sábado, 28 de maio de 2011

Fête des voisins

Francês, vocês sabem, é um povo fechado que precisa de um empurrãozinho para socializar. Como os prédios daqui não têm salões de festas, piscina, salão de jogos, academia e aquela coisa toda que os prédios no Brasil costumam ter, fica ainda mais dificil encontrar uma desculpa para bater um bom papo com o vizinho. Os raros encontros acontecem no elevador (e o assunto é invariavelmente a temperatura) ou no deposito de lixo, onde o assunto... bem, onde não tem assunto nenhum. Foi por isso que eles, criativos como são, resolveram criar a tal Fête des voisins


A 'Festa dos vizinhos' acontece em toda a França ha 12 anos e tem até data fixa no calendario: sempre na ultima sexta-feira de maio. O proposito é tirar dos seus m2 todos os franceses que não saem da toca nos outros 364 dias do ano para ver se assim as pessoas se aproximam daqueles que moram logo ao lado.


Fiquei meio desconfiada quando vi, no começo da semana, o cartaz perto do elevador avisando sobre o evento. Tinhamos que colocar os nossos nomes ali, confirmando a presença, e escrever também o cada um iria levar. Nos eramos os segundos da lista. E os ultimos também. Até a hora da festa ninguém escreveu mais nada ali. "Puta povo desanimado!", pensei. Mas, que nada! Apareceu um bocado de gente e eu fiquei felizona de descobrir que os meus novos vizinhos são bem legais. Em menos de meia hora todo mundo ja estava se "tutoiando". Explico: A lingua francesa tem essa frescura que eu não domino muito bem, existem duas formas diferentes de tratar as pessoas, o vous e o tu. O vous é mais polido, obrigatorio para se dirigir a alguém que você não conhece ou conhece muito pouco.

Em teoria é tudo muito simples: idosos, pessoas que eu não conheço, chefes e professores eu trato por vous. Com amigos, crianças e pessoas da mesma idade (em situações informais como uma soirée) eu posso usar o tu. Mas na pratica não é tão facil assim. Eu tenho uma dificuldade absurda para saber a partir de que momento eu posso passar do vous para o tu, e para não errar eu "vousvoio" todo mundo. Cada francês tem uma teoria para o assunto. Alguns dizem que o tu é sinal de respeito, outros dizem que é questão de intimidade. Por isso, o  fato de, com apenas 30 minutos de conversa, ver os proprios franceses se "tutoiando" (e olha que tinha gente de todas as idades) é a maior prova de que a festinha foi um sucesso! Ja começamos até a programar um churrasco e nos fizeram prometer que vai ter caipirinha. Não custa nada pôr em pratica a politica da boa vizinhança, pelo menos uma vez ao ano.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Paris - roteiros do Cinema, guloseimas e mais

Todos os anos fazemos questão de comemorar nosso aniversario em Paris, para relembrar o nosso reencontro. No roteiro deste ano estava o canal da Amélie Poulain, o mercado de pulgas mais antigo do mundo, a livraria mais charmosa de Paris, kouignettes do melhor ouvrier da França, macarrons Ladurée e muitas horas em cima das Vélibs, com direito a uma paradinha aos pés da Torre - porque também somos filhos de Deus!

Canal Saint-Martin:

Um dos 'pequenos prazeres' da Amélie Poulain (filme "O fabuloso destino de Amélie Poulain") era jogar pedrinhas nas aguas desse canal. As cenas são lindas e como o nosso hotel era logo ao lado, fomos conferir se a Amélie tinha razão.



O  lugar exato de onde ela joga as pedrinhas é fechado ao publico, mesmo assim vale o passeio. O Canal foi construido em 1825 e tem a sua volta prédios muito antigos de estilo burguês, hoje ocupados por uma nova geração de artistas que se instalaram la nos ultimos anos, depois que a região voltou a estar na moda. A dica é percorrer o canal de bicicleta pela ciclovia até a Praça da Bastilha, aproveitando para almoçar em um dos bistrôs que ficam no caminho.



Marché aux puces de Saint-Ouen:

Do filme "Midnight in Paris" tiramos a ideia de conhecer o marché aux puces de Saint-Ouen, o maior e mais antigo mercado de pulgas do mundo. Aquilo la é um universo paralelo! Nunca vi tanta quinquilharia e poeira juntas na minha vida, do jeitinho que eu gosto! São centenas de pequenas lojas, com vendedores simpaticos, que se conhecem e se relacionam ha anos. Va com tempo para garimpar, porque no meio de tanta bagunça da para encontrar muita coisa bonita. Sem falar nos movéis com décadas de historia, lustres do século passado, peças unicas, que te fazem entrar em uma Paris que não existe mais. La é o lugar ideal para encontrar peças exclusivas e especiais para levar para casa ou dar de presente para quem a gente gosta - bem melhor que aqueles chaveiros do camelô, né?



Para chegar:  Linha 4 do metrô até o ponto final (Porte de Clignancourt).

Shakespeare and Company:

Sabe aqueles lugares magicos que a gente pensa que so existem nos filmes? Voilà, é exatamente isso que a livraria Shakespeare and Company é. Ela foi criada em 1951 pelo americano George Whitman e é especializada em literatura inglesa. Foi o filme "Antes do pôr-do-sol" que nos encheu de vontade de passar por la. As paredes são cobertas por livros (antigos e novos) do chão ao teto e você fica livre para fuçar no que quiser.


