sábado, 31 de dezembro de 2011

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

(des)encontros

Fico aqui pensando o que é que nos liga, você e eu. Sim, porque esses 2 anos de blog me mostraram que o universo sempre da um jeito de aproximar as pessoas que, por um escorregão do destino, deixaram de se trombar em um outro momento. A Samira, por exemplo, que levou o netbook pra casa, descobri no encontro do blog que ela estudou na mesma universidade que eu, em Mogi das Cruzes - e na mesma época! Papo vai, papo vem, acabamos descobrindo outras coincidências, mas o que mais impressiona é a mãe dela ter o mesmo nome da cidade onde eu nasci: Uberlândia!


O encontro permitiu que eu soubesse mais de pessoas que sabem tudo sobre mim. Pude tornar real amizades que ja eram especiais no mundo virtual - e chocar todo mundo com o meu novo corte joãozinho e a minha voz que ninguém espera que seja tão grossa.





E, voltando a falar de coincidências, o CD da Zaz sorteado aqui no blog vai para a Elizabeth Guttler, uma leitora que encheu a cabeça da filha que esta morando em Lyon para entrar em contato comigo e me convidar pra um café. Julia me contou que a mãe entra aqui praticamente todos os dias para ver se tem textos novos e que fala de mim em casa com o maior carinho, como se eu fosse da familia. Talvez eu tenha sido em uma outra vida, não é mesmo, Beth? Parabéns para você e para a @dricota, que garantiu o CD dela no encontro do blog! 


segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Musica francesa: Zaz

Atenção: este é um post musical! Dê play no video abaixo antes de começar a ler.



Um jeitinho meio riponga, completamente diferente da imagem chique que fazemos das mulheres francesas. Ar ingênuo e uma franja mal cortada, que me faz pensar que ela prefere gastar os 10 euros do cabeleireiro para tomar uma cerveja com os amigos - cerveja!, porque ela parece ser descolada demais para beber vinho. São esses os ingredientes que me fizeram cair de quatro pela nova queridinha da musica francesa (sem contar, é claro, o fato de ela ser dona da voz mais bonita que eu ja escutei). Zaz é a menina que te faz ter vontade de ser amiga dela porque ela representa, de alguma forma, o lado mais bacana do povo francês: a capacidade de ser feliz com aquilo que é simples, mas muito bem feito. 



Fui ao show dela na semana passada aqui em Lyon e fiquei ainda mais apaixonada quando ela entrou descalça no palco, conquistando com a sua voz poderosa a admiração de cada um daqueles franceses desanimados que ainda precisavam ser conquistados. Acho que todos sairam do show querendo comprar o CD da garota. Eu comprei logo três: um para mim e dois para vocês! Um para ser sorteado aqui no blog e outro no encontro de quinta-feira, em São Paulo (ta mesmo tão perto assim? Me belisca, me belisca!). O sorteio do blog vai ser na sexta-feira (se eu sobreviver à bagunça de quinta), combinado? Concorrem os que deixarem comentarios (não esqueça de colocar a cidade aonde mora). Aumenta o som e boa sorte!



Lembrando que o encontro é nessa quinta, dia 15/12, às 21h, em um restaurante japonês, o Zeni (que serve alguns pratos chineses como yaksoba e rolinho primavera - pra quem não gosta de peixe cru). Avenida Lavandisca, 648. Moema. Tel: 5055-7701

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Blogagem coletiva: Os 7 links do 13anosdepois...

Esses blogueiros de viagem vivem inventando alguma maneira de interagir, o que eu acho otimo, ja que isso me faz descobrir novos blogs, dicas e pessoas legais para seguir no Twitter (me segue ai!). Fico até com invejinha, porque essa turma é super unida e eu gostaria muito que os expatriados que escrevem sobre a cultura dos paises onde vivem fizessem o mesmo. Mas as rodinhas acabam se formando e, pior, se fechando demais. E é justamente por isso que a tal da blogagem coletiva me parece simpatica, porque assim, blogueiros e leitores se conectam, se descobrem, se ajudam. Bora cumprir então a missão que me foi dada.

Com a iniciativa da Claudia, do blog Aprendiz de Viajante, os blogueiros convidados tiram do bau dos arquivos os posts que melhor ilustram cada uma das sete categorias sugeridas por ela e depois listam outros sete blogueiros para dar continuidade à brincadeira. Sete parece ser o seu numero da sorte. Meu convite chegou através do Mauoscar, um dos blogs de viagem que eu mais gosto! Essa listinha também ajuda a fazer uma retrospectiva do que rolou por aqui nestes sete dois anos de blog.

1. O post mais bonito

Não fui eu quem o escreveu. O post mais bonito do blog é, sem sombras de duvidas, o que o meu irmão nos deu de presente de casamento. Perdi a conta de quantas pessoas me disseram que choraram lendo Das coisas que ninguém entende.

2. O post mais popular

Depende do que você entende por popular. O post mais comentado do blog tem so uma linha e me custou 10 segundos para escrever. O post que teve mais acessos/dia foi o do nosso casamento em Paris. O post que me traz mais visitas é o citado logo abaixo. Então depende do parâmetro. Pra mim, post popular é aquele que faz o leitor ter vontade de comentar, então seria o post do FIM.

3. O post que gerou mais discussão/controvérsia

O que não falta nesse blog é discussão, meu povo. Tem gente que usa da liberdade de poder comentar anonimamente para perder a linha rasgar o verbo. Mas acho que o post que mais divide opiniões é : Por que francês não toma banho?. Não é à toa que ele é até hoje o post mais lido do blog.

4. O post que ajudou/ajuda mais gente

Os posts sobre as tradições francesas ajudam muito, enriquecem. Os de viagem, por serem mais direcionados, também quebram um galhão! Mas nunca recebi tantos emails como quando escrevi Eu escolho você, no dia do aniversario do Léo. Acho que é um texto que tira as pessoas da inércia, fazendo com que elas tenham vontade de tomar as rédeas das suas vidas.

5. O post que o sucesso te surpreendeu

Eu diria que fiquei bem surpresa quando me dei conta de que eu não tenho poder nenhum de decisão sobre o fim do meu blog. Nunca um post meu teve tanta repercussão no Twitter, na caixa de comentarios (134!) e até em blogs alheios. Acabou sendo legal porque gente nova desembarcou por aqui e eu encontrei a motivação que estava faltando para continuar escrevendo.

6. O post que não recebeu a atenção que deveria

Atenção = comentarios, e os posts menos comentados aqui do blog são os de viagem. Acho que é por isso que eu morro de preguiça de escrevê-los. Sou uma blogueira carente que precisa de feedback, queridos. Ficar me matando para selecionar informações e fotos e não receber nem um obrigado depois é de lascar! Sim, porque vocês ai da turma de viagem podem até ser unidos, mas não são muito chegados nesse lance de comentar não, né? Acho que essa seção toda merece um chamego mais caloroso de vocês.

