Em que momento da vida os estudantes de Sciences Po. se tornam pessoas sérias eu não sei, mas na universidade não é. Tô pra ver gente mais festeira! O fato de Lyon ser uma cidade cheia de faculdades e instituições de ensino e, consequentemente, cheia de jovens, também não contribui muito para que os estudos venham em primeiro lugar. Tem festa todos os dias. E quando eu digo todos os dias eu não estou exagerando, tem festa todos os dias mesmo!
Eu tinha medo de ser completamente ignorada pelos franceses. A estranha que aparece no 4° ano querendo entrar em grupos de trabalho ja fechados, a estrangeira, 10 anos mais velha que o resto da turma, que almoça sozinha entre uma aula e outra. Então imagine como foi agradavel descobrir, logo no primeiro dia, que havia mais de 200 estrangeiros estudando ali. Duzentos passarinhos fora do ninho, assim como eu. Sem falar que os alunos franceses têm muito interesse em se relacionar com a gente, ja que todos eles são obrigados a fazer o 3° ano no exterior (em uma das dezenas de universidades conveniadas que mandam seus estudantes pra ca).
Uma das primeiras festas foi justamente para integrar melhor os alunos veteranos com os que acabavam de chegar, incluindo os estrangeiros. O convite me deixou apreensiva: "Venha com o seu melhor sapato". Eu esqueci completamente da mensagem misteriosa, apareci com uma sandalia velha e logo nos primeiros 5 minutos ja me arrependi de estar ali. Cada aluno deveria tirar um pé do sapato e coloca-lo junto à pilha que se formava no patio da universidade. Não tinha dia pior para eu ter calçado o unico sapato que me da chulé.
Calouro paga cada mico, não?
Os veteranos se aproximavam da pilha de sapatos e pegavam um pé cada um. Tipo Cinderela, sabe? Logico que os meninos iam direto nos saltos mais altos, nos sapatos de boneca. As meninas so pegavam os tênis. E a minha sandalia (simplesinha, sem gracinha) foi ficando por la...
Franceses, não jugueis pelas aparências!
Até que um garoto teve a coragem de pegar aquela coisa fedorenta e, assim, me apadrinhar. Etienne, 20 anos, foi o meu primeiro padrinho francês na Sciences Po. Na teoria, cada "padrinho/madrinha" se coloca à disposição para ajudar os que acabam de chegar com duvidas sobre a cidade ou a escola. Na pratica é ainda mais divertido, eles se encarregam também de te enturmar. "Tô aqui pro que você precisar! Vou te dar meu telefone e se você quiser saber qual o melhor buteco da cidade, é so me ligar", me disse o fofo do Etienne. Saimos de la e fomos beber (agua, no meu caso, ja que eu sou velha).
Meu segundo padrinho eu conheci em uma outra festa, organizada por uma associação de estudantes da universidade. Colocaram em uma lista os nomes e nacionalidades de todos os estrangeiros para que os franceses escolhessem quem "apadrinhar". O aluno que esta querendo ir para a China no 3° ano acaba escolhendo um aluno chinês, assim eles podem trocar figurinhas. Quem me escolheu foi o Diego, um francês que acabou de fazer o seu intercâmbio em Aracaju. Depois da reunião onde cada estrangeiro conheceu o seu padrinho, seguimos para festinhas particulares em apartamentos espalhados por toda a cidade. Otima oportunidade para conhecer gente nova e praticar o francês. Mais tarde, nos reencontramos todos em uma boate, onde esse blablabla de nacionalidade acaba virando um mero detalhe. Não sei nem que horas eram quando saimos de la, mas era tarde, muito tarde.
Eu também tenho carinha de 20 anos, não?
Padrinhos cachaceiros e festas todas as noites, eu não sei como eles conseguem se formar.