segunda-feira, 2 de setembro de 2013

C'est la rentrée!

Renovada! Eh assim que estou me sentindo nesta primeira segunda-feira do ano. Não, eu não perdi as folhas do meu calendario, o ano realmente acabou de começar aqui na França. Ja expliquei em outro post que o ano letivo francês começa em setembro, portanto, aquela sensação de inicio de um novo ciclo que temos nos primeiros dias de janeiro é sentida pelos franceses no começo de setembro. Por aqui, agendas e calendarios começam por setembro - uma maluquice que tem nome: la rentrée.

Faz uma semana que os jornais falam sobre o assunto, que tudo gira em torno dela. Eh a hora de retomar o trabalho, de entrar na academia, de se matricular em um curso de linguas, de preparar as crianças para uma nova etapa na escola. O ciclo se encerrou no final de junho e, depois de dois meses de férias, todo mundo se sente pronto para começar tudo de novo. 

Quando falei sobre este assunto pela primeira vez aqui no blog, contei que eu tinha dificuldades para me situar no tempo. Era dificil falar do semestre passado chamando-o de ano passado, mas, agora que ja me acostumei, posso dizer que estou louca para encerrar o ano sabatico que vivi no ultimo ano.

Eu precisava parar. Desde o final de 2009, quando larguei tudo para vir morar na França com o Léo, eu vinha emendando um curso no outro para ocupar o meu tempo até descobrir como recuperar a minha vida profissional. A primeira etapa era aprender o francês, ja que cheguei aqui sem saber falar bonjour. Um ano de estudos depois, voltei para a faculdade para fazer uma especialização em Ciências Politicas. Em 3 anos eu me casei, me tornei fluente em mais uma lingua, adquiri conhecimentos em uma nova area, fiz amigos do mundo todo, viajei por mais de 15 paises, amadureci. Por outro lado, a minha vida profissional ficou em stand by mais tempo do que deveria.

Este tempo de reflexão serviu para avaliar possibilidades, procurar respostas e encontrar caminhos que me permitirão ter de volta a realização profissional que eu sentia no Brasil sem ter que abrir mão da felicidade pessoal que eu so encontrei aqui na França. Uma compatibilidade nada evidente para alguém que ousa querer tudo.

Se no ultimo ano eu precisei de tranquilidade, é com o pé no acelerador que começo este novo ciclo, desejando que ele seja, além de muito desafiador, cheio de novidades. Novidades que, se tudo der certo (vai dar!), muito em breve devem começar a pipocar por aqui.



Bonne rentrée à tous!

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Rota da Lavanda, Gorges du Verdon e outras atrações imperdíveis na Provence

Visitar os campos de lavanda da Provença foi o item da minha lista de resoluções para 2013 mais prazeroso de riscar. Embora eu tenha dito no post anterior que viajar pela Provence é gostoso mas definir o roteiro é tarefa ardua, o itinerario da nossa viagem de 3 dias pela região se desenhou naturalmente. A Natalia, do blog Destino Provence, ja tinha me dado a dica: o Plateau de Valensole é um dos melhores lugares para ver os maiores campos de lavanda. Joguei "Plateau de Valensole" no Google e precisei buscar o meu queixo no chão quando vi as imagens. 


O nosso destino final foi Gorges du Verdon, presença garantida em qualquer lista dos lugares mais bonitos da França. Para tornar o longo trajeto mais agradavel, juntei pedaços de 3 entre estes 6 circuitos de lavandas, escolhi alguns Beaux Villages como paradas estratégicas e convoquei dois amigos portugueses. Não tinha como dar errado.


A primeira preocupação de quem programa uma viagem para ver campos de lavanda na Provence é escolher a data certa. Em geral, da para vê-los cheios no inicio de julho, mas a época de floração varia de uma região para outra - sem falar no tempo, que pode atrasar ou adiantar em algumas semanas a plantação e a colheita. Este ano, por exemplo, o verão demorou para dar as caras e, consequentemente, eu fiquei mais mal humorada que de costume os campos também demoraram a ficar completamente roxos.


Foi quando paramos para almoçar em La Garde-Adhémar, um dos 156 vilarejos mais bonitos da França, que avistamos os primeiros campos. Era so o começo de um longo dia parando à beira da estrada para fotografar.


São tantos campos de lavanda, que a certa altura nos perguntamos se estavamos mesmo afim de parar mais uma vez para enfrentar as abelhas em busca de fotos. Sei que desprezar campos de lavanda soa esnobe, mas o Léo ser alérgico à picada de abelha me deixava seriamente dividida entre o bem estar do meu marido e as imagens que ilustram este post.