7. O post que você tem mais orgulho

Que item mais injusto! Vou ter que usar o clichê de que cada texto publicado é um filho parido, impossivel ter mais orgulho deste ou daquele. Mas vou citar o primeiro e o ultimo. O primeiro, porque me exigiu mais coragem do que todos os outros, afinal, é disso que a gente precisa quando tem uma necessidade enorme de assumir publicamente a maneira como (vi)vemos o mundo: de coragem! E o ultimo, porque também é de coragem que a gente precisa para não desistir no meio do caminho. E se tem uma coisa que me deixa orgulhosa nessa vida, meu amigo, é de não desistir nunca.



Os 7 blogueiros que eu adoraria ver respondendo as mesmas perguntas (regras aqui):


Juliana - Mala ou Mochila

Glenda - Coisa Parecida


Camila - Viaggiando

Natalia - Ziga da Zuca

Karine - Ka.entre .nos


quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Calendario do Advento

Franziska, a alemã fofa que estuda comigo, chegou toda contente na aula porque tinha acabado de receber pelo correio o Calendario do Advento que sua mãe havia lhe enviado.

- Calendario do que, Chica?
- Do Advento, oras! Vocês não têm isso no Brasil não?

Dai eu fui procurar saber e a resposta é: Não, infelizmente nos não seguimos a deliciosa tradição de ganhar chocolates durante os 24 dias que antecedem o natal! Por quê? Por queeê??? Eu-não-sei. Mas o Google me explicou que o Advento é o periodo que corresponde às quatro semanas que antecedem o natal. Um tempo em que as pessoas deveriam estar se arrependendo e promovendo a paz, mas que elas gastam contando as horas para comer um novo chocolate.

O Calendario do Advento, criado por um alemão (isso explica porque a tradição é tão forte na Alemanha - e na Europa - e porque a minha amiga, macaca velha de vinte e poucos anos, vira criança quando chega essa época de ganhar chocolates) é uma contagem regressiva para a noite de natal. Começa hoje, 1° de dezembro, e vai até o dia 24. O calendario tradicional tem 24 janelas, uma janela é aberta a cada dia e dentro delas os pais colocam agradinhos para as crianças, o que torna a espera pelo Papai Noel muito mais divertida, convenhamos. O mimo mais comum é o chocolate, mas também pode ser um brinquedinho. Hoje em dia ja tem calendario da Playmobil, da Hello Kitty, da Lego... Enfim, tem até calendario para o seu gatinho, com uma guloseima diferente para cada dia. Ou seja, perdemos o foco.

La no começo dessa historia, o que as crianças encontravam ao abrir as janelas eram versiculos da Biblia, mas ja faz uns 100 anos que a tradição tombou para o lado comercial. Dai, ja viu, né? A Chica criançada, que não sabe nem mais rezar o Pai Nosso, so quer saber de ir pra cama cedo para poder abrir mais uma janelinha ao acordar. Taih o Lucca, meu afilhado, que não me deixa mentir!

                                        
Os adultos também podem ganhar calendarios, viu, Léo? Nossa cumadi ganhou um de produtos de beleza. #ficaadica

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Resultado do sorteio + encontro do blog

113 comentarios? Onde é que vocês se escondem que eu não os vejo, hum? Não, tô brincando! Foi legal saber como é que cada um descobriu o blog. Eu ficava sufocada ao ler os comentarios que chegavam sem poder responder para não atrapalhar os numeros do sorteio. A galera que sempre comenta passou por la e passou também um monte de gente nova que resolveu sair da toca por um otimo motivo. Foi um prazer conhecer vocês! Acabei amolecendo o meu coração e coloquei todo mundo no sorteio. Para a minha felicidade, o netbook vai pras mãos de alguém que vira e mexe da pinta aqui no blog. Samira (mãe do Enzo), tô falando contigo, mulher! Me manda um email no blog13anosdepois@hotmail.com com o seu endereço, ok? Parabéns e obrigada pela companhia nesses dois anos de blog!


O papo agora é com você que não ganhou. Não fica triste que vão rolar outros sorteios por aqui, viu? Sou leonina, gosto de rasgar dinheiro dar presentes. Mas sabe o que seria ainda mais bacana? Se a gente se encontrasse ao vivo, né não? Pois vai rolar um encontro do blog la em São Paulo, tô doida para conhecer vocês! Dia 15 de dezembro, às 20h30, no meu restaurante japonês preferido, o Zeni, em Moema (Avenida Lavandisca, 648. Tel: 5055-7701). Quem quiser e puder aparecer, deixa um comentario (assim eu posso fazer a reserva para o numero certo de pessoas), combinado? Pra diminuir esse oceano de distância, é so aparecer!

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Bom dia, irmão!

Ja que não deu pra gente se despedir hoje cedo, estou aqui para dizer que amei o nosso final de semana. Vou me concentrar no abraço gostoso que nos demos depois de quase três anos para esquecer que você nos colocou para dormir em um colchão de ar furado, ta? Também não vou deixar que o fato de você ter aproveitado que eu estava no banho para ir dormir sem dar boa noite atrapalhe a nossa amizade. O que importa é que você nos alimentou com paçoquinha, e isso é tudo que uma amizade verdadeira precisa para sobreviver. Porque, você sabe, nessa nova vida que inventei pra mim eu acabo perdendo o rumo de vez em quando, mas dai eu vejo você, de chinelo RIDER no meio da sala, tirando do armario uma caixa de paçoquinha Yoki, e então eu me lembro de onde vim. E para onde devo seguir.


Não pôde ser meu irmão de sangue, então decidiu sê-lo de coração. Obrigada por caminhar comigo até aqui. Por favor, continue.



