sua fome pede, então não se sinta forçado a pedir entrada nem sobremesa se você so quiser um prato. Alguns restaurantes não servem so a entrada ou so a sobremesa, mas todos servem apenas os pratos se o cliente assim preferir. Lembre-se: quanto mais caro o restaurante, menos comida vem. Portanto, saiba que para se sentir satisfeito, um prato geralmente não é suficiente.

6 - Lentidão: O atendimento é muito lento nos restaurantes franceses. Não existe por aqui aquela quantidade enorme de garçons para atender os clientes. Eles demoram para trazer o cardapio, demoram para trazer os pratos e também demoram para trazer a conta. Não adianta bater o pé. Se estiver com pressa, a melhor opção é a brasserie, que serve com um pouquinho mais de agilidade (ou pedir o prato do dia, que eu citei acima). Ou então va ao Mc Donald's.

7 - Cardapio: Quase todos (para não dizer todos) os restaurantes mostram seus cardapios do lado de fora em lousas grandes (escritas com giz) ou pregados na parede de maneira mais discreta. Isso ajuda a decidir em qual restaurante entrar. Se você estiver passando na frente, é so olhar o cardapio para conhecer pratos e preços.

8 - Cigarro: Quando o inverno vai embora, as mesas que ficam do lado de fora, nas calçadas, são as mais disputadas. Se você decidir se sentar em uma delas, saiba que a lei que proibe o fumo dentro dos restaurantes não vale para os terrasses. Então, os clientes da mesa ao lado poderão fumar tranquilamente em cima de você, sem que você possa reclamar. Não suporta cheiro de cigarro? Sente-se do lado de dentro.

9
- Gorgeta: Não existe a cobrança dos 10% na França e nem a obrigação de dar gorgeta. As regras de etiqueta recomendam deixar em torno de 20% do valor final da conta, mas não é uma obrigação. Léo e eu so deixamos quando somos realmente bem atendidos - como isso é muito raro por aqui, os garçons quase nunca ficam com os nossos trocadinhos.

10 - Inglês/Francês: Nem todos os restaurantes oferecem cardapios em inglês. Os mais elegantes fazem questão de deixar tudo em francês, mas você pode perguntar ao garçom se ele fala inglês e pedir explicações sobre os pratos. Os restaurantes mais simples/rusticos também so possuem cardapios em francês. Nesses casos, os funcionarios provavelmente não vão falar inglês, por isso não é ma idéia levar um mini dicionario português/francês quando for comer fora. Os pratos são diferentes e, como eles enfeitam muito nas descrições, fica dificil decifrar o que esta escrito ali. Lembrando que em Paris quase todo mundo fala inglês, mas a França não é so Paris, né, gente?

Para finalizar, aproveite que esta na França e faça como os franceses: deslize um pedaço de pão pelo prato para recolher as migalhas que ficaram para tras. Não é falta de educação por aqui, pelo contrario, é tão normal que se você deixar restos ou molho no prato o garçom pode perguntar se não estava bom.

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