quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Coimbra - porque ir e o que ver

A Universidade de Coimbra. Foi por causa dela que colocamos Coimbra no nosso roteiro. Ela é uma das mais antigas da Europa, foi fundada em 1290. Faça as contas! Alguns dos livros expostos nas prateleiras da biblioteca Joanina existem ha mais tempo que o Brasil! Até ai nada de mais, todo mundo vai a Coimbra por causa da Universidade. Mas eu tinha um motivo especial para querer visita-la: a minha mãe deu aulas naquele lugar.


Dizem que as mães é que sentem orgulho dos filhos, mas na minha casa sempre foi o contrario. Dona Mirlene passou três meses ensinando e aprendendo nas salas de aula da UC, e dividindo comigo o desafio que ela encarou aos 63 anos de idade. 

Qual é a dificuldade, para uma pessoa que da aulas ha mais de 40 anos, em ensinar do outro lado do oceano, ja que a lingua é a mesma? Se eu disser que as aulas eram em inglês e que a minha mãe, até então, de inglês não sabia quase nada, você deixa um recado bem fofo pra ela nos comentarios?


Claro que eu fiz questão de conhecer a cidade, a instituição e as pessoas que receberam essa maluca. O problema é que eu escolhi a época errada. Julho não é o melhor mês para visitar um lugar que vive e sobrevive graças aos estudantes. Conheci muita coisa interessante, mas a alma da cidade estava de férias - provavelmente curtindo alguma praia no Algarve.


Felizmente, os estudantes não precisam estar presentes para sentirmos que a cidade é deles. Esta muito escancarado. Uma explosão de criatividade, numa mistura de arte e caos, mostra o que eles querem, e também o que condenam. Até quem não tem um olhar apurado percebe isso.


Paguei 5,50€ para ter acesso às instalações que a minha mãe, com a sua carteirinha de professora, não gastava um tostão para visitar. Valeu cada centavo. Ou alguém consegue chorar dinheiro gasto para entrar numa biblioteca que conta com morcegos para conservar os seus livros? Minha mãe tinha insistido: va, porque a Biblioteca Joanina foi eleita varias vezes a mais bonita do mundo. Quase não entrei porque cada grupo de visitantes so pode ficar 10 minutos la dentro e, para o meu desespero, nada de fotos. Ainda bem que mãe a gente obedece.

Com o mesmo bilhete podemos visitar as salas dos Capelos, do Exame Privado, e das Armas, além da Capela de S. Miguel, e a Prisão Acadêmica. Passeio para uma tarde inteira. 


Se pedir o audioguia, vai ficar por dentro dos detalhes mais sordidos da Universidade. A tal prisão, por exemplo, era o pesadelo dos alunos, professores, e funcionarios punidos por mau comportamento. Uma época em que os reitores e a instituição tinham mais influência do que aqueles que governavam a cidade. 


Mas nem so da Universidade é feita Coimbra. As Igrejas da Sé também são lugares que merecem ser visitados. Igrejas, no plural mesmo, porque na falta de uma tem duas: a Sé Nova e a Sé Velha.

Foi na Sé Velha que eu vi como a coisa esta feia em Portugal. Em tempos de crise, patrimônio não tem prioridade mesmo. E não são os dois euros cobrados de cada visitante que vão financiar a restauração que a igreja esta precisando.


Bom, se considerarmos que a construção existe desde 1139, até que ela esta muito bem. Sem falar que, em se tratando de lugares antigos, eu prefiro o gasto ao reformado - assim, a gente sente o peso da historia. E historia não falta pra essa Sé Velha, viu? Ela esta ali desde que Dom Alfonso Henriques se declarou rei de Portugal e escolheu Coimbra como capital do reino.


Mas também tem a Sé Nova. Falando assim, Sé Nova, a gente até pensa que ela foi construida ha pouco tempo, né? Pois saiba que a catedral que substituiu a antiga como sede episcopal de Coimbra, em 1772, começou a ser construida pelos jesuitas em 1598. O Brasil ainda não tinha 100 anos!