(Peço desculpas aos leitores por voltar de Londres sem dicas de viagem, mas é que não fomos visitar o palacio da rainha nem tirar fotos da roda gigante, também não fomos dar uma espiadinha nas obras reunidas do pintor italiano. Fomos visitar o que Londres tem de melhor mas que, infelizmente, nem todo turista tem a oportunidade de ver...)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Ano II + sorteio

Blogs são registros impiedosos da passagem do tempo. São diarios escancarados onde não so expomos a nossa vida mas também convidamos desconhecidos a participarem dela. Ter um blog aberto, e, acima de tudo, permitir que as pessoas opinem anonimamente sobre a sua vida é uma decisão que exige desapego. Porque até da para escolher não ser contrariado, mas, que graça teria? Eu me divirto com a confrontação de ideias.
Quando escrevi o post do primeiro aniversario do blog, agradeci imensamente o carinho dos leitores. Não escondi que é essa a relação que me motiva a continuar escrevendo. Não é dinheiro nem é status, é você. Ja faz dois anos que a gente se encontra por aqui. Eu venho pra contar, você vem para descobrir. Eu escrevo para compartilhar, você comenta para contribuir. A doce ilusão de que a nossa relação é mais proxima do que realmente é! Me faz bem e, imagino, faz bem para você também (senão você não estaria sempre por aqui). E saber que de alguma maneira eu provoco uma relação de bem querer entre mim e você é motivo mais do que suficiente para eu continuar.
Tantos blogs no mundo e você acaba voltando justamente no meu! Merece presente ou não merece? Ja esta virando tradição esse negocio de sortear alguma coisa no dia do aniversario do blog (eu sou daquelas que pensa que festa = presente), mas esse ano eu queria fazer algo diferente. Gostaria de presentear alguém que realmente acompanha o blog, so não sabia como fazer esse sorteio. E computador não é um negocio que a gente sai dando para qualquer um, né?
Computador? Sim! O blog esta sorteando um Netbook Samsung NC210 de 10", como o da foto abaixo. Um computador novinho pra você acessar o blog de qualquer lugar! E acho que o mais justo é sortear entre aquelas figurinhas que, atraves dos comentarios, estabelecem uma relação de troca comigo (não se preocupem, eu sei quem vocês são). Para participar do sorteio, basta fazer aquilo que você sempre faz, deixar um comentario me contando, sei la, como foi, por exemplo, que você descobriu o blog ou porque gosta dele. Porque ama a França? Porque gosta dos posts de viagem? Por causa da historia de amor que deu origem ao blog? Enfim, qualquer coisa, so para que eu possa fazer o sorteio entre aqueles que comentarem mesmo.

O Netbook que o blog esta sorteando!


Ficamos assim então, sorteio no dia 24/11, assim da tempo de todo mundo participar.

Não esqueça de colocar na mensagem a cidade onde mora. Boa sorte e muito obrigada pela companhia nesses dois anos de bloguinho!

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A arte de bater-boca como um francês

Não é segredo para ninguém que os franceses adoram bater o pé para reclamar. Também gostam de discutir por qualquer motivo e não abrem mão de bufar. Sim, os franceses bufam. Bufam quando são contrariados, bufam quando acabam as baguetes da boulangerie, bufam porque ja estamos em novembro e a temperatura ainda esta agradavel. Eles bufam por tudo e, acima de tudo, eles bufam por nada. Quando cheguei aqui, eu achava engraçadinho (afinal, ver adultos se comportando como crianças mimadas tem a sua dose de graça), depois passei a achar irritante e hoje eu ja acho normal, talvez porque eu tenha aprendido a bufar também. Não tem jeito, é uma esquisitice coletiva que você adquire com o tempo. 

Acontece que bufar é facil, basta soltar um "pfff" discreto e dar uma viradinha nos olhos para que todo mundo entenda que você não achou tal coisa legal. A bufada é a maneira mais facil de se fazer entender em terras gaulesas, ainda que você seja um estrangeiro. Dificil mesmo é aprender a bater-boca como um francês. Porque bater-boca não é isso ai que você esta pensando, não é sair gritando com o entregador porque a pizza chegou com uma hora de atraso, não é usar palavrões para xingar o motoqueiro que deu uma encostada no seu carro. Bater-boca, meu amigo, é a arte de colocar para fora toda a raiva que você esta sentindo, elevando levemente o tom da sua voz -sem gritar- e conseguir, assim, humilhar o seu adversario sem o uso de palavrões ou termos discriminatorios. E essa arte, anota ai, quem domina são os franceses.

Foram precisos dois anos convivendo com eles para aprender a distribuir pequenos coices eficazes. Digo coice porque patada é para os fracos, francês da é coice mesmo. Ja tomei coice de garçom, de professor, de vendedora e até de pipoqueiro! So que de uns tempos pra ca, eu comecei a revidar. A minha primeira vitima foi um vizinho folgado que sempre bate à nossa porta para reclamar. Toda vez é o Léo quem o atende, prometendo que vamos parar de fazer os barulhos que a gente ja não faz. Sabado passado quem abriu a porta fui eu:

- Bonsoir, madame, vocês estão fazendo barulho demais...
- Barulho? Que barulho, monsieur? 
- Andando. Vocês pisam muito forte.
- Ah, pois é, mas é assim que a gente anda. (detalhe: estavamos deitados no sofa vendo um filme)

Entrei no jogo dele. Não bati a porta, não fui grosseira, mas também não fiquei calada como fiz todas as outras vezes que um francês me chamou à atenção. Discuti de igual para igual, como eu faria se estivesse no Brasil. E ainda nos desejamos boa noite ao final da discussão - o toque de finesse que deve existir em todas as engueulades (que na verdade é o que diferencia um bate-boca brasileiro de um francês).
 
Vendo que eu era capaz de me comportar como eles, decidi não levar mais desaforos para casa. Confrontei até o motorista de ônibus que não parou no meu ponto para eu descer. O que eu faria uns meses atras? Xingaria mentalmente o cara, desceria calada no ponto seguinte e caminharia até a minha casa me odiando por não ter tido coragem de perguntar por que diabos ele não parou. Pois hoje eu bufei, caminhei até a frente do ônibus e perguntei se ele não tinha visto o meu sinal. Dei de cara com uma Mirelle que eu achei que tivesse ficado no Brasil, uma Mirelle justa, questionadora e, agora, chiquérrima - porque também sabe bater-boca em francês.

domingo, 2 de outubro de 2011

Parrainage

Em que momento da vida os estudantes de Sciences Po. se tornam  pessoas sérias eu não sei, mas na universidade não é. Tô pra ver gente mais festeira! O fato de Lyon ser uma cidade cheia de faculdades e instituições de ensino e, consequentemente, cheia de jovens, também não contribui muito para que os estudos venham em primeiro lugar. Tem festa todos os dias. E quando eu digo todos os dias eu não estou exagerando, tem festa todos os dias mesmo!

Eu tinha medo de ser completamente ignorada pelos franceses. A estranha que aparece no 4° ano querendo entrar em grupos de trabalho ja fechados, a estrangeira, 10 anos mais velha que o resto da turma, que almoça sozinha entre uma aula e outra. Então imagine como foi agradavel descobrir, logo no primeiro dia, que havia mais de 200 estrangeiros estudando ali. Duzentos passarinhos fora do ninho, assim como eu. Sem falar que os alunos franceses têm muito interesse em se relacionar com a gente, ja que todos eles são obrigados a fazer o 3° ano no exterior (em uma das dezenas de universidades conveniadas que mandam seus estudantes pra ca).

