
Estou feliz que as eleições tenham acabado. Não estou feliz com o resultado, mas também não estaria se o outro canditado tivesse sido eleito, então, tanto faz. Minha felicidade é de alivio, por saber que agora o mundo volta a ser menos feroz e agressivo, principalmente o virtual. Ando assustada com as agressões que eleitores, de ambos os lados, andam publicando na internet. Atacar candidatos eu ainda entendo, mas ofender eleitores é o fim da picada. Como se você, por acreditar em caminhos que eu não acredito, fosse o heroi e eu, a vilã. Quem votou na Dilma, o fez porque pensa que ela governara melhor o Brasil, assim como quem votou no Serra pensa o mesmo sobre ele. Ninguém vota querendo errar.
"Na cultura politica brasileira, a esquerda encontra-se revestida de um valor politico e a direita, de uma conotação negativa. Os brasileiros, de modo geral, enchem a boca e estufam o peito ao se declararem de esquerda e reservam aos seus adversarios a injuriosa alcunha de 'direita', como se um representasse o bem e o outro, o mal. Nada mais estranho que esse comportamento no universo politico francês. Na cultura politica francesa, não ha qualquer maniqueismo nessa classificação, que é eminentemente utilitaria, servido apenas para identificar e agrupar as forças politicas conforme as suas afinidades e rivalidades." ¹ Essa historia de direita/esquerda surgiu durante a Revolução Francesa, identificando a distribuição espacial na Assembléia Nacional durante os debates em torno da constituição do pais. Os revolucionarios mais radicais, que eram contra o direito de veto do rei, sentavam-se à esquerda do plenario, enquanto as forças realistas, favoraveis ao veto, agrupavam-se à direita da assembléia. Nada além.
Os franceses são absurdamente mais interessados em politica que os brasileiros. Não faz o menor sentido dizer a eles que politica é um daqueles assuntos que não se discute. Eles debatem e falam sobre ela quase que diariamente, e cada um é muito orgulhoso da posição politica que tem. O cara que é de esquerda sabera expor de maneira clara os argumentos que defende, assim como o de direita, se for da vontade deles. Isso não quer dizer que os franceses gritam aos quatro cantos a que grupo politico pertencem, afinal, eles são bem reservados. Mas entre amigos e familiares é normal que se conheça a posição de cada um. O mais bonito é que todos se respeitam.
Acredito que boa parte da alienação dos brasileiros em relação à politica se deva à falta de acesso à informação bruta, direto da fonte, sem influência da midia - que no Brasil é totalmente tendenciosa. Para escutar o que um politico brasileiro tem a dizer, ou assistimos ao canal do Senado ou nos contentamos com o que a imprensa nos conta. Os canais abertos não dão espaço para programas e debates politicos porque o publico não se interessa pelo assunto. O publico não se interessa porque a maioria sequer sabe o que eles têm a dizer. Se não sabem é por causa da TV aberta, que não da espaço. Um ciclo vicioso, aonde todos saem perdendo.
Na TV francesa existem dezenas de programas de debates politicos. Neles, os politicos convidados fazem questão de discutir os assuntos mais polêmicos e de responder às perguntas da oposição, por mais agressivas e destrutivas que elas sejam. Direitistas e esquerdistas dão a cara a tapa, inclusive os mais extremistas. Um canditato totalmente contrario à politica de imigração, por exemplo, não vê problemas em assumir isso em rede nacional. Essa transparência de ideias faz com que os eleitores conheçam os fundamentos de cada partido e/ou canditado. No Brasil, os politicos adotam a superficialidade para não desagradar grupos de eleitores, incorporando discursos convenientes e quase nunca verdadeiros nas suas campanhas. Aqui, o perfil de um candidato é formatado de acordo com as propostas do seu partido, enquanto no Brasil, a imagem de um canditato é moldada para atingir o maximo de eleitores possivel (haja vista a questão do aborto nessas eleições).
Como se vê, ainda temos muito o que aprender com os franceses quando o assunto é politica. Não so os nossos candidatos, que precisam evoluir como os daqui, mas também o nosso povo. Aprender a respeitar aqueles que têm uma posição politica diferente da nossa ja seria um otimo começo.
¹. Ricardo Corrêa Coelho, Os Franceses, São Paulo, Editora Contexto, 2007, p.259.