segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Uniforme, sim ou não?

Algumas coisas se tornam naturais aos nossos olhos simplesmente porque habituamos-nos à elas. Eu poderia citar aqui as crianças que dormem nas ruas ou os elevados numeros de assassinatos no nosso Brasil, mas vou falar de uniformes. Isso mesmo, de uniformes. O que você pensa sobre eles? Ou melhor, você ja parou para pensar sobre eles? Pois eu nunca tinha dado atenção ao assunto até chegar na França e descobrir que aqui as crianças não usam uniformes nas escolas. 

A obrigatoriedade do uniforme caiu em maio de 68, quando a França viu acontecer uma das mais importantes manifestações pelas ruas do Pais. De la pra ca, crianças e jovens vão à escola vestidos como querem. Isso permite que cada um mantenha a sua individualidade e caracteristicas o tempo todo, todos os dias da semana. Seja em casa, seja no parque, seja na escola. Quem lida com crianças sabe o quanto isso é importante para a formação delas.

No final do ano passado o partido do presidente Sarkozy propôs que as crianças voltassem a usar uniformes, alegando que isso facilitaria a integração de todos e diminuiria as diferenças sociais que existem entre alunos que frequentam a mesma escola. Eh que aqui não tem escola pra rico e escola pra pobre (quer dizer, tem as escolas dos super ricos, mas eu nem saberia escrever sobre elas). O filho do executivo africano come a mesma merenda que o filho da faxineira francesa. Todos aprendem na mesma sala de aula. Por isso vieram com essa balela de que voltar a usar uniformes seria legal ja que, assim, todos seriam iguais. Não, senhor presidente, não seriam! A não ser que todas as crianças fossem obrigadas a usar também o mesmo tênis. E a mesma mochila. E os mesmos cadernos. E também o mesmo relogio. Ainda assim, cada uma teria um corte de cabelo diferente, um celular mais moderninho. Ou seja...

Quem também não usa uniforme na França são as babas (acento agudo no segundo A, por favor). E olha que estou falando com conhecimento de causa, porque ja trabalhei como babah aqui na França. 

 Angelina Jolie passeando com os filhos. E essa moça, seria a babah, seria uma amiga? Não sabemos.


No caso das babas, a problematica do uniforme é ainda maior, principalmente ai no Brasil, onde a profissão sempre foi exercida por pessoas mais simples, com menos instrução. Exigir que a babah do seu filho use um uniforme branco ao leva-lo para passear é expô-la a possiveis discriminações. Por exemplo: quando ela entra no restaurante com o seu bebê, o uniforme branco grita para todos que ela é a babah daquela criança. O que seria ok, se não estivéssemos falando de Brasil, onde babah = pobre = favela = trato do jeito que eu quiser. Então o garçom pode agir diferente por causa do uniforme. Se ela estivesse usando uma calça jeans ou um vestido florido, que seja, ele não teria como saber se aquela moça é mãe, tia ou amiga da mãe da criança. 

Alguém avisa que além de desumano, é brega, por favor?!


Até entendo que você não veja dessa forma, afinal, você é uma pessoa justa, que não discrimina ninguém. Mas, acredite, o mundo esta cheio de gente capaz de destratar uma pessoa so porque ela chega com uniforme de doméstica, ou de bajula-la, se estiver usando uma roupa de médico.

Pai + mãe + babah pra passear com uma so criança em pleno domingo. Precisa mesmo?


Tenho certeza que as pessoas que me viam passeando com as crianças não sabiam que eu era a babah, pois eu me vestia igual à mãe deles. Nunca vi babas de uniforme empurrando carrinhos aqui na França, é uma coisa tão absurda! Assim como é esse artigo brasileiro que lista conselhos para as mamães sobre a higiene das babas:

"O ideal é lavar o cabelo todos os dias para mantê-los limpos ou dia sim, dia não, se não estiver muito calor (muitas vezes a babá faz escova ou chapinha e não o lava para mantê-lo liso). "

Traduzindo: evitem contratar pessoas negras, de 'cabelo ruim', porque, para não estragar a escova, elas não lavam os cabelos. Porcas!

E o melhor, quer dizer, o pior conselho, na minha opinião:

"Dica básicas de higiene da babá: Não beijar o rosto da criança."

Oi? Se eu não posso beijar o rosto, devo beijar o quê? A sola do pé dela? Pedir para a pessoa que vai cuidar do seu filho não estabelecer uma relação de afeto com ele é tão maldoso que eu custo a acreditar que um site tão conhecido tenha permitido a publicação desse artigo.

Quando eu passo três semanas no Brasil e cruzo com essa nova classe média alta desfilando suas escravas babas no shopping, na orla da praia, nos restaurantes, como se elas fossem um acessorio mesmo, uma bolsa de luxo que garante status, e quando leio artigos como esse, eu vejo que a nossa sociedade esta perdendo limites. E a isso eu não quero habituar-me.