Uma das primeiras festas foi justamente para integrar melhor os alunos veteranos com os que acabavam de chegar, incluindo os estrangeiros. O convite me deixou apreensiva: "Venha com o seu melhor sapato". Eu esqueci completamente da mensagem misteriosa, apareci com uma sandalia velha e logo nos primeiros 5 minutos ja me arrependi de estar ali. Cada aluno deveria tirar um pé do sapato e coloca-lo junto à pilha que se formava no patio da universidade. Não tinha dia pior para eu ter calçado o unico sapato que me da chulé.
 Calouro paga cada mico, não?

Os veteranos se aproximavam da pilha de sapatos e pegavam um pé cada um. Tipo Cinderela, sabe? Logico que os meninos iam direto nos saltos mais altos, nos sapatos de boneca. As meninas so pegavam os tênis. E a minha sandalia (simplesinha, sem gracinha) foi ficando por la... 

 Franceses, não jugueis pelas aparências!

Até que um garoto teve a coragem de pegar aquela coisa fedorenta e, assim, me apadrinhar. Etienne, 20 anos, foi o meu primeiro padrinho francês na Sciences Po. Na teoria, cada "padrinho/madrinha" se coloca à disposição para ajudar os que acabam de chegar com duvidas sobre a cidade ou a escola. Na pratica é ainda mais divertido, eles se encarregam também de te enturmar. "Tô aqui pro que você precisar! Vou te dar meu telefone e se você quiser saber qual o melhor buteco da cidade, é so me ligar", me disse o fofo do Etienne. Saimos de la e fomos beber (agua, no meu caso, ja que eu sou velha).

Meu segundo padrinho eu conheci em uma outra festa, organizada por uma associação de estudantes da universidade. Colocaram em uma lista os nomes e nacionalidades de todos os estrangeiros para que os franceses escolhessem quem "apadrinhar". O aluno que esta querendo ir para a China no 3° ano acaba escolhendo um aluno chinês, assim eles  podem trocar figurinhas. Quem me escolheu foi o Diego, um francês que acabou de fazer o seu intercâmbio em Aracaju. Depois da reunião onde cada estrangeiro conheceu o seu padrinho, seguimos para festinhas particulares em apartamentos espalhados por toda a cidade. Otima oportunidade para conhecer gente nova e praticar o francês. Mais tarde, nos reencontramos todos em uma boate, onde esse blablabla de nacionalidade acaba virando um mero detalhe. Não sei nem que horas eram quando saimos de la, mas era tarde, muito tarde. 

Eu também tenho carinha de 20 anos, não?

Padrinhos cachaceiros e festas todas as noites, eu não sei como eles conseguem se formar.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Praga, Amsterdã, Berlim - onde se hospedar

Sabendo que o inicio do curso de Sciences Po. ia limitar consideravelmente as nossas viagens no proximo ano, o Léo e eu decidimos aproveitar bastante o ultimo verão. Uma das viagens foi um mochilão que fizemos por Praga, Amsterdã e Berlim. Uma viagem de 10 dias, onde aproveitamos para conhecer algumas opções de hospedagem diferentes das que estamos acostumados. 

Praga

Praga foi disparado a melhor parte da viagem, não so porque é rica em historia e tem uma arquitetura belissima, mas também porque é muito barata. Tudo por la é incrivelmente mais em conta que em outras cidades européias (Praga ja faz parte da União Européia, mas ainda não aderiu ao euro, o que explica os preços tão baixos). Por isso nos demos ao luxo de ficar em um hotel mais bacanudo nessa primeira parada. Um hotel 4 estrelas, perto do metrô e com uma otima tarifa de 55€ para o casal (sem café da manhã).




Amsterdã

O que conseguimos economizar em Praga, gastamos em Amsterdã - uma das cidades mais caras que ja visitamos. Se é caro para comer e se divertir, imagina para se hospedar! Até os albergues cobram diarias mais caras do que a que pagamos no 4 estrelas de Praga. Eu ja estava começando a considerar o Couchsurfing quando me lembrei da experiência deliciosa que tivemos nos hospedando na casa de um francês, e então fui tentar descobrir se poderiamos fazer o mesmo na Holanda. Encontrei o site Airbnb que propõe mais ou menos o mesmo esquema dos chambres d'hôtes na França: a reserva de um quarto na casa de um local, podendo ou não dividir as areas comuns da casa com ele. Nos decidimos ficar no apartamento do Mather


Não existe maneira melhor de entrar na cultura do que se hospedando na casa de um local, ainda mais quando o tempo de viagem é curtinho como era o nosso em Amsterdã. Logo de cara ja vimos varias caracteristicas que o Daniel descreve no blog dele. As escadinhas estreitas e os corredores que acabam virando o "quintal" dos apartamentos, onde os moradores deixam seus casacos, sapatos e tralhas no corredor, sem medo nenhum de serem roubados. Desde o primeiro minuto eu me senti na 2° Guerra, parecia que a Gestapo ia invadir o imovel a qualquer momento e nos levar. Quando é que eu teria a mesma sensação em um hotel?


Desta vez a hospedagem era mais simples, mas perfeita para o nosso bolso. Pagamos 55€ na diaria para o casal (sem café da manhã). Nosso anfitrião é um cara atencioso, que logo na nossa chegada nos deu dicas quentissimas da cidade, como uma pizzaria pequena frequentada apenas por locais. Também nos recomendou o seu restaurante preferido, um indonesiano, que nunca teriamos entrado se não tivesse sido indicado por ele. A comida era incrivel! 

So não pergunte pro Léo o que ele comeu (ele não tem a menor ideia!).

O quarto onde ficamos era exatamente como vimos nas fotos da internet, e ele ainda tinha uma estante cheia de livros sobre a Holanda e guias de Amsterdã. Como choveu o tempo todo nos 3 dias que passamos la, aproveitei para dar uma xeretada em tudo e ler coisas bem interessantes.


O lado chato da experiência foi ter que dividir o banheiro, fora isso foi bacana. A casa era simples, mas no mesmo site é possivel encontrar quartos maiores e com banheiro individual. Tem cada apartamento chique, meu amigo! Saimos bem contentes da casa do Mather e com a certeza de que vamos usar o Airbnb em outras viagens.


