Grupos feministas franceses organizaram um movimento que, desde o ano passado, luta pelo fim do uso da palavra mademoiselle (senhorita) nos formularios oficiais. Senhorita soa démodé aos ouvidos brasileiros e é justamente isso que esperamos ver acontecer na sociedade francesa.
Mademoiselle é como são chamadas as mulheres solteiras e, nos, as loucas que abrimos mão de uma vida de liberdade e badalação as casadas, somos chamadas por madame. Quando preenchemos qualquer formulario oficial (em prefeituras, universidades, etc.) precisamos dizer se somos senhoras ou senhoritas, o que revela imediatamente o nosso estado civil. Até ai tudo bem, o Brasil também pede esse tipo de informação nos seus formularios, o problema é que aqui na França essa distinção não se aplica aos homens. Eles são todos monsieur (senhor), não importa a idade ou o estado civil.
Por que essas questões são tão importantes na França? Porque esse é o Pais dos Direitos do Homem, que diz que todos são iguais perante a lei. Exigir que as mulheres declarem o seu estado civil enquanto os homens não precisam expor uma situação pessoal e familiar é uma forma de discriminação. No vocabulario até existe para os homens uma palavra equivalente ao mademoiselle, que é o damoiseau, so que francês nenhum usa ou conhece esse termo atualmente. Ficou no passado, assim como o mademoiselle deve vir a ficar em algumas décadas.
Depois de alguns meses de intenso debate e pressão dos movimentos feministas, o governo decidiu essa semana que a palavra 'senhorita' não estara mais nos forumarios oficiais, sera apenas madame para as mulheres e monsieur para os homens. Uma igualdade conquistada no papel, mas que vai precisar de algum tempo para ganhar espaço na sociedade francesa. Parece impossivel imaginar nos dias de hoje um professor de universidade tratando suas alunas de 20 anos por madame. Mas, se o damoiseau caiu no esquecimento, por que não o mademoiselle?
A nova circular derruba também o nom de jeune fille (sobrenome de solteira) e o nom d'épouse (sobrenome de casada). A partir de agora, cada mulher escreve apenas o seu nome e sobrenome, não expondo se esse sobrenome é do pai ou do marido, nem se ela é casada ou solteira. Eu ja contei aqui a trabalheira que esse nom de jeune fille me da todo começo de ano, quando preciso renovar o meu visto. Eu, que não alterei o meu sobrenome quando me casei, sou vista como E.T pela prefeitura simplesmente porque quase ninguém sabe como proceder quando uma mulher opta por não ter no documento o épouse de (esposa de). Como se a gente não pudesse apenas ser, tivesse também que pertencer a alguém (um homem, no caso, ja que aqui na França você nasce filha do senhor fulano e vira esposa do senhor ciclano quando se casa).