segunda-feira, 12 de março de 2012

Dica de Milão? Fuja para Verona!

O que tem de melhor em Milão? A estação central de trem, que nos permite chegar em lugares mais interessantes, como Verona - uma cidadezinha que te conquista logo que você coloca os pés nela. Patrimônio da humanidade pela Unesco graças a sua estrutura urbana e arquitetura, Verona é parada obrigatoria no roteiro de quem deseja encontrar na Italia, além de boa massa, cenarios de filme e muito charme. 


Chegar até la é facil, principalmente para quem esta em Milão ou em Veneza. Basta comprar uma passagem de trem da companhia Trenilatia (não precisa comprar com antecedência porque os trens saem de hora em hora, mas use o site para pesquisar tarifas e horarios). Uma hora e meia, é esse o tempo que te separa das ruelas historicas e do clima de interior da cidade.


Uma das principais atrações é a Arena de Verona, um anfiteatro romano com aquele mesmo estilão do Coliseu de Roma. Construida em 30 d.C, ela é uma das arenas mais bem conservadas da Italia e hoje em dia abriga um festival de opera, que acontece uma vez ao ano.


Verona é conhecida como a 'cidade dos apaixonados' porque la teriam vivido Romeu e Julieta - os famosos personagens da tragédia de Shakespeare. Foi por isso que Léo e eu decidimos viajar até para celebrar o dia dos namorados (que aqui na França se comemora dia 14 de fevereiro) nesse clima de romance. A casa onde Julieta teria vivido é o principal ponto turistico da cidade. Um palacio medieval construido nos anos 200, com uma pequena sacada, onde aconteciam (pelo menos na cabeça do senhor William) os encontros secretos do jovem casal. No patio interno tem, inclusive, uma estatua de bronze da Julieta. Diz a lenda que tocar o seio direito dela tras sorte no amor. O maridão, pelo visto, não estava precisando...


O que eu realmente gostei nesse lugar foi do clima de amor que a gente encontra nas paredes, rabiscadas com nomes de casais apaixonados, e nos cadeados, que esses mesmos casais usam para trancar o amor deles. Não é segredo para ninguém que nos aqui em casa somos chegados num cadeado. Lembra de Roma? Se esse negocio funciona ou não, ninguém sabe, e por isso mesmo não custa nada garantir, né? Sem falar que somos bregas mesmo, aproveitamos qualquer brecha para demostrar o nosso amor. 


A chave do cadeado nos jogamos no rio (como manda a tradição) quando passamos pela Ponte Pietra, que compõe um dos cenarios mais bonitos da cidade.


De la fomos conhecer o Jardim Giusti, criado no fim do século XV e que conserva intactas as suas caracteristicas originais: fontes, grutas, estatuas mitologicas e um labirinto de pequenas dimensões, que é um dos mais antigos da Europa. O passeio, que so vale a pena se o dia estiver bonito (fomos no final do inverno, como pode-se ver pelas cores das fotos), fica ainda mais interessante se você levar um lanchinho e subir até o topo do jardim para fazer um pic-nic admirando a vista panorâmica de Verona.


Verona é pequena e feita para ser descoberta a pé. Um dia inteiro caminhando por la é o suficiente, quem quiser ficar mais não vai ter problemas em encontrar o que fazer. Este é um passeio dispensavel para quem esta com poucos dias em Veneza, mas obrigatorio para quem visita Milão (mesmo que você tenha apenas dois dias inteiros para Milão, vale a pena deixar um para Verona).

quinta-feira, 8 de março de 2012

Hoje NÃO é o Dia da mulher

Talvez seja no Brasil, mas aqui na França é o Dia internacional dos direitos da mulher. Não percebe a diferença? Eu te explico. Sabe quando você vai em um restaurante chique e o garçom te serve antes de servir o homem que esta na sua mesa? Então, ele não esta sendo gentil nem educado, ele so esta seguindo uma tradição que vem de longa data, quando naqueles imensos banquetes as mulheres eram servidas primeiro, para que os homens pudessem saborear os seus pratos ainda quentes. Sacou a sutileza? Ficamos tão contentes com a "delicadeza", que sequer enxergamos o machismo por tras dela.