Berlim

Fim de viagem, sabe como é, né? O orçamento pede socorro! O lugar mais em conta que achamos em Berlim (eu nem olho albergues) foi o Easyhotel. Isso mesmo, um hotel da Easyjet, a compania low cost de avião. O esquema do hotel é o mesmo dos aviões, o preço é uma pechincha mas o conforto é pequeno. Pagamos 25€ na diaria para o casal (sem café da manhã). Gente, 25€ numa diaria para duas pessoas é um baita de um achado! Onde esta a pegadinha? Nos extras, que são cobrados a parte. Pagamos 3€/dia para usar a internet e pedimos 2 travesseiros extras, que nos custaram 2€ cada um. Se você quiser ter as toalhas trocadas, precisa pagar. Se quiser que limpem o quarto, também paga a mais. Até para ver TV tem que rolar uma graninha extra. Ainda assim o preço é imbativel, sem falar que o quarto, minusculo, é limpissimo e a cama é muito boa.



Recomendo para quem viaja com orçamento controlado e não fica muito tempo no hotel. O Léo e eu, por exemplo, saimos super cedo e so voltamos quando ja é tarde, tomamos um banho e depois, puft, cama! Acho também que se você não viaja sozinho, é preciso o minimo de intimidade com a outra pessoa para conseguir ficar preso numa boa nos 9m2 dos quartos. Namorados que se conhecem ha pouco tempo, esse hotel não é pra vocês! Pessoas que viajam com malas enormes também podem ter problemas. Mas para nos foi otimo! Quando eu for pra Londres, ja sei que é em um Easyhotel que vou me hospedar.

So não sei se ele vai querer me acompanhar...

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

CaroLinda


Ô mania de procurar aquilo que, na verdade, eu ja tenho. Essa minha caça desesperada por amigos que dificilmente vão ocupar o lugar deixado pelos que estão do lado de la. Sim, são poucos - pouquissimos, alias - mas são verdadeiros. Não tenho os melhores amigos do mundo porque, assim como eu, eles são cheios de defeitos: moram longe, esquecem o meu aniversario, não lêem o blog... enfim, são reais. Amigos de carne e osso com quem eu me sinto bem, com quem eu posso tagarelar sem medo de escorregar nos verbos e que não fazem eu me sentir estranha por tomar dois banhos por dia. Com eles é tudo leve e gostoso, é natural. Eles carregam neles um pouco da minha historia e revê-los me faz lembrar aquilo que eu ja fui e não sou mais.

O passado veio me visitar no ultimo fim de semana e então eu pude calçar de novo os sapatos da menina que se divertia em cima dos palcos. O teatro me trouxe muitas coisas boas e uma das melhores foi, sem duvidas, ela.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Sciences Po., baby!

A rentrée, finalmente! A mais esperada desde que cheguei por aqui (se você esta se perguntando o que é essa tal de rentrée, clica aqui). Passei as férias desejando que o ano começasse logo pra eu poder descobrir se eu tinha feito uma boa escolha ou me metido em uma grande furada. Ainda é cedo para concluir, mas posso adiantar que o meu ano escolar começou bem. Se você acompanha o blog ha algum tempo, deve se lembrar que eu queria estudar gastronomia, mas acabei desistindo no dia que o Léo me levou pra jantar no restaurante do Paul Bocuse. Se você chegou agora, eu faço um resumão da novela: Era uma vez uma jornalista que largou a carreira para morar na Europa e que, sem poder exercer a profissão que ama, decidiu seguir um novo caminho - o da culinaria. Acontece que essa pessoa não sabe (e não gosta de) cozinhar, então, depois de longos meses de angustia, decidiu que queria estudar Ciências Politicas para, no futuro, trabalhar como jornalista nessa area. A maluca indecisa sou eu, enchantée!

O curso de Ciências Politicas esta para os franceses assim como o de Medicina esta para os brasileiros, é a melhor maneira de deixar papai orgulhoso. Este é um curso tradicionalmente reservado aos intelectuais, aos alunos que sempre tiveram as melhores notas da sala e aos mais cultos. Ou melhor, era, até eu chegar para bagunçar tudo. Quando um francês pergunta o que eu vou estudar e eu respondo "Sciences Po.", sempre me olham com cara de "conta outra" e depois perguntam: "Humm, você passou no concurso? Conheço 5 pessoas que tentaram e nunca conseguiram entrar". Realmente, é dificil. Tão dificil que eu nunca teria entrado se tivesse que presta-lo.
 
Sei que para nos, brasileiros, pode não fazer muito sentido, mas a politica é tão importante para os franceses como são o queijo e o vinho. Todo francês, de qualquer idade e nivel social, se sente capaz de passar horas discutindo politica (nem todos o são de verdade, ok?). Então, imagine, se até o mais simples dos camponeses entende de politica, como não são sabidos os que seguem carreira nessa area. Quem decide por esse curso são, geralmente, crianças que, além de super inteligentes como eu disse antes, cresceram discutindo politica na mesa de jantar com os seus pais. Por pura coincidência, assisti ontem a um documentario na TV francesa que acompanhou a vida de seis jovens que se preparavam para passar em um desses concursos. Me desesperava ver a quantidade de livros e artigos que eles tiveram que ler, o dominio sobre variados assuntos que eles precisavam ter e a paciência para decorar todos os nomes importantes da politica francesa e mundial de todas as épocas e regimes. No final do documentario, o resultado: nenhum deles passou (e então eles foram fazer Historia, Direito e Geopolitica).

Bom, eu passei (não exatamente no mesmo concurso que eles, mas passei), e hoje tive a primeira reunião para saber como as coisas vão se desenrolar no proximo ano. Agora estou aqui, animadona com os meus duzentos papéis, tentando escolher quais matérias eu vou fazer. Todas tão interessantes, que eu não consigo me decidir. O que você acha, abro mão do curso de Geoestratégia da economia mundial para estudar as relações franco-alemãs depois de 1945 ou fico com as aulas do Prof. Abdelmaki mesmo?

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Troca linguistica

Ja que todos os meus amigos resolveram ir embora, não me resta outra alternativa a não ser procurar novas companhias (e quando você percebe que esta correndo atras de amigos, é porque a coisa ta feia mesmo). Acontece que de uns tempos pra ca eu tenho tido dificuldades para investir neste tipo de relação. E nem é porque uma hora ou outra todo mundo vai embora, eu até ja me conformei, vai ver as pessoas estão menos interessantes hoje em dia, enfim. Sei que o fato de morar na França também não ajuda muito, o povo aqui é, digamos, um pouquinho mais fechado que o normal. Mesmo assim, deixei a vergonha de lado e sai confiante procurando um novo amiguinho pra adicionar no Facebook.
 
