Faltava inspiração. Aquele fluxo de ideias que sai facil na hora de escrever. Faltava tempo também, ja que
o blog a vida me cercou de pessoas bacanas que ocupam os meus dias com passeios, encontros e viagens. O verão nem começou e eu ja sei que este vai ser o melhor dos que vivi desde que cheguei na França porque antes havia parques, deliciosas piscinas publicas, terraço para fazer churrascos, mas faltavam as pessoas. Este ano eu tenho tudo!
O feriado prolongado de maio foi planejado com carinho para surpreender estes dois casais de amigos que chegaram ha poucos meses em Lyon. Reservamos um
apartamento espetacular proximo a Cassis pelo Airbnb e caprichei no roteiro, que estava por minha conta: 3 dias de praia em Cassis, voltando pela
Rota da Lavanda para visitar Gordes e Roussillon, na Provence.
Cassis seria apenas mais uma cidadezinha fofa à beira do Mediterrâneo se não fossem as suas Calanques, que o Wikipédia define como "vales profundos com lados escarpados parcialmente submergidos pelo mar". Eu defino como um dos lugares mais bonitos da França.
Para visita-las, poderiamos ter feito um dos passeios de barco que saem do porto de Cassis (1h de duração, 15€ por pessoa), ou alugado caiaques e ir remando, mas escolhemos o caminho mais dificil, que, como tudo nessa vida, é também o mais recompensador: as trilhas pelas montanhas. "Missão dada é missão cumprida!", gritava alguém da turma quando um de nos estava a ponto de desistir.
Visitamos as 3 Calanques mais famosas: de Port Miou, de Port Pin e d'En-Vau. A primeira é uma calanque para barcos, sem praia, mas sabiamos que era preciso passar por ela para chegarmos até a segunda.
São aproximadamente 40 minutos de caminhada antes de encontrar uma praia de pedra com agua
azul esverdeada - o paraiso pra quem saiu de Lyon debaixo de chuva.
Estendemos nossas toalhas por ali e, antes de encarar o mar gelado,
decidimos deixar a calanque mais famosa para o dia seguinte. Tiramos uma
peteca da sacola e surpreendemos os franceses com o super desafio de
dar 20 toques sem deixar o curioso brinquedo cair. (Como confiar em
gente que nunca ouviu falar de peteca?)
Eu sabia que a Calanque d'En-Vau era a parte mais importante de toda a viagem. Sabia que para chegar até ela teriamos que refazer o caminho do dia anterior, passando pela Port Miou e pela Port Pin. Sabia que eu tinha que preparar sanduiches, levar agua e passar muito protetor solar e que tênis eram indispensaveis para esse tipo de aventura. Eu sabia praticamente tudo o que precisava saber, menos o mais importante: que seria tão dificil! Levamos 1h30 para chegar até o topo da montanha, mas valeu cada gota de suor. Não so porque o bumbum ficou durinho, mas também porque la de cima tinhamos a vista mais bonita de todo o percurso. O lugar perfeito para o nosso picnic.


Ta vendo essa montanha embaixo do Rodrigo? Nem imaginavamos que descer para chegar até a praia seria mais dificil que subir até o topo. Dei uns gritinhos para estimular os amigos, fui na frente para mostrar que era seguro, mas eu so me perguntava como pude nos meter naquela enrascada?! Chegando la embaixo, a gente entende. Era como estar no Caribe, a poucos quilômetros de casa. Ou na Tailândia, como poetizou um dos meninos.
Claro que voltamos no dia seguinte, mas optamos por uma outra trilha, quase plana, de 1h de caminhada do estacionamento à praia sem passar pelas outras calanques. Mamão com açucar porque estavamos realmente acabados depois dos dois primeiros dias de montanhas. Não é o caminho mais bonito, mas é o mais facil.
Nas montanhas vimos uma gravida de uns 7 meses e muitas familias com crianças de todas as idades. Todas mesmo! Mas francês ja nasce fazendo
randonnée - e isso não é uma hipérbole, como eu pude constatar. Os passeios de barco valem para quem tem dificuldade para se locomover ou para quem tem muita preguiça, mas saiba que os barcos não chegam até as praias. Tem que se contentar em ver de longe e tirar algumas fotos.
No pain, no gain, né, camarada? Se existir algum espirito esportivo dentro de você, va pelas trilhas! Foi o passeio mais bonito que eu ja fiz na minha vida e é por ele que eu vou voltar quando receber outros amigos no verão.
Animou? Então, anote:
- Vale reforçar: tênis são indispensaveis para as trilhas. Cruzamos muitos franceses equipados com bastões de apoio, tênis de
randonnée e roupas apropriadas. Eramos os unicos desavisados com roupas de praia, mas chegamos vivos mesmo assim.
- Leve muita agua e comida para o dia todo. O quiosque no inicio da trilha de Port Miou é o unico lugar para comprar alguma coisa antes de começar o passeio. Não preciso dizer que nas praias não têm ambulantes com caixas térmicas vendendo cerveja, milho ou queijo coalho, né? São praias realmente selvagens, sem nenhuma infraestrutura.
- Não esqueça o protetor solar.
- As praias são de pedra, então pode ser interessante comprar
aquashoes, principalmente para as crianças. Em lojas como a
Decathlon eles custam menos de 10€.
- O caminho das pedras, literalmente:
Para os passeios de barco ou para alugar caiaques: Va até o porto de Cassis, no centrinho da cidade.
Para as trilhas pelas montanhas passando pelas Calanques de Port Miou e de Port Pin: em Cassis, siga as placas que indicam as Calanques. Encontrar vaga para estacionar é uma dor de cabeça na alta temporada. A trilha até Port Pin é tranquila, siga o fluxo. A partir dai, para chegar à Calanque d'En-Vau, existem duas trilhas: a da direita, por baixo, exige menos, mas nada de vistas espetaculares. A da esquerda é mais ingreme, mas acompanha o mar, então as paisagens são mais bonitas. Detalhes
aqui (em francês).
Para ir à Calanque d'En-Vau de carro, sem passar pelas montanhas (trilha de 1h de caminhada): Ela fica no meio do caminho entre Marseille e Cassis (a estrada é a D559). Coloque Route Gaston Rebuffat no GPS, é uma entrada na estrada que liga as duas cidades pelo litoral. Siga nessa estradinha até o estacionamento. Detalhes
aqui (em francês).