segunda-feira, 12 de maio de 2014

Gravidez na França - o primeiro trimestre

Passada a euforia da descoberta, começa a bater o desespero. O que sabemos sobre maternidade/paternidade? Nada! E não temos a menor ideia de por onde começar. Viver essa experiência em um pais estrangeiro também não facilita muito as coisas...

Por motivos obvios, eu não sei como é ter filhos no Brasil, mas imagino que quando uma mulher se descobre gravida, a primeira providência é marcar uma consulta para confirmar a gravidez, realizar os primeiros exames e receber desde o comecinho todas as instruções para que ela tenha uma gravidez saudavel. Acontece que, como todo mundo sabe, eu não moro no Brasil. E as diferenças começaram a surgir muito antes do que eu imaginava, logo que liguei para tentar marcar essa primeira consulta com o meu ginecologista daqui:

- Bonjour, madame, gostaria de marcar uma consulta. Estou gravida. 
- De quanto tempo?
- Duas semanas.
- Ok, esta marcada para abril.
- Abril??? Mas abril é daqui 3 meses!
- Isso mesmo. E não se esqueça que a senhora precisa escolher uma maternidade e se inscrever o mais rapido possivel se quiser garantir uma vaga. Au revoir!

Tum-tum-tum...

Ficamos la, eu e a minha cara de pastel, penduradas no telefone por alguns minutos repassando aquela conversa surreal até eu me convencer que o problema não era o meu francês, ela realmente havia dito abril. Quem me acalmou foi a minha comadre, que teve o meu afilhado aqui em Lyon e esta no final de uma segunda gravidez em Paris, me dizendo que na França é assim mesmo: "A possibilidade de um aborto nos três primeiros meses é muito grande, então eles so te consideram realmente gravida depois desse periodo. Até la, você vai se sentir meio abandonada, mas vai ver que depois eles cuidarão muitissimo bem de ti".

Quando você descobre que todos os gastos médicos com a gravidez (exames, consultas, internações e partos) são totalmente gratuitos para qualquer mulher gravida na França (seja ela francesa ou não), fica mais facil entender e aceitar que em um lugar onde o sistema publico é acessivel e de qualidade, ele precisa de certas regras para continuar funcionando. E não é assim porque é publico, não. Ao contrario do Brasil, onde quem pode pagar consultas particulares consegue ser atendido antes, aqui na França as regras são as mesmas para todo mundo. O meu médico, por exemplo, atende no publico e no privado (que, no meu caso, também sai de graça porque eu tenho um bom seguro de saude que reembolsa a diferença que o governo não paga), e mesmo assim eu não consegui uma consulta antes da 12a semana. Tive que acalmar meu coração e dançar conforme a musica.

Quer dizer, tive mais ou menos, né? Porque eu acabei driblando o sistema.

O carnaval estava chegando e a nossa ida para o Brasil ja estava programada ha algum tempo. Embora eu tivesse apenas um mês de gestação, Léo e eu sabiamos que aquela seria a nossa unica chance de dar a noticia pessoalmente para a familia e receber os abraços dos nossos queridos. Abraço em vida de expatriado so não vale mais que coxinha frita na hora, ainda mais quando se mora na França!

Procuramos o nosso médico de familia (aqui temos um médico generalista que sempre nos atende antes de nos encaminhar para um especialista) e falamos da viagem. Ele proprio sugeriu que fizéssemos um ultrassom para ter certeza que o ovulo fecundado estava bem implantado, que estava tudo bem com o bebê. Mas foi uma exceção. De maneira geral, os pais so vão ouvir o coração do bebê na primeira ecografia, realizada entre a 11a semana e a 13a. Se for uma gravidez normal, 3 ultrassons serão pagos pelo governo (3°, 5° e 7° mês), mas pode variar em gravidez de risco. Os pais também podem fazer outros sem pedido do médico, claro, mas terão que pagar do proprio bolso.