Na verdade eu estava mais interessada em falar francês que em ser amiga de alguém, mas acabei dando sorte. Descobri um site onde as pessoas se cadastram para praticar idiomas que não os seus maternos. Eu, brasileira, queria praticar o francês, então fui atras de um francês que quisesse aprender/praticar a lingua portuguesa. Sim, esses malucos existem! So em Lyon encontrei cinco anuncios de franceses interessados no português, entre eles o do Cédric - um cara que ja morou na Espanha, nos EUA e que, além de falar 4 idiomas, é apaixonado por tango. Esse site propõe 3 tipos de trocas linguisticas, não so no tête-à-tête (pessoalmente), como também por email ou por chats (falados ou escritos). Por isso, até você que esta ai no Brasil querendo pôr em pratica o seu francês/inglês/espanhol ou qualquer outra lingua pode se inscrever. 

Depois de alguns emails, Cédric e eu marcamos de tomar um café. Nesse dia passamos umas cinco horas jogando conversa fora - uma parte do tempo em francês, outra em português. Cédric fala muito bem a nossa lingua graças ao cursinho de português que fez quando passou uma temporada na Argentina. Ele so não domina ainda a parte xula do vocabulario (mas eu ja estou trabalhando nisso). Depois desse primeiro café, vieram outros e mais outros, sempre nesse esquema de falar ao maximo as duas linguas. Fomos ao museu, ele provou o arroz com feijão aqui de casa e até pro tango ele conseguiu me arrastar! Viramos amigos. E dessa amizade nasceram outras. Entre elas, com a Andrea, a minha mais nova melhor amiga de infância. Divertida, carinhosa, especial - e confirma a maxima de que ninguém é perfeito, sendo argentina.

Tenho gostado do que venho recebendo quando saio da minha zona de conforto. Marcar encontro com um estranho simplesmente para falar francês não era uma opção muito atraente até pouco tempo e acabou dando certo. O problema é que se eu continuar conhecendo franceses e argentinos legais como os que ja conheço, terei que parar de implicar com eles. Dai, ja viu, né? Vai sobrar pros brasileiros.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Dubrovnik, o xodozinho da Croacia

Nem vale a pena comparar Dubrovnik com outras cidades européias. O que existe la so existe la e ponto. Dubrovnik é unica porque é magica e alegre, e também porque tem as paisagens mais bonitas que a gente pode ver quando sai de férias.


Chegar em Dubrovnik é que da uma certa canseira. De Trogir até la foram seis horas de ônibus, rodando pelos penhascos da costa adriatica com um certo medinho de morrer (também existem vôos diretos, mas pra que voar se podemos passar perrengue na estrada, né?). Eh preciso atravessar um pedaço da Bosnia-Herzegovina e nas fronteiras de entrada e saida do pais, guardas entram nos ônibus para verificar os passaportes. Brasileiros precisam de visto para a permanência, mas como estavamos so de passagem, não tivemos problemas.

Dubrovnik é a cidade mais famosa da Dalmacia (a região de onde vem os cachorrinhos manchados do filme). O que mais encanta é o centro medieval rodeado por muralhas.  Um terremoto em 1667 danificou algumas construções, mas ainda assim a cidade conseguiu preservar monumentos, igrejas e palacios que podem ter um estilo gotico, renascentista ou barroco.


Nos anos 90, durante um conflito armado na região, a cidade foi bombardeada e quase 70% de tudo foi novamente danificado, mas a UNESCO coordenou uma grande restauração depois disso. Da para fazer um passeio pelas muralhas que cercam a parte mais antiga de Dubrovnik. A vista la de cima é incrivel!


So não considero Dubrovnik o destino perfeito porque não gostei das praias. A mais famosa é a de Banje (ao lado da cidade antiga), que tem uma faixa de areia muito pequena e pouquissima infra-estrutura se comparada à praia que mais gostamos em Trogir, a Okrug


Embora existam outras praias, preferimos não estender nossas toalhas em outro lugar. Acreditamos quando nos disseram que as melhores praias ficavam nas ilhas, por isso pagamos 30€ por pessoa para fazer um passeio de barco que passaria pelas três ilhas mais bonitas. O nosso azar é que estava um tempo horrivel e por isso a nossa experiência não foi nada legal. O barco balançava muito, a comida que eles serviram estava horrivel e as ilhas não são tão bonitas assim.


O passeio simplesmente não compensa! As ilhas não oferecem nada que o viajante não possa encontrar em terra firme.


Apesar dos pesares, Dubrovnik é um lugar que a gente deve voltar muito em breve. Um lugar onde come-se bem, onde as pessoas que lidam diretamente com os turistas conseguem ser simpaticas e atenciosas e que ainda não é caro, como os destinos mais badalados do verão europeu costumam ser.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Canicule

Que somos influenciados pelo meio em que vivemos a ciência ja provou. Calor forte para nos, brasileiro, é o quê? Uns 40 graus? Na minha terra, por exemplo, se faz 20°C no inverno, o povo sai com cachecol e blusa de frio. Aqui na França, basta fazer 14°C no começo da primavera que ta todo mundo de sandalia e pernas de fora. Sofri muito no primeiro inverno que passei em Lyon. O segundo foi melhor e acho que vou tirar de letra o terceiro porque meu corpo ja esta mais acostumado com o tempo que faz aqui. Se acostumou tanto, que até pede arrego quando os termômetros passam dos 30°C.

Não tenho ânimo para sair nem para comer, so consigo beber agua. Se eu, que sou brasileira, tô comendo o pão que o diabo amassou com o calor que esse final de verão trouxe para a França, imagina como estão sofrendo os franceses! Sério, é preocupante. Para o fim de semana estão previstos 38 graus, trinta e oito insuportaveis graus Celsius! Algumas regiões (incluindo a que eu moro) estão em alerta orange, o penultimo na escala de risco. E ai, as pessoas entram em pânico, como se fosse chegar um super furacão e matar todo mundo. 


Esse periodo de dias muito quentes é chamado canicule e a imprensa francesa so fala nisso. Até ontem estavam todos reclamando do verão de merde desse ano (choveu muito e até frio fez), mas agora que o pessoal ja voltou da praia e esta se preparando para a rentrée, a  preocupação é, principalmente, com os idosos. Isso porque eles perdem a noção de sede e, como a maioria dos velhinhos franceses mora sozinha, eles acabam se desitradando e, muitas vezes, morrendo.

A pior onda de calor foi em 2003, morreu tanta gente de uma so vez, que os necrotérios ficaram lotados. Em Rungis, na região parisiense (onde fica o maior mercado de produtos frescos do mundo), um hangar refrigerado chegou a ser emprestado para conservar os corpos até a hora dos enterros. Na época, o governo tentou amenizar a situação anunciando cinco mil mortos, mas uma associação de funerarias contestou dizendo que ja passava de dez mil o numero de caixões vendidos. Até o final daquele verão morreram 15 mil pessoas a mais que nos verões anteriores - a maioria era idosa.