Uma das aulas mais interessantes que tenho esse semestre é a que trata sobre o feminismo. Nunca gostei dessa palavra e nunca quis me associar à ela. Como nunca achei a mulher melhor em nada que o homem (nem pior, diga-se de passagem), me mantive distante também das feministas. Como se fosse possivel ser mulher e não ser feminista, bobinha. Essa nova aula tirou do meu imaginario um monte de pré-conceitos e colocou no lugar deles uma realidade que a gente vive todos os dias e não vê. Ou finge que não vê. Os 120 minutos que passo espremida na sala de aula me fazem pensar em assuntos que nunca receberam muito a minha atenção. Percebi, por exemplo, que quase todas as minhas amigas são machistas, inclusive as que acham que não são. O curso é pesado e eu saio de la exausta, questionando o mundo.

Dai eu chego em casa, tiro os sapatos e me deito no sofa. Enquanto viajo nos meus questionamentos, ouço um barulho de agua corrente vindo da cozinha. Eh o Léo, lavando a louça que eu não tive tempo de lavar depois de tomar o meu café. Exatamente como ele esta fazendo agora, enquanto estou de pés para o alto, escrevendo esse texto. O meu marido esta logo ali, lavando a louça. E não é uma exceção! Eh ele quem lava 90% da louça que sujamos aqui em casa, sem eu precisar pedir. Também é ele quem faz as compras. Faz mais de dois anos que estou aqui e nunca fui ao supermercado. E mais: além de não deixar faltar o meu pão integral de todas as manhãs, ele ainda me prepara uma caneca de cha antes de sair para o trabalho, todos os dias da semana (aos sabados e domingos o cardapio muda e eu tenho direito a suco de laranja com pão na chapa, servidos na cama). Às sextas, ele me traz flores. Toda sexta-feira. Dois anos de casados.

Impossivel não pensar nas colegas de classe que chegam em casa e encontram os homens que a professora descreve em aula, seja o pai, o marido ou um namorado. Homens que, provavelmente, vão lhes dar flores ou parabéns nesse 8 de março, um dia do calendario dedicado à luta das mulheres, que os homens conseguiram encher de machismo, como, alias, acontece nos outros 364 dias do ano. E a gente vai na onda, aceitando os parabéns, se contentando com as flores. Tão facil dizer que os homens precisam aprender, de uma vez por todas, qual é o papel da mulher na sociedade. Tão dificil entender que essa lição precisa ser absorvida, antes de mais nada, pelas proprias mulheres. Homens machistas são paridos e educados por mulheres, não se esqueça disso.



"On ne naît pas femme, on le devient", Simone de Beauvoir.

terça-feira, 6 de março de 2012

Essa fragil solidão

Interrompo a programação dos posts de viagem para falar sobre a vida - ou das dificuldades que a gente encontra nela. Lendo o blog você pode pensar que eu tenho uma rotina maravilhosa aqui na França, afinal, eu tenho um amor de cinema e rodo o mundo curtindo ele. Mas ha um preço. Talvez ninguém saiba, por exemplo, que na maioria dos dias da semana eu so abro a boca às oito da noite, quando o Léo chega do trabalho. No resto do dia eu não pronuncio uma palavra sequer, simplesmente por não ter com quem conversar. Poucos sabem também que, de segunda à sexta, eu tomo café da manhã e almoço sozinha, em total silêncio, da mesma forma que passo todas as madrugadas por causa da insônia crônica que insiste em não me largar. Tem dias que me sinto como uma alma, leve e transparente, rodando pela cidade. Alguém que pega ônibus, assiste aulas, anda de bicicleta no meio da multidão, mas que ninguém percebe, ninguém vê. 

E os seus amigos?, você vai me perguntar. Tenho poucos. Os que fiz, ja foram embora. Os que ficaram, são cheios de compromissos - como toda pessoa saudavel deve ser. Nossos encontros se resumem a um cafezinho rapido uma vez ao mês.

