segunda-feira, 20 de maio de 2013

Viajando pela Provence - dicas para montar o seu roteiro

O encanto pelas Calanques de Cassis ja durava três dias, até que chegou a hora de voltar para casa. Ja contei que na França existem dois tipos de estrada: as autoestradas (autoroutes) e as rodovias publicas (nacionais e departamentais). A primeira é pedagiada e possui pelo menos duas faixas em cada sentido. A maneira mais rapida de chegar ao seu destino final, porém, advinha?, não é a mais divertida. Apenas nas nacionais/departamentais você pode encostar o carro para fotografar, passar por dentro de vilarejos e se encantar com as paisagens. Facil descobrir por qual delas eu prefiro seguir, né? 

Fomos até Cassis pela autoestrada mas voltamos por uma departamental para pegar um pedaço de uma das Rotas da Lavanda, que cortam a Provence. Ainda esta muito cedo para ver as lavandas, mas meus olhos atentos flagraram um campo de papoulas escondido na estrada. Em julho voltaremos para, finalmente, ver os campos de lavanda cheios.



Viajar pela Provence é uma delicia, decidir o roteiro é que é tarefa ingrata. São muitos vilarejos para visitar, um mais fofo que o outro. Simplesmente não da para ver tudo. Sem falar no meio do caminho, que acaba tomando boa parte do tempo de quem curte paisagens naturais (e tem também os castelos pois, estando na França, eles podem aparecer em qualquer lugar). Por isso, eu sempre recorro ao site dos Plus beaux villages de France, os vilarejos mais bonitos da França, antes de definir o itinerario. Se vou visitar a cidade x, olho no mapa quais são os beaux villages mais proximos ou que estão no caminho e sigo pelas estradas departamentais.

São 157 cidadezinhas classificadas porque preenchem dois requisitos: possuem menos de 2000 habitantes e contam com pelo menos dois monumentos ou lugares protegidos. Alguns vilarejos vão além, garantindo aos visitantes uma experiência unica. Como, por exemplo, Roussillon, a nossa primeira parada do dia. 


Foi o ocre que fez a fama desse vilarejo e garante a sua singularidade até hoje. As construções são todas avermelhadas, embora o tom do ocre varie de um prédio a outro. Me lembrou Collonges la Rouge, outro beau village que visitamos no Limousin, ha dois anos.

O destaque de Roussillon, além da propria cidade, é o passeio pelas antigas minas de ocre (2,50€). Mas, vou logo avisando: um almoço na Brasserie des couleurs, instalado na unica pracinha do lugar, pode acabar se tornando a melhor lembrança da sua passagem por Roussillon - principalmente se você pedir o delicioso poulet fermier com molho de cebolas caramelizadas que me serviram. Para a sobremesa eu recomendo algo tipico da Provence: a tropézienne (torta de brioches com recheio de creme), o meu doce francês preferido.


De la, seguimos por 11km até Gordes, outro beau village famoso do Vaucluse. Ao encostarmos o carro para fazer a foto mais famosa da cidade, percebemos a sorte que temos de ter lugares como este a poucas horas de casa.


A mistura da arquitetura medieval e renascentista do castelo que existe desde 1031 e a igreja de origem romana do século XII são os atrativos, mas tenho pra mim que não são as maiores atrações. Subir e descer os tortuosos caminhos de pedra que nos apresentam os segredos de Gordes pode ser mais interessante. So assim para saber qual bar é o mais bem localizado para voltar no final do dia e tomar um vin rosé enquanto os ultimos raios de sol ainda aquecem o terrasse - um desfecho ideal para o feriado inesquecivel ao lado dos amigos (desde que nenhum deles tenha que voltar pra casa dirigindo, claro).




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quarta-feira, 15 de maio de 2013

As Calanques de Cassis - o caminho das pedras

Faltava inspiração. Aquele fluxo de ideias que sai facil na hora de escrever. Faltava tempo também, ja que o blog a vida me cercou de pessoas bacanas que ocupam os meus dias com passeios, encontros e viagens. O verão nem começou e eu ja sei que este vai ser o melhor dos que vivi desde que cheguei na França porque antes havia parques, deliciosas piscinas publicas, terraço para fazer churrascos, mas faltavam as pessoas. Este ano eu tenho tudo!


O feriado prolongado de maio foi planejado com carinho para surpreender estes dois casais de amigos que chegaram ha poucos meses em Lyon. Reservamos um apartamento espetacular proximo a Cassis pelo Airbnb e caprichei no roteiro, que estava por minha conta: 3 dias de praia em Cassis, voltando pela Rota da Lavanda para visitar Gordes e Roussillon, na Provence.

Cassis seria apenas mais uma cidadezinha fofa à beira do Mediterrâneo se não fossem as suas Calanques, que o Wikipédia define como "vales profundos com lados escarpados parcialmente submergidos pelo mar". Eu defino como um dos lugares mais bonitos da França.