Até existe um plano de ação para tentar evitar que a tragédia de 2003 se repita, com medidas e conselhos que todos devem seguir (tipo plano de guerra - quando as pessoas armazenam comida em casa ou correm para o porão ao escutar uma bomba). Mas um desses conselhos é evitar sair entre 11 da manhã e 9 da noite. Agora, me diz: como prender o povo em casa no penultimo fim de semana das férias, se o sol ta bombando la fora? Eu, por exemplo, ja combinei com o Léo de pegar uma corzinha na piscina publica. Acho que sendo brasileira eu corro menos risco de morrer por causa de sol, né?

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Um dia muito especial

Nunca na historia dessa minha vida eu pensei que moraria na França. Nunca quis, nunca planejei. Mas hoje, quando paro pra pensar, vejo que a França, de uma forma ou de outra, sempre deu pinta na minha historia. A começar pelo meu nome: Mirelle - como a famosa cantora Mireille Mathieu. Eu ja tinha o Matias, então a minha mãe pensou: "vou colocar Mirelle porque dai fica bem parecido com o nome da cantora francesa". Pior é o meu irmão, que se chama Vandré por causa do Geraldo.

Durante os 29 anos em que morei no Brasil enchi a boca para responder com um orgulhoso "é francês" sempre que alguém dizia que o meu nome era bonito. Ai eu cheguei na França e descobri que Mirelle é tudo, menos francês. Faltou um i, mãe! Uma vogalzinha de nada que muda tudo! Não tem um so francês que não me chame de Miréie, que é como se pronuncia o Mireille por aqui. Ai, eu corrijo: "Miréie não, Mirrrrrrrélle - minha mãe esqueceu do i.". Acabam me chamando de Mi mesmo.

Se você for apegado aos detalhes, o resto desse texto não vai fazer nenhum sentido para você. Mas se, assim como a minha mãe, você ignorar essa problematica do i, pode considerar que hoje, dia 15 de agosto, é o meu dia aqui na França. Explico: na época que a França ainda era um pais catolico, as pessoas seguiam a tradição de dar aos seus filhos os nomes dos santos que morreram no dia do nascimento das crianças. Por exemplo, a filha nasceu no dia 15 de agosto? Então vai se chamar Mireille, que é o dia da morte da Santa Mireille, e assim por diante.

Ja faz muito tempo que os franceses deram de ombros para o catolicismo e suas tradições, mas eles continuam gostando de fazer farra com essa festa dos nomes. Existem até cartões nas papelarias desejando "boas festas, fulano de tal". E praticamente todos os nomes têm o seu dia especial. O do Leonardo, por exemplo, é dia 6 de novembro. Eu tive mais sorte, porque no meu dia é até feriado aqui na França (não por causa da tal Santa Mireille, que nem foi tão importante assim, mas porque é o dia da Ascenção de Maria). De qualquer forma, é otimo saber que no "Dia da Mirelle" eu sempre vou ficar de pernas pro ar. Se o seu nome não for muito esdruxulo, você também pode tentar descobrir qual é o seu dia na França, basta dar uma afrancesada nele e clicar aqui.

domingo, 14 de agosto de 2011

Dica de seriado: "Fais pas ci fais pas ça" + sorteio

Lembra quando eu contei aqui que eu tinha pânico de atender o telefone na França? Pois é, passou. Na verdade eu tenho me sentido bem mais confiante em relação à lingua francesa. Vira e mexe recebo emails perguntando quanto tempo é necessario para aprender francês morando na França. Sempre dou a mesma resposta: depende. Tenho uma amiga espanhola que chegou aqui sem falar nada e no final do semestre teve as melhores notas da turma. Caxiona! Estudava 5 horas por dia, vivia para os livros. Também conheço um americano que mora em Lyon ha anos e compra baguete fazendo mimica porque se fechou em um circulo onde todos falam inglês. Realmente não da pra prever. 

Quando cheguei eu não falava nem mesmo bonjour. Fiz um ano de curso, tirando sempre notas altas, mas, confesso, so estudava para as provas. Se eu tivesse enfiado a cara nos livros como a Miréia fez, talvez eu falasse melhor hoje. Outra 'desvantagem' é ser casada com um brasileiro, porque falamos português em casa. A grande maioria dos estrangeiros que vem morar aqui, mantém de alguma forma um contato mais proximo e diario com os franceses, seja porque se casaram com um, seja porque moram com familias francesas ou em colocação com estudantes franceses. Essa é realmente a melhor maneira de aprender um idioma, falando. Vale até fugir de brasileiros para aprender mais rapido!

Como eu não vou trocar de marido, me viro como posso para aprender o idioma e também sobre os habitos desse povo. Além de ter feito bons amigos franceses - que se sentem super à vontade para responder as perguntas da "brasileira curiosa" aqui - vou muito ao cinema e assisto TV para "treinar os ouvidos". E como eu sei que muitos dos que passam por aqui estudam francês e também se interessam pelos habitos e cultura francesa, achei que seria legal dividir a minha mais recente descoberta no blog: o seriado "Fais pas ci fais pas ça" (não faça isso, não faça aquilo - tradução livre). Ele ja existe ha um tempão, mas so o conheci agora. Fez tanto sucesso que até os americanos copiaram a formula com o seriado Modern Family.

São duas familias complicadas e divertidas que acabam se relacionando. O primeiro casal, Denis e Valérie Bouley, são pais de duas crianças - daqueles que fazem de tudo para não repetir a educação autoritaria que receberam dos pais. Eles querem ser amados pelos filhos e acreditam que eles devam fazer as suas escolhas sozinhos, errando e crescendo. Mas a verdade é que eles nunca estão de acordo, mudam a todo o tempo o sistema de educação das crianças e vivem estressados. Renaud e Fabienne Lepic, o segundo casal, são o oposto. Pais de quatro, acham que a rigidez é a chave para o sucesso. Exigem que os filhos andem na linha e são controladores, so que explodem frente aos menores problemas. As relações entre os personagens retratam muito bem como vivem as familias francesas  hoje em dia, hi-la-ri-o!

Este ano foi lançado uma box com oito DVDs, que trazem as três temporadas completas (até agora so foram feitas três mesmo, infelizmente), e o blog vai sortear essa box no proximo domingo, dia 21/08, pelo Random. Para participar não precisa ser seguidor do blog, nem dar RT no Twitter. Também não precisa mandar Bolin-bola pra minha casa não, viu? (Essa historia merece um post!) Basta deixar um email valido (é através dele que vou entrar em contato com o ganhador) e preencher todos os dados corretamente. Boa sorte!