O segundo dia da viagem foi o mais intenso em se tratando de cenarios inesqueciveis. Não bastasse o flerte escandaloso entre lavandas e girassois em Valensole, encontrei aqui na França um lugar pra chamar de meu. Aquele que não da mais vontade de ir embora, sabe? Em uma comparação rasa, posso dizer que tenho com as cidades a mesma relação que tenho com as pessoas: às vezes o santo não bate, em outras me entrego de cara. Fui presa facil para Moustiers-Sainte-Marie.


O vilarejo de 700 habitantes conseguiu conservar o seu ar provinciano e acolhedor mesmo recebendo tantos turistas. As construções são tipicas da região, a cerâmica fina é o principal artesanato e a culinaria do terroir pode ser descoberta em um dos terrasses que ficam à beira do riacho que passa entre as duas ruelas principais.


Tudo ali é meio magico, principalmente a capela Notre Dame de Beauvoir, que ganhou o meu coração por ter sido construida, sabe-se la como, entre rochedos a 830m de altura. O esforço de subir os 262 degraus é recompensado pela vista mais bonita da cidade.


Moustiers-Sainte-Marie é a porta de entrada para Gorges du Verdon, um paraiso que os estrangeiros não visitam porque ficam tempo demais em Paris. Estamos falando do canyon mais bonito da Europa, com aguas claras e esverdeadas que podemos desbravar alugando pedalinhos ou caiaques à beira do lago Sainte-Croix.


Eu jurava que não me surpreenderia novamente depois do que tinha visto nos dois primeiros dias da viagem, mas foi so chegar em Sisteron para perceber que eu estava enganada. Esta cidade entrou no roteiro depois que assisti a um programa na tv francesa contando que aquela era uma das principais atrações da Rota de Napoleão, trajeto que ele percorreu em 1815, quando deixou a Ilha de Elba, na Italia, para reconquistar Paris.


Sisteron tem inumeros becos e passagens secretas, alguns da idade média. Era domingo e, enquanto percorriamos os labirintos da parte mais antiga do centrinho, os moradores curtiam a piscina publica construida aos pés da cidade medieval. Um piscinão de Ramos francês - gratuito e impressionante.
 

Vencidos pelo calor, também esticamos nossas toalhas por ali e aproveitamos o que deu, até a chuva atrapalhar. Fomos então até o ponto mais alto da cidade para visitar a Citadelle, um forte-castelo que protege Sisteron desde o século XIV e de onde temos esta vista incrivel.


Napoleão sabia que Sisteron, de prefeito e população monarquistas, seria o obstaculo mais dificil antes de chegar a Paris. De fato, a Citadelle estava preparada para impedir a volta de Napoleão, mas ele enviou 100 soldados para render a cidade e conseguiu passar. Sinta-se livre para especular nos comentarios o que seria da França se Napoleão não tivesse voltado. Ao que me diz respeito, eu fico bem feliz de viver em um pais que não tem mais reis e rainhas.


Eramos os unicos visitantes, ja que nenhum outro maluco teve a idéia de subir a 500 metros de altitude enquanto raios caiam a cada 2 minutos e a chuva não dava trégua. Vimos nisso a oportunidade para percorrer calabouços e salões à vontade, fazendo fotos idiotas e dando sustos uns nos outros.

Não da nem para falar que foram 3 dias de descanso porque não paramos um minuto, a Provence é uma região que nunca decepciona, ainda mais nessa época do ano. Lembre-se: a França não é so Paris. Para viajar como um autêntico francês, coloque no seu roteiro alguns Beaux Villages, durma em chambres d'hôtes, almoce plats du jour e rode pelas estradas departamentais.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Viajando pela Provence - dicas para montar o seu roteiro

O encanto pelas Calanques de Cassis ja durava três dias, até que chegou a hora de voltar para casa. Ja contei que na França existem dois tipos de estrada: as autoestradas (autoroutes) e as rodovias publicas (nacionais e departamentais). A primeira é pedagiada e possui pelo menos duas faixas em cada sentido. A maneira mais rapida de chegar ao seu destino final, porém, advinha?, não é a mais divertida. Apenas nas nacionais/departamentais você pode encostar o carro para fotografar, passar por dentro de vilarejos e se encantar com as paisagens. Facil descobrir por qual delas eu prefiro seguir, né? 

Fomos até Cassis pela autoestrada mas voltamos por uma departamental para pegar um pedaço de uma das Rotas da Lavanda, que cortam a Provence. Ainda esta muito cedo para ver as lavandas, mas meus olhos atentos flagraram um campo de papoulas escondido na estrada. Em julho voltaremos para, finalmente, ver os campos de lavanda cheios.