Atualizando: a editoria do site deve ter se tocado da bobeira que fez ao publicar o artigo e o tirou do ar. 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Retrospectiva 2011

Na minha retrospectiva do ano passado eu disse que quem não consegue listar pelo menos um fato incrivel que viveu em cada um dos meses do ano que passou esta fazendo algo de errado com a sua vida. Pois esse pensamento continua sendo um mantra para mim e, graças a ele, 2011 também foi um ano super agitado.

Janeiro: Começamos com o pé direito, fazendo uma daquelas viagens inesqueciveis: Israel. A melhor das nossas vidas até agora! Foi o que vi e aprendi la que me inspirou a entrar no curso de Ciências politicas.



Fevereiro: Mês dos namorados aqui na França e celebramos em grande estilo! Juntamos todos os nossos tostões para jantar no restaurante do chef de cozinha mais respeitado e conhecido do mundo, o Paul Bocuse. 


Deixei o marido trabalhando e fiz um bate-volta até o Brasil pra curtir o carnaval com os amigos de infância.



Março: Foi o mês que eu resolvi acabar com o blog e vocês quiseram me matar conheci Budapeste, na Hungria.



Abril: Para as bodas de papel tudo o que eu queria era uma nova casa (de preferência longe de vizinhos barulhentos como os que tinhamos). Finalmente encontramos um apartamento que tinha a nossa cara e pudemos fazer aquela mudança sofrida com a ajuda dos amigos. Aos poucos fomos trocando todos os moveis antigos e deixando o apê mais parecido com a nossa personalidade. Ta lindo! E eu estou adorando preparar jantares, soirées e lanches da tarde para receber os amigos.



Maio: Conseguimos marcar uma viagem a Paris para não falhar com a tradição de visitar pelo menos uma vez por ano a cidade onde nos reencontramos e nos casamos. Até montei um roteiro de cinema, lembra?


Junho: Celebramos o dia dos namorados brasileiro passeando pelo interior da França, com direito a castelos medievais, paisagens e cidadezinhas de tirar o fôlego (ainda tô devendo post disso, vou escrever!) e hospedagem de rainha num dos chambres d'hôtes mais charmosos da França.


Também conhecemos Avignon na companhia de amigos maravilhosos! Ouso dizer que foi a tarde mais divertida de todo o meu ano (merci, les gars!).



Julho: Queriamos fugir dos destinos batidos do verão europeu, por isso fomos conhecer Trogir e Dubrovnik, os xodozinhos da Croacia. 



Agosto: Não existe maneira mais gostosa de começar um mês que recebendo a visita de uma amiga querida.


O fim do mês também foi especial porque aterrisamos em Praga, a primeira cidade do nosso mochilão de 20 dias (que ainda não tem post, mas se baixar um espirito escritor de posts de viagem em mim eu vou escrever).



Setembro: Depois de Praga, fomos para Amsterdã (blergh!) e Berlim (uau!). Voltamos exaustos desse mochilão e eu mal tive tempo de me recuperar porque dias depois começaram as minhas aulas na SciencesPo, com direito a trote e tudo. Te digo que voltar a ser estudante depois de 7 anos não é nada facil, mas eu tô amando!



Outubro: Nada nesse mês foi tão importante quanto os amigos que eu fiz na faculdade. Um bando de estrangeiros perdidos, como eu, vindos de varios lugares do mundo para estudar na SciencesPo. Eles so não ganharam post aqui ainda porque são um bando de Losers! Isso mesmo, nosso bando se chama "Losers" (e ai você imagina o nivel das pessoas que Deus coloca no meu caminho, né?).



Novembro: Viajar até Londres e poder abraçar o meu irmão depois de tantos anos não foi a melhor coisa de novembro, foi a melhor coisa do ano! 



Dezembro: Se eu não tivesse ido para o Brasil, seria obrigada a dizer que o ponto alto desse mês foram as dissertações, en français!, que eu tive que fazer em cada prova de fim de semestre. Não é emocionante, eu sei, mas fiquei orgulhosa de vencer mais esse desafio. Mas quando tem Brasil na jogada, tudo fica em segundo plano, então, conhecer algumas leitoras do blog em São Paulo, passar o natal com a familia (e com a minha avoh de quase 100 anos), abraçar forte os amigos, descansar nas aguas quentes das praias do Nordeste e ver os fogos do Réveillon de Copacabana foram os momentos mais divertidos desse ultimo mês!



E você? Conseguiu organizar pelo menos uma atividade legal para cada mês do ano que passou? Se não deu, nunca é tarde! 2012 esta apenas começando...

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