*Atualizando em 21/08: A sorteada foi a Erika Mota, ja entrei em contato para solicitar o endereço e enviar os DVDs. Valeu, pessoal! Logo mais pinta outro sorteio por aqui.



sábado, 6 de agosto de 2011

3ponto1

E quando a gente começa a se acostumar com as diferenças, eles vão embora. Quando o sotaque inglês passa a deslizar facil pelos ouvidos, Julia precisa partir. Quando me acostumo com o abraço apertado da colombiana, que faz eu me sentir em casa, Laura decide que quer voltar. Foi a primeira vez que encontrei no meio de tantos irmãos, uma irmã mais nova, loira e linda, de olhos azuis como as bonecas que eu ganhava na infância, mas até a minha menina sueca sentiu que era hora de arrumar as malas. Eles foram de vez, pra nunca mais voltar. E eu? Faço o que com esse vazio imenso que ficou aqui?


Foi a primeira vez que perdi todos os meus amigos ao mesmo tempo. Dificil é isso, saber que essa foi so a primeira vez. Até quando deixei o Brasil foi mais facil, afinal, era eu quem estava começando uma vida nova. Enganei a saudade com novas descobertas e pronto. Mas dessa vez quem ficou fui eu, sozinha e com um verão inteiro pela frente. Um verão sem churrascos na varanda do apartamento novo, sem passeios na beira do rio, sem os nossos pic-nics no parque. Um verãozinho bem meia boca, para falar a verdade.

Eh final de ano na Europa, o que significa que pessoas vão partir. Amigos, irmãos, compadres. Espanhois, chineses, franceses e até brasileiros colocando um ponto final em uma fase que, para mim, ainda não terminou. Fica a lembrança de tudo o que vivi e aprendi com eles e a certeza de que eu também deixei lições importantes guardadas na memoria de cada um:



31 anos hoje, e eu so queria que vocês estivessem aqui para dividir bolo e besteiras comigo.

J'ai 31 ans aujourd'hui et tout ce que je voudrais, c'est que vous soyez ici pour partager le gâteau et des conneries avec moi.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Descobrindo a Croacia - Trogir

Marco Polo, o viajante mais famoso da historia, não nasceu em Veneza como ensinam os livros - pelo menos é isso que afirmam os croatas. O explorador teria nascido em uma ilha da Croacia, chamada Korčula. As gravatas, esse pedacinho de tecido que deixam os homens muito mais charmosos (na minha opinião), foram inventadas pelos croatas. Os cachorros manchados que ficaram famosos no filme 101 Dalmatas, advinha?, também são de origem croata - e essas são apenas 3 coisas que você provavelmente não sabia sobre esse pais tão especial que acabamos de visitar.


Outra coisa que você talvez não saiba é que a Croacia é o novo destino da moda entre os europeus. Um pais que ha duas décadas ainda estava em guerra e que usou o turismo para levantar a economia e começar uma nova historia.

Trogir

Nossa primeira parada foi em Trogir, uma vilazinha de 2.300 anos, Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, cuja principal atração é o seu centro historico (que na verdade é uma ilha com igrejas, castelos, muralhas e uma fortaleza!). Tudo incrivelmente bem conservado.


Trogir ja pertenceu a varios paises, à França inclusive, mas quem mais deixou influências por la foram os italianos. A começar pelo sotaque, a lingua é o croata mas o sotaque é italiano. Quase todos os restaurantes servem massas e até o jeitão de ser do povo croata é parecido com o dos italianos. Eles falam alto e sorriem como se te conhecessem ha anos. O dono do apartamento que alugamos em Trogir nos parava todos os dias quando voltavamos da praia para saber se tinhamos nos divertido ou se precisavamos de algo. No ultimo dia nos deu até um presentinho, vê se pode.


Quase todo mundo que se relaciona de alguma forma com o turista fala inglês além de alguma outra lingua (alemão e italiano, principalmente). O proprietario do apto. de Dubrovnik talvez seja a unica pessoa da Croacia que não fale uma so palavra em inglês, mas nem por isso foi menos simpatico com a gente. Embora o Léo e eu não saibamos nada de croata, conversamos e rimos muito com o senhor que ria ainda mais da gente quando tentavamos decifrar aquela lingua complicada dele. Era engraçado, ele tentando se fazer entender em croata e alemão e nos dois forçando a barra no inglês, francês e, vai que cola, no português.


Lembrei de quando voltavamos do Marrocos e acordei no meio do vôo ouvindo meu sogro conversar com um francês que estava sentado ao seu lado, a nossa frente. Aproximei os ouvidos para ver se eu não estava delirando. O meu sogro, que não fala nem francês nem inglês, estava no maior papo com um francês, que não falava nada de português. "Como pode uma coisa dessas?", pensei. O papo durou o vôo todo e so agora, na Croacia, eu entendi que é possivel conversar mesmo se as pessoas não falam a mesma lingua. Mas, atenção! So funciona com quem tem fome de mundo.


Logo que chegamos a Trogir, passamos no hotel para trocar de roupa e saimos andando em direção à praia. Mas, ué, cadê a praia? Andamos por quase uma hora, pedimos varias informações e a tal praia badalada não aparecia nunca. Subimos e descemos o morro pela estrada, pedimos carona e so na hora de ir embora é que descobrimos que existem barcos que saem para quase todas as praias bem de frente ao forte, no centro medieval (com bilhetes que custam em média 2€).


Trogir foi a melhor parte da viagem. Tão legal que abrimos mão de conhecer Split so para curtir mais a praia de Okrug, carinhosamente apelidada de Orkut pelo Léo. "Amor, qual praia vamos hoje?", "Vamos pro Orkut, né?". Mas preciso ser honesta, embora a Croacia tenha cidades interessantissimas, gente bacana, comida boa e ainda não seja um lugar tão caro para ir no verão, praia é uma coisa que eles não têm, não. Elas são de pedra e pequenas. O Mar Adriatico é transparente e calmo, uma delicia, mas praia mesmo, do jeito que nos brasileiros estamos acostumados a ver no Brasil, não tem. O que não quer dizer que elas não são interessantes. Até curti ir embora da praia sem levar comigo aquele montão de areia dentro do biquini.


Conhecemos outras praias, mas a Orkut Okrug foi a que mais gostamos. Ela tem uma super infra-estrutura, principalmente para quem viaja com crianças. Muitos bares legais, restaurantes e até um vendedor de milho que passa de vez em quando. Eu sei que muita gente reclama dos vendedores ambulantes que enchem o saco na praia, mas quando você mora na França, meu amigo, o barulho da buzina de um vendedor de milho é tudo o que você mais deseja ouvir nas férias de verão.

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