Se encontrar algo que te agrade, pode subir até o segundo andar para ler tranquilamente e, se pintar inspiração, pode usar a maquina de escrever que fica à disposição dos escritores que visitam a livraria. Você pode até passar a noite la, em troca de algumas horas de trabalho. Mais de 40 mil pessoas ja dormiram nas 13 camas dispostas entre os livros.


Gostosuras francesas:

Aproveitavamos os intervalos entre uma refeição e outra para experimentar algumas gostosuras bem conhecidas dos parisienses. Macarons são suspiros grudados por um recheio cremoso. Na forma, lembram os nossos bem-casados, mas são mais leves. Os macarons Ladurée são os mais conhecidos da França. As lojas são chiques como joalherias e capricham na preparação e na apresentação dos seus produtos. Uma caixa de macarons pode custar mais de 100€, mas tem também caixas menores e mais baratas. A unidade não é tão cara, cabe no bolso de qualquer viajante: 1,65€. O meu perfume preferido é o de côco. Endereços aqui.


Kouignette é uma massa de pão folhada e caramelizada, especialidade da Bretanha. O meu sabor preferido é o de laranja. Gerorges Larnicol ja foi eleito o melhor ouvrier da França na categoria pâtisserie, titulo dado pelo Presidente da Republica aos melhores profissionais da gastronomia e outras atividades. Resumindo: o cara é um dos melhores padeiros da França, por isso vale a pena visitar a Maison Georges Larnicol. Endereços aqui.


Vélib:

A dica mais importante ficou para o final: as bicicletas "publicas". Eu odeio os metrôs de Paris! São velhos, sujos, com estações confusas e cheias de escadas - o oposto dos de Lyon. Evito ao maximo andar de metrô em Paris, por isso faço la o que faço aqui: abuso das bicicletas. Eu sei que pedalar em uma cidade desconhecida pode assustar, mas juro que não é dificil! Paris tem ciclovias por todos os lados e os motoristas tratam as bicicletas com respeito. Se deixe perder entre uma rua e outra porque é justamente nelas que você vai descobrir como vivem de verdade os parisienses. Não se esconda embaixo da terra, va de vélib! O passo a passo para usa-las esta aqui.



domingo, 15 de maio de 2011

A mudança

Ta, eu tinha um lado meio dondoca quando morava no Brasil. Nunca dividi quarto com ninguém, raramente ia ao supermercado, enfim, eu levava uma vida mansa mesmo. Não que agora eu seja a pessoa mais atarefada do mundo, mas muita coisa mudou depois que vim morar na França. Ja contei aqui no blog como os serviços são caros por aqui, coisas pequenas que eu nunca tinha feito (porque sempre teve alguém que fizesse por mim) passaram a fazer parte da minha rotina e eu tive que aprender a me virar sozinha. Por exemplo: aqui não existem frentistas. O dono do carro é quem segura a bomba e enche o tanque, sem frescuras. Manicure tem aos montes, mas é muito caro, então eu mesma faço as minhas unhas. Todo tipo de prestação de serviço virou luxo. Trocar a sola do sapato ou fazer a barra da calça, so no Brasil. A haste dos oculos quebrou? Quando for pro Brasil a gente leva para consertar. Mas não tem jeito, tem hora que não da para esperar. 

Mudança! Algum de vocês ja se mudou sem a ajuda de uma empresa ou de algum prestador de serviço? Ajuda zero de profissionais para embalar, encaixotar, desmontar e montar os moveis, subir e descer com tudo e até para dirigir o caminhão da mudança? Pois foi isso o que fizemos no começo desse mês. As unicas despesas que tivemos foi com o aluguel do caminhão (126€) e com as 5 pizzas que compramos para alimentar os amigos que passaram um sabado inteiro nos ajudando. Sim, porque somos pobres mas temos amigos, e quem tem amigo tem tudo, né? Sem eles, o Léo e eu jamais conseguiriamos fazer essa mudança! Teriamos que contratar uma empresa especializada, o que não sairia por menos de mil euros - dinheiro que eu prefiro gastar viajando.


Ajudar na mudança dos amigos é algo muito comum por aqui. Quem não quer gastar dinheiro com transportadora, ajuda para ser ajudado depois. Vira e mexe alguém recusa nossos convites para um churrasco ou picnic porque ja marcou de ajudar em uma mudança - principalmente agora que o inverno ja passou. E até que existem muitas facilidades para quem resolve fazer tudo sozinho. Não tem, por exemplo, aquela proibição que existe em muitos prédios do Brasil, que é a de se mudar no fim de semana (justamente porque é so no sabado ou no domingo que da para reunir os amigos que trabalham a semana toda). 


Tem também essa placa ai da foto, que é um aviso que reserva o espaço na frente do imovel para estacionar o caminhão no dia D. O mais legal é que todo mundo respeita, mesmo no centro da cidade, onde existem prédios muito antigos sem vagas de estacionamento. Quem mora em prédios assim, que geralmente so têm escadas, pode alugar um elevador vertical por 250€. Outra coisa que facilitou muito a nossa vida foram as caixas de papelão que lojas como o IKEA vendem, duas por 6€. Caixas, sacos para embalar colchões e todo tipo de material necessario para organizar uma mudança é super facil de achar, com preços bem acessiveis. So não vendem amigos, mas esses nos arrumamos por conta propria.

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