Viajar pela Provence é uma delicia, decidir o roteiro é que é tarefa ingrata. São muitos vilarejos para visitar, um mais fofo que o outro. Simplesmente não da para ver tudo. Sem falar no meio do caminho, que acaba tomando boa parte do tempo de quem curte paisagens naturais (e tem também os castelos pois, estando na França, eles podem aparecer em qualquer lugar). Por isso, eu sempre recorro ao site dos Plus beaux villages de France, os vilarejos mais bonitos da França, antes de definir o itinerario. Se vou visitar a cidade x, olho no mapa quais são os beaux villages mais proximos ou que estão no caminho e sigo pelas estradas departamentais.

São 157 cidadezinhas classificadas porque preenchem dois requisitos: possuem menos de 2000 habitantes e contam com pelo menos dois monumentos ou lugares protegidos. Alguns vilarejos vão além, garantindo aos visitantes uma experiência unica. Como, por exemplo, Roussillon, a nossa primeira parada do dia. 


Foi o ocre que fez a fama desse vilarejo e garante a sua singularidade até hoje. As construções são todas avermelhadas, embora o tom do ocre varie de um prédio a outro. Me lembrou Collonges la Rouge, outro beau village que visitamos no Limousin, ha dois anos.

O destaque de Roussillon, além da propria cidade, é o passeio pelas antigas minas de ocre (2,50€). Mas, vou logo avisando: um almoço na Brasserie des couleurs, instalado na unica pracinha do lugar, pode acabar se tornando a melhor lembrança da sua passagem por Roussillon - principalmente se você pedir o delicioso poulet fermier com molho de cebolas caramelizadas que me serviram. Para a sobremesa eu recomendo algo tipico da Provence: a tropézienne (torta de brioches com recheio de creme), o meu doce francês preferido.


De la, seguimos por 11km até Gordes, outro beau village famoso do Vaucluse. Ao encostarmos o carro para fazer a foto mais famosa da cidade, percebemos a sorte que temos de ter lugares como este a poucas horas de casa.


A mistura da arquitetura medieval e renascentista do castelo que existe desde 1031 e a igreja de origem romana do século XII são os atrativos, mas tenho pra mim que não são as maiores atrações. Subir e descer os tortuosos caminhos de pedra que nos apresentam os segredos de Gordes pode ser mais interessante. So assim para saber qual bar é o mais bem localizado para voltar no final do dia e tomar um vin rosé enquanto os ultimos raios de sol ainda aquecem o terrasse - um desfecho ideal para o feriado inesquecivel ao lado dos amigos (desde que nenhum deles tenha que voltar pra casa dirigindo, claro).




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quarta-feira, 15 de maio de 2013

As Calanques de Cassis - o caminho das pedras

Faltava inspiração. Aquele fluxo de ideias que sai facil na hora de escrever. Faltava tempo também, ja que o blog a vida me cercou de pessoas bacanas que ocupam os meus dias com passeios, encontros e viagens. O verão nem começou e eu ja sei que este vai ser o melhor dos que vivi desde que cheguei na França porque antes havia parques, deliciosas piscinas publicas, terraço para fazer churrascos, mas faltavam as pessoas. Este ano eu tenho tudo!


O feriado prolongado de maio foi planejado com carinho para surpreender estes dois casais de amigos que chegaram ha poucos meses em Lyon. Reservamos um apartamento espetacular proximo a Cassis pelo Airbnb e caprichei no roteiro, que estava por minha conta: 3 dias de praia em Cassis, voltando pela Rota da Lavanda para visitar Gordes e Roussillon, na Provence.

Cassis seria apenas mais uma cidadezinha fofa à beira do Mediterrâneo se não fossem as suas Calanques, que o Wikipédia define como "vales profundos com lados escarpados parcialmente submergidos pelo mar". Eu defino como um dos lugares mais bonitos da França.


Para visita-las, poderiamos ter feito um dos passeios de barco que saem do porto de Cassis (1h de duração, 15€ por pessoa), ou alugado caiaques e ir remando, mas escolhemos o caminho mais dificil, que, como tudo nessa vida, é também o mais recompensador: as trilhas pelas montanhas. "Missão dada é missão cumprida!", gritava alguém da turma quando um de nos estava a ponto de desistir.


Visitamos as 3 Calanques mais famosas: de Port Miou, de Port Pin e d'En-Vau. A primeira é uma calanque para barcos, sem praia, mas sabiamos que era preciso passar por ela para chegarmos até a segunda.