Se você perguntasse para a minha mãe o que não da para deixar de fazer em Coimbra, ela te mandaria comprar louça. Você voltaria para casa agradecido por não ter cometido o mesmo pecado que eu: o de ser mão de vaca na hora errada. A Louça de Coimbra é a cerâmica mais nobre de Portugal. Na região da Praça do Comércio tem uma infinidade de lojas para provar que eu estou falando a verdade. Compre. Nem que seja um saleiro. Em Lisboa não vai ser mais barato e você não vai ter o prazer de comprar um produto local produzido desde o século XVI.  


No mais, caminhe. Coimbra, como todas as cidades que visitei em Portugal, merece ser descoberta a pé. Não esqueça de passar no Mosteiro de Santa Cruz para dar um alô para os dois primeiros reis de Portugal enterrados la. Se possivel, atravesse até o outro lado do rio Mondengo e faça muitas fotos para mostrar aos seus amigos como pode ser bonita uma cidade que, graças a uma universidade, possui tradições que sobrevivem até hoje.



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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Portimão e Lagos, dicas para curtir as praias lindas do Algarve


Desde que uma das pessoas mais queridas da minha vida passou a lua de mel no Algarve, eu vinha desejando visitar esse paraiso. Ah, eu sei, é clichê. Mas não existe definição melhor para a costa sul de Portugal, aquilo la é o paraiso mesmo! E olha que quem esta escrevendo é uma pessoa que so conheceu o mar aos 18 anos.


Talvez isto explique o meu desânimo com as praias. Sério, não faço questão. Mas com um marido carioca dentro de casa fica dificil não colocar no roteiro pelo menos um destino de praia nas férias de verão.


Não é que eu deteste praia, so acho chato. A gente senta ali na areia e faz o quê? Fica torrando embaixo do sol? Brigando com as ondas dentro do mar? Mineira que sou, cresci na beira de riachos, saltando das pedras e tomando banho de cachoeira. Não sei me comportar em praias. Quer dizer, não sabia, até conhecer o Algarve.


As praias de la são interativas. Juro procê! As falésias não apenas ajudam a formar um cenario paradisiaco, como também entretêm gente acelerada como eu. Nessas férias eu não precisei ficar apenas deitada lendo livros. Pude me divertir com a maré, que hora subia, cobrindo as passagens naturais entre uma praia e outra, hora baixava, deixando o mar perfeito para mergulhos. Foi a primeira vez que deixei uma praia querendo voltar no proximo ano.


O Algarve é um dos novos destinos da moda aqui na Europa. Por ali estão os traços mais fortes da dominação arabe, que Portugal viveu até 1259. Mas o povo vai mesmo é em busca de praias. 

Da para chegar na região de ônibus, trem e avião, mas fomos de carro (reservamos aqui). As estradas são boas e as praias, tão bonitas, que chega a ser pecado ficar no mesmo lugar.


Cruzar o Pais de norte a sul estava nos nossos planos, mas esquecer a carta de motorista na França, não. O perrengão desta viagem acabou reduzindo a nossa estadia no Algarve à Portimão e Lagos.


Portimão não é uma cidade bonita, mas tem uma super infraestrutura e praias para todos os gostos - além de uma orla movimentada, shopping e opções mais baratas de hospedagem. Viajamos na segunda quinzena de julho e, contrariamente ao que nos disseram, não encontramos praias lotadas. 


A Praia da Rocha, acima, é extensa e bem parecida com as do Brasil - com restaurantes e cadeiras para alugar. O lugar ideal para quem gosta de agito (e para quem precisa de banheiros por perto porque não consegue fazer xixi no mar). Prefere sossego? Então va para a Praia dos Três Castelos, que fica logo ao lado. 


Depois de olhar e fotografar outras praias de Portimão, acabamos fincando o nosso guarda-sol ali mesmo. A praia é uma delicia e o unico restaurante é uma mão na roda para comprar um salgadinho ou bebidas frescas. Até tinham algumas cadeiras para alugar, o que é raro na maioria das praias de todo o Algarve, mas preferimos comprar o nosso guarda-sol no supermercado (8 euros).


As outras praias acabam sendo parecidas porque ao fundo estão as falésias enormes, caracteristicas da região. O que diferencia uma da outra é a extensão e o tipo de gente que as frequenta. Tem o lugar dos nudistas, das familias, dos jovens procurando paquera... Enfim, rapidinho você percebe qual é a sua praia.