Para visita-las, poderiamos ter feito um dos passeios de barco que saem do porto de Cassis (1h de duração, 15€ por pessoa), ou alugado caiaques e ir remando, mas escolhemos o caminho mais dificil, que, como tudo nessa vida, é também o mais recompensador: as trilhas pelas montanhas. "Missão dada é missão cumprida!", gritava alguém da turma quando um de nos estava a ponto de desistir.


Visitamos as 3 Calanques mais famosas: de Port Miou, de Port Pin e d'En-Vau. A primeira é uma calanque para barcos, sem praia, mas sabiamos que era preciso passar por ela para chegarmos até a segunda.


São aproximadamente 40 minutos de caminhada antes de encontrar uma praia de pedra com agua azul esverdeada - o paraiso pra quem saiu de Lyon debaixo de chuva. Estendemos nossas toalhas por ali e, antes de encarar o mar gelado, decidimos deixar a calanque mais famosa para o dia seguinte. Tiramos uma peteca da sacola e surpreendemos os franceses com o super desafio de dar 20 toques sem deixar o curioso brinquedo cair. (Como confiar em gente que nunca ouviu falar de peteca?)


Eu sabia que a Calanque d'En-Vau era a parte mais importante de toda a viagem. Sabia que para chegar até ela teriamos que refazer o caminho do dia anterior, passando pela Port Miou e pela Port Pin. Sabia que eu tinha que preparar sanduiches, levar agua e passar muito protetor solar e que tênis eram indispensaveis para esse tipo de aventura. Eu sabia praticamente tudo o que precisava saber, menos o mais importante: que seria tão dificil! Levamos 1h30 para chegar até o topo da montanha, mas valeu cada gota de suor. Não so porque o bumbum ficou durinho, mas também porque la de cima tinhamos a vista mais bonita de todo o percurso. O lugar perfeito para o nosso picnic.


Ta vendo essa montanha embaixo do Rodrigo? Nem imaginavamos que descer para chegar até a praia seria mais dificil que subir até o topo. Dei uns gritinhos para estimular os amigos, fui na frente para mostrar que era seguro, mas eu so me perguntava como pude nos meter naquela enrascada?! Chegando la embaixo, a gente entende. Era como estar no Caribe, a poucos quilômetros de casa. Ou na Tailândia, como poetizou um dos meninos.


Claro que voltamos no dia seguinte, mas optamos por uma outra trilha, quase plana, de 1h de caminhada do estacionamento à praia sem passar pelas outras calanques. Mamão com açucar porque estavamos realmente acabados depois dos dois primeiros dias de montanhas. Não é o caminho mais bonito, mas é o mais facil.


Nas montanhas vimos uma gravida de uns 7 meses e muitas familias com crianças de todas as idades. Todas mesmo! Mas francês ja nasce fazendo randonnée - e isso não é uma hipérbole, como eu pude constatar. Os passeios de barco valem para quem tem dificuldade para se locomover ou para quem tem muita preguiça, mas saiba que os barcos não chegam até as praias. Tem que se contentar em ver de longe e tirar algumas fotos. No pain, no gain, né, camarada? Se existir algum espirito esportivo dentro de você, va pelas trilhas! Foi o passeio mais bonito que eu ja fiz na minha vida e é por ele que eu vou voltar quando receber outros amigos no verão.



Animou? Então, anote:

- Vale reforçar: tênis são indispensaveis para as trilhas. Cruzamos muitos franceses equipados com bastões de apoio, tênis de randonnée e roupas apropriadas. Eramos os unicos desavisados com roupas de praia, mas chegamos vivos mesmo assim.

- Leve muita agua e comida para o dia todo. O quiosque no inicio da trilha de Port Miou é o unico lugar para comprar alguma coisa antes de começar o passeio. Não preciso dizer que nas praias não têm ambulantes com caixas térmicas vendendo cerveja, milho ou queijo coalho, né? São praias realmente selvagens, sem nenhuma infraestrutura.

- Não esqueça o protetor solar.

- As praias são de pedra, então pode ser interessante comprar aquashoes, principalmente para as crianças. Em lojas como a Decathlon eles custam menos de 10€.

- O caminho das pedras, literalmente:

Para os passeios de barco ou para alugar caiaques: Va até o porto de Cassis, no centrinho da cidade.

Para as trilhas pelas montanhas passando pelas Calanques de Port Miou e de Port Pin: em Cassis, siga as placas que indicam as Calanques. Encontrar vaga para estacionar é uma dor de cabeça na alta temporada. A trilha até Port Pin é tranquila, siga o fluxo. A partir dai, para chegar à Calanque d'En-Vau, existem duas trilhas: a da direita, por baixo, exige menos, mas nada de vistas espetaculares. A da esquerda é mais ingreme, mas acompanha o mar, então as paisagens são mais bonitas. Detalhes aqui (em francês).

Para ir à Calanque d'En-Vau de carro, sem passar pelas montanhas (trilha de 1h de caminhada): Ela fica no meio do caminho entre Marseille e Cassis (a estrada é a D559). Coloque Route Gaston Rebuffat no GPS, é uma entrada na estrada que liga as duas cidades pelo litoral. Siga nessa estradinha até o estacionamento. Detalhes aqui (em francês).






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