São aproximadamente 40 minutos de caminhada antes de encontrar uma praia de pedra com agua azul esverdeada - o paraiso pra quem saiu de Lyon debaixo de chuva. Estendemos nossas toalhas por ali e, antes de encarar o mar gelado, decidimos deixar a calanque mais famosa para o dia seguinte. Tiramos uma peteca da sacola e surpreendemos os franceses com o super desafio de dar 20 toques sem deixar o curioso brinquedo cair. (Como confiar em gente que nunca ouviu falar de peteca?)


Eu sabia que a Calanque d'En-Vau era a parte mais importante de toda a viagem. Sabia que para chegar até ela teriamos que refazer o caminho do dia anterior, passando pela Port Miou e pela Port Pin. Sabia que eu tinha que preparar sanduiches, levar agua e passar muito protetor solar e que tênis eram indispensaveis para esse tipo de aventura. Eu sabia praticamente tudo o que precisava saber, menos o mais importante: que seria tão dificil! Levamos 1h30 para chegar até o topo da montanha, mas valeu cada gota de suor. Não so porque o bumbum ficou durinho, mas também porque la de cima tinhamos a vista mais bonita de todo o percurso. O lugar perfeito para o nosso picnic.


Ta vendo essa montanha embaixo do Rodrigo? Nem imaginavamos que descer para chegar até a praia seria mais dificil que subir até o topo. Dei uns gritinhos para estimular os amigos, fui na frente para mostrar que era seguro, mas eu so me perguntava como pude nos meter naquela enrascada?! Chegando la embaixo, a gente entende. Era como estar no Caribe, a poucos quilômetros de casa. Ou na Tailândia, como poetizou um dos meninos.


Claro que voltamos no dia seguinte, mas optamos por uma outra trilha, quase plana, de 1h de caminhada do estacionamento à praia sem passar pelas outras calanques. Mamão com açucar porque estavamos realmente acabados depois dos dois primeiros dias de montanhas. Não é o caminho mais bonito, mas é o mais facil.


Nas montanhas vimos uma gravida de uns 7 meses e muitas familias com crianças de todas as idades. Todas mesmo! Mas francês ja nasce fazendo randonnée - e isso não é uma hipérbole, como eu pude constatar. Os passeios de barco valem para quem tem dificuldade para se locomover ou para quem tem muita preguiça, mas saiba que os barcos não chegam até as praias. Tem que se contentar em ver de longe e tirar algumas fotos. No pain, no gain, né, camarada? Se existir algum espirito esportivo dentro de você, va pelas trilhas! Foi o passeio mais bonito que eu ja fiz na minha vida e é por ele que eu vou voltar quando receber outros amigos no verão.



Animou? Então, anote:

- Vale reforçar: tênis são indispensaveis para as trilhas. Cruzamos muitos franceses equipados com bastões de apoio, tênis de randonnée e roupas apropriadas. Eramos os unicos desavisados com roupas de praia, mas chegamos vivos mesmo assim.

- Leve muita agua e comida para o dia todo. O quiosque no inicio da trilha de Port Miou é o unico lugar para comprar alguma coisa antes de começar o passeio. Não preciso dizer que nas praias não têm ambulantes com caixas térmicas vendendo cerveja, milho ou queijo coalho, né? São praias realmente selvagens, sem nenhuma infraestrutura.

- Não esqueça o protetor solar.

- As praias são de pedra, então pode ser interessante comprar aquashoes, principalmente para as crianças. Em lojas como a Decathlon eles custam menos de 10€.

- O caminho das pedras, literalmente:

Para os passeios de barco ou para alugar caiaques: Va até o porto de Cassis, no centrinho da cidade.

Para as trilhas pelas montanhas passando pelas Calanques de Port Miou e de Port Pin: em Cassis, siga as placas que indicam as Calanques. Encontrar vaga para estacionar é uma dor de cabeça na alta temporada. A trilha até Port Pin é tranquila, siga o fluxo. A partir dai, para chegar à Calanque d'En-Vau, existem duas trilhas: a da direita, por baixo, exige menos, mas nada de vistas espetaculares. A da esquerda é mais ingreme, mas acompanha o mar, então as paisagens são mais bonitas. Detalhes aqui (em francês).

Para ir à Calanque d'En-Vau de carro, sem passar pelas montanhas (trilha de 1h de caminhada): Ela fica no meio do caminho entre Marseille e Cassis (a estrada é a D559). Coloque Route Gaston Rebuffat no GPS, é uma entrada na estrada que liga as duas cidades pelo litoral. Siga nessa estradinha até o estacionamento. Detalhes aqui (em francês).






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