Nos hospedamos em Portimão, mas eu queria mesmo era ter ficado em Lagos. Os valores mais salgados da alta temporada atrapalharam os nossos planos, mas nem por isso deixamos de ir até la. A cidade foi capital do Algarve por quase 200 anos e é rica em historia. Na rua Senhora da Graça, por exemplo, tem uma placa indicando o lugar do primeiro mercado de escravos da Europa. Sem falar que o centrinho pega fogo depois das 20h!
 

Lagos carrega a fama de ter as praias mais bonitas do Algarve, dai você pode imaginar que não foi nada facil decidir em qual delas estender as nossas toalhas. Ficamos na Praia Dona Ana, com aguas cristalinas e calmas, de onde saem os barcos que fazem passeios pelas grutas e cavernas do litoral (25€ para duas pessoas).


Juliana, a fofa que teve a sorte de se casar com o cara especial citado no começo do texto, tem mais um monte de dicas sobre o Algarve no blog dela. Assim como a Carol, que também esteve em Lagos e constatou que a região é um dos maiores tesouros de Portugal. Tenho que concordar com ela, embora eu não goste de praia.

Ou melhor, não gostava.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Introdução ao Porto (acredite, você vai precisar)

Não foi amor à primeira vista. Longe disso! Nos blogs que li, so encontrei elogios escancarados para uma cidade que é sim muito charmosa, unica, encantadora, mas que de linda não tem absolutamente nada. Se eu soubesse o que iria encontrar, talvez não tivesse ficado tão decepcionada. Precisei de algumas horas para entender que o Porto é uma cidade que vai te conquistando pelas beiradas, e que o choque inicial passa assim que você resolve dar uma chance para ela.


Você percebe, então, que no meio do caos tem poesia. Nos prédios aparentemente abandonados, vida. Ao pedir informações, presteza. Numa birosca qualquer, o bife prego mais gostoso da sua vida. Percebe também que mal terminou o segundo dia e você ja esta apaixonado.


Caminhar sem rumo, ou flanar, como diriam os franceses, é o minimo que você pode fazer nesta que é uma das cidades mais fotogênicas do mundo. Aproveite também a ausência da barreira da lingua para conversar com todos os nativos que te derem mole. Com a senhora de butuca na janela, com a cozinheira do seu hotel, com o garçom do bar. Em Porto encontramos as pessoas mais simpaticas de Portugal e, escreve ai, é também por causa delas que você vai querer voltar.


Não acho imprescindivel listar os pontos turisticos mais importantes da cidade. O que Porto tem de mais interessante é justamente o meio do caminho. Aquela ruela aparentemente sem graça que liga uma igreja centenaria à outra. A arquitetura maltratada do bairro mais antigo, que quase não recebe mais os olhares dos turistas. Os restaurantes pequeninos, ha gerações nas mãos da mesma familia. Tudo aquilo que, por pressa ou falta de delicadeza, muita gente não consegue enxergar.



quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Free tour em Lisboa - os cantos e os contos de quem vive na cidade

Lisboa não foi a nossa primeira parada em Portugal, mas foi la que vivemos uma das melhores experiências da nossa viagem de duas semanas pelo Pais. E é por isso que eu vou abrir os relatos falando do Zé - o cara capaz de fazer qualquer viajante cair de amores pela capital lusitana.


Trem chegando no meio da tarde + malas para deixar no hotel + check-in = um dia perdido da viagem. A formula imutavel pode ser driblada se o destino for Lisboa e se o viajante aparecer na Praca Luis de Camões para o free tour que começa às cinco da tarde. Com um cadinho de sorte, vai ter como guia o José Guerreiro, que nos acompanhou por miradouros, nos contou segredos e nos mostrou cantos de Lisboa que so um verdadeiro lisboeta é capaz de conhecer.


Procurar por free tours é uma das primeiras coisas que a gente faz quando fecha uma viagem. Os guias são legais, os passeios são interessantes e, ca entre nos, esse lance de dar a gorjeta que cabe no nosso orçamento é uma mão na roda. Ja fizemos em Jerusalém, Praga, Berlim, Amsterdã e gostamos de todos. So que dessa vez não foi bom, foi espetacular! Não acredita em mim? Então da uma olhada nas avaliações do Tripadvisor e veja que não estou exagerando. O free tour oferecido pelo José e seus amigos so recebe criticas positivas. Por quê? Talvez pelo fato de não ser uma empresa propondo os passeios, e sim um grupo de amigos que se reuniu para apresentar aos viajantes a cidade onde eles moram. O resultado é um passeio despretensioso e atipico, que foge dos pontos turisticos tradicionais (esses você pode visitar sozinho no dia seguinte).


Seguimos o José morro abaixo, morro acima durante quatro horas e nem vimos o tempo passar. Logo de cara ele ja foi marcando muitos pontos comigo porque nos levou para caminhar pelo Bairro Alto. Mineira que sou, me senti em casa naquele lugar tão tradicional. A dinâmica dos moradores (esperar sentado na porta de casa por um conhecido que vai parar e bater um papo ou passar horas debruçado nas janelas olhando a vida passar) me lembrou as minhas férias nas casas de tios e avos la no interior de Minas, ainda nos anos 80.


Também entramos de fininho no quintal de uma vila onde pudemos ver de perto outra caracteristica muito forte dos portugueses: as roupas estendidas nas janelas e varais. Intimidade é uma coisa que não existe em Portugal. Nem pudor, viu? Todo mundo conhece cada buraquinho da lingerie do vizinho.


De la seguimos para o primeiro miradouro do percurso, o de Adamastor. Eh ali que o pessoal mais animado se reune a partir das 17h para tomar uma cerveja antes de seguir para as ruas boêmias, do outro lado do bairro, que ficam abarrotadas depois das 23h. Miradouro, alias, não faltou. Passamos por outros quatro para admirar (e fotografar, claro) as panorâmicas mais lindas da cidade.


Caminhamos pelas principais regiões de Lisboa ouvindo os contos do José, que além de uma boa conversa, adora Historia. De tudo o que ele nos contou, foram os acontecimentos do Largo de São Domingos que mais me marcaram. Eh que enquanto descobriam e colonizavam o Brasil, os portugueses também massacravam judeus.


Não estou pegando pesado. Em 1506, poucos anos apos os judeus de Portugal serem obrigados a se converterem ao catolicismo para evitar perseguições e humilhações em praças publicas, um incidente pôs fim à aparente tolerância dos catolicos. Enquanto eles rezavam em um extinto convento localizado no Largo, alguém viu no altar o rosto de Jesus iluminado. Um milagre para a maioria dos que estavam ali pedindo pelo fim da seca e da peste que devastava Portugal, mas nada além da sombra de uma vela para um cristão-novo que pensou alto e foi espancado até a morte. Começou então um linxamento de judeus, que durou três dias e fez centenas de vitimas. Um capitulo tão triste da historia de Portugal, que no local onde mulheres, homens e crianças foram queimados em fogueiras existe hoje uma porção de simbolos de tolerância e arrependimento por parte da Igreja e também de Portugal.


O muro com a frase "Lisboa, cidade da Tolerância", escrita em 34 linguas, é hoje o ponto de encontro de imigrantes, principalmente dos africanos. Africanos muçulmanos que se reunem no mesmo lugar onde judeus foram mortos ha 500 anos. Junte à isso a placa com o pedido publico de desculpas da Igreja Catolica para entender porque eu gostei tanto deste lugar.


O Léo também gostou, mas por outra razão. O Largo de São Domingos também é destaque porque ali esta a vendinha mais antiga de Ginjinha, a bebida tipica de Lisboa. Desde 1840 este licor à base de ginja (uma fruta parecida com a cereja) é comercializado naquele lugar. Trouxemos varias garrafas para presentear os amigos mas acho que o meu marido vai acabar com todas elas antes de nos encontrarmos.

Não fosse o José, o Largo de São Domingos passaria batido, assim como a Ginjinha e muitos outros lugares que visitamos com ele. E é por isso que eu coloco o Lisbon Chill-out free tour no topo da minha lista das melhores coisas que Lisboa tem para oferecer - bem ao lado dos Pastéis de Belém, claro.

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