E é basicamente isto. No primeiro trimestre, precisamos apenas nos preocupar em controlar a ansiedade e resolver duas tarefas administrativas. A primeira é escolher a maternidade, se inscrever e torcer para sermos aceitos - o que fizemos logo que soubemos que estavamos gravidos. A segunda é enviar a déclaration de grossesse (declaração de gravidez) fornecida pelo médico depois da ecografia de 12 semanas. Este documento que comprova a gravidez vai garantir o acesso às vantagens socio-econômicas aos quais as gravidas têm direito (falarei mais sobre isso em outro post).

Como se vê, os 3 primeiros meses foram bem tranquilos por aqui. Não tive nada de enjoos, nem desejos, insônia ou dores de cabeça. Alias, não tive dor em canto algum! So sentia que estava realmente gravida porque o meu apetite triplicou. Agora, se você perguntar ao Léo o que o fazia ter certeza de que ele seria pai, não tenho duvidas que ele vai dizer que eram as alterações nada sutis no meu humor.







PS: Como não sei muito bem como funciona todo o processo médico relacionado à gravidez no Brasil, vou adorar se alguma mamãe ou algum papai quiser compartilhar comigo experiências e informações. O atendimento no sistema publico é muito diferente para o particular? Sinta-se à vontade para papear! A caixa de comentarios esta aberta pra isso!  :)



segunda-feira, 5 de maio de 2014

A descoberta

14 de fevereiro, dia dos namorados na França. Me levanto e logo percebo que o nosso trato de não trocarmos presentes havia sido descumprido - como todos os anos, alias. Em cima da mesa, flores, cartão e uma caixinha com os melhores macarons da cidade. Mulher de palavra que sou, não havia comprado nada pra ele.

O mais romântico aqui em casa sempre foi o Leonardo, so que desta eu vez eu estava disposta a surpreendê-lo. Com duas semanas de atraso, senti que aquele era o dia certo para fazer o teste. Entrei no banheiro e custei para sair quando a segunda linha foi aparecendo. Sozinha em casa, chorei. Estavamos tentando engravidar ha algum tempo e cada teste negativo abria espaço para o desânimo. Ao ver o resultado positivo, senti que ia explodir se não contasse pra alguém. Mas quem poderia me acalmar como uma mãe, me parabenizar como uma amiga e, ao mesmo tempo, me aconselhar com suas experiências? Alguém que ja tivesse passado por aquela situação um punhado de vezes, claro! Foi ai que eu mandei uma mensagem pra Karine, blogueira e mãe de quatro.

A resposta foi imediata, cheia de ternura e apoio. Contente por ter dividido a novidade, me acalmei e pude pensar na melhor maneira de contar ao Léo que ele ia ser papai. Tomei o meu café da manhã, comi um macaron, depois mais outro, e... bingo!, encontrei o que eu precisava! A caixinha dos macarons era do tamanho exato do teste de gravidez. Comi tirei todos macarons de la, coloquei o bastonete e deixei em cima da mesa. 

Ao final do dia, Léo me buscou no trabalho trazendo com ele mais um presente (desta vez, um tênis encomendado de Londres que eu estava querendo ha muito tempo), me obrigando a fazer o tipo desconsolada por não ter nada especial para dar em troca. Chegando em casa, preparamos o jantar juntos, como fazemos todas as noites, e so depois do banho é que me deitei no sofa e pedi pra ele pegar a caixinha de macarons que estava em cima da mesa. "Oba, sobremesa!", pensou. Tadinho! Levou alguns segundos para substituir a cara de decepção ao não encontrar nenhum macaron la dentro pela alegria de entender o que diabos aquele pauzinho estava fazendo ali. Expressões que eu nunca vou esquecer (até porque eu tenho isso em video, mas estou guardando para usar em caso de chantagem)!

Dormi como um anjo naquela noite - por me descobrir mamãe, mas também por saber que este ano quem deu o melhor presente de dia dos namorados fui eu.




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