Nem sempre foi assim. Eu tinha uma rotina agitada no Brasil. Me relacionava, trocava ideias, permitia que as pessoas fizessem parte de mim, enquanto eu também me dispunha a fazer parte delas. Aqui eu me fechei. Eh mais facil ser disponivel quando você sabe que o outro não vai embora levando com ele um pedacinho de você. E expatriado tem essa mania de culpar os que ficaram pela solidão que, inevitavelmente, vai se instalar dentro da gente. Somos tão egoistas, que não nos perguntamos nem mesmo se aqueles que deixamos para tras também sofreram quando decidimos buscar pelo novo. Custamos a perceber que na mala traziamos, além de sonhos, um pouco de cada um deles. A nossa solidão não nos permite enxergar a solidão do outro, muitas vezes causada pela nossa necessidade de mudança, não da deles.

Até o dia que você abre a caixa de correspondências e encontra dois pacotes de bolachas Passatempo, que a melhor amiga teve o cuidado de enviar. Seria a solidão dela tão grande quanto a minha, grande o suficiente para fazer ela não se importar de pagar 106 reais de taxas por dois pacotes de bolachas, so para me fazer sorrir? Então a gente entende que a solidão não é forte. Ao contrario, ela é fragil. Ela vira poh diante de uma caixa dos Correios ou de um convite prum café. Ela vira poh quando você junta palavras para agradecer e clica em publicar.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Carnaval Ambrosiano: o alalaô animado de Milão

Quando um amigo gringo diz que esta indo passar duas semanas no Brasil e me pergunta se deve incluir São Paulo no roteiro, eu logo digo que não. Veja bem, Sampa ocupa o lugar mais quentinho do meu coração, mas não acho que ela é uma cidade interessante para um europeu visitar em poucos dias de Brasil. Acho São Paulo uma otima cidade para se viver, mas, para turismo? So se você conhecer alguém que mora la para te dar dicas de insiders. E é essa mesma impressão que eu guardei de Milão.


Sem saber, compramos nossas passagens para o fim de semana de carnaval. Não fosse o clima de festa, Milão teria entrado para a minha lista "cidades que eu não precisava ter visitado nessa encarnação", ao lado de Barcelona e de Amsterdã. Mas quem ta na chuva é pra se molhar, certo? Por isso entramos na bagunça de corpo e alma, da cabeça aos pés!


O carnaval de Milão dura quatro dias a mais que no resto do mundo porque segue o calendario ambrosiano ao invés do calendario romano. Santo Ambrosio era um bispo de Milão, que saiu em peregrinação e pediu aos moradores da cidade que esperassem pelo seu retorno para festejarem juntos o carnaval (que é uma data religiosa, dizem - brasileira que sou, eu tenho minhas duvidas). Ele se atrasou um pouco, mas chegou. E é por isso que o carnaval de Milão se chama Carnevale Ambrosiano e dura até o sabado posterior à quarta-feira de cinzas, quando tem desfile de carros alegoricos em frente à Catedral de Milão, a mais famosa da cidade.


O que eu mais gostei, além de ver as ruas cobertas por confetes, foi das crianças fantasiadas. Alguns adultos também se fantasiam, mas senti que a festa era delas! Piratas, princesas, personagens de desenho... uma fofura so.


Caiu por terra aquela minha ideia de que carnaval é patrimônio do Brasil. Até francês faz festa nessa época. Se tem uma coisa que eu acho que é so nossa, é o samba. Esse eu não ouvi na Italia. Mas, honestamente? Prefiro um carnaval singelo como o de Milão, onde a gente não paga para participar e basta um pacote de serpentina + uma mascara colorida para entrar no clima ao desfile lindo que o Rio de Janeiro faz e que a vida toda eu so acompanhei pela televisão porque não tinha dinheiro para bancar. Carnaval na Italia ainda é festa popular e, talvez por isso, foi tão gostoso de pular.


Então, se você me perguntar se Milão vale a pena, eu digo que vale se for época de carnaval ou se de la você seguir viagem para cidadezinhas charmosas do interior, como Verona - que vai dar as caras por aqui no